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Não há uma rua única na leitura de um poema
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Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira

Não há uma rua única na leitura de um poema

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Tipo Crônica

Poesia é uma maravilhosa possibilidade de expressão – quem escreve e quem lê poesia (no melhor e mais amplo sentido para o ato de ler texto poético) sabe. Não é uma experiência de vida, mas uma vivência intensa que encanta em todas as suas possibilidades de encantamento. É um respirar. Sístole e diástole em coração sensível.

Há um processo de enfrentamento do poeta consigo mesmo, quando no instante do ato criativo de elaboração da poesia. Esse defrontar-se leva o poeta a vasculhar-se, transitando por um caminho íntimo revelador de suas subjetividades, por onde vai tateando seus desejos, seus temores, suas fortalezas, suas fragilidades. Amores, desamores, saudades, memórias. Não é fácil. Não é simples. Mas a expressão de tudo é poética e sensibilidade.

Há, também, um processo de embate do leitor consigo mesmo, quando aconchegado no momento em que se permite a vivência de estabelecer sua interação com o texto poético, pois o que lê repercute em sua própria subjetividade, a partir daquela que não vem dele, porém tem origem na escrita do poeta.

Há encontro, então, entre os dois mundos, o do escritor e o do leitor. Um encontro nem sempre tranquilo, caso a identificação com o dito no poema lido seja despertador de sentimentos e lembranças incômodos. Mas há também o colóquio perfeito, pleno, quando a sinergia entre autor e leitor é, sem equívoco, cooperativa.

Um poeta, tecendo seu(s) poema(s), é, enfim, revelador. Um leitor, recebendo via poema os nem sempre claros caminhos sugeridos pelo poeta é prioritariamente surpresa. Surpreender-se em trilhas poéticas acende expectativas nem sempre compreendidas em quem lê. Algum espanto pode chegar antes da compreensão a ponto de iludi-la como confirmação.

Talvez não devamos perguntar o que diz um poeta em seu poema, mas o que nos diz um poema naquele momento de diálogo com ele. Um poeta pode oferecer-se em simulacros. O alcance do leitor ao que se abruma em uma escrita poética pode se dá na caminhada por labirintos. Dédalos nem sempre nos mostram explicitamente suas saídas; às vezes nos iludem e nos fazem palmilhar mais e mais seus espaços emaranhados.

Os enredos da vida nos moldam o pensar, o sentir, o transitar pelo cotidiano que nos desafia em suas realidades, enquanto nos sonega as nossas subjetividades. A leitura de um poema pode nos ir guiando silenciosamente por linhas surpreendentes ao nosso encontro com nossa existência interior, sobrepujando o que nos suprime no que há de real no dia a dia.

Um encontro de um leitor consigo mesmo pode significar o deparar-se dele com o próprio poeta – mesmo este não estando ali imediatamente diante daquele. As vias de um poema podem ser tortas.

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