
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira
Sou profundo admirador do silêncio, não sendo raras as situações em que esteja em parceria com ele.
Um dos motivos de permanecer silente pode estar relacionado a uma certa timidez relativamente insistente que muitas vezes me impede de tomar a dianteira nas conversas, ou de assumir vigorosamente meu turno de fala diante do interlocutor ou da interlocutora, dependendo do contexto em que me encontre inserido e das pessoas com quem esteja.
Outro motivo é o desejo de querer saber o que pensa e como pensa outra pessoa que busque algum diálogo comigo, ou que, por outra, já esteja dialogando com alguém em proximidade a mim. Tenho, sim, curiosidade de saber das reflexões dos semelhantes sobre temas que nos dizem respeito, pois, assim, posso avaliar se nossos pensamentos se assemelham ou se divergem. Divergindo, fico estimulado a querer entender o porquê da divergência e, nessa vivência, o silêncio ajuda sobremaneira nas novas ponderações.
Nenhum interesse tenho por questões vazias, sem sentido, apoiadas em argumentações malformadas. Me empenho, no entanto, em saber sobre temas de valor, principalmente aqueles de inevitável impacto na sociedade, estejam eles nos âmbitos em que se localizem, notadamente os abrigados nas áreas da cultura, da política, da economia, sociais. Observar, ver, ouvir para meditar calado me parece algo acertado e justo. Não há como eu falar, me posicionar, sem conhecer, sem saber.
Uma terceira razão, estou quase certo, é gostar de me manter alheio ao mundo das falas, quando desejoso de analisar os entornos sem a sonoridade delas. Nessas horas espreito o cantar de passarinhos em seus ninhos, percebo o movimento das folhas nas árvores, vejo o trânsito de famílias de soins em fios citadinos – quem sabe, para eles, ruas para os galhos das árvores –, observo o aparecimento de flores em jardins, investigo o crescimento de frutos em plantas frutíferas, espio também os movimentos das pessoas e das coisas existentes nos lugares aonde vou e por onde passo.
Também vigio o vento soprando grãos de areia em praias, acompanho o movimento das marés, espio o subir e descer de embarcações pesqueiras tradicionais, confirmo o espumar das ondas do mar, sinto a mansidão do tempo e da existência vicejando no verde expandido nas entranhas do paraíso – aqui sapos coaxam, cigarras lembram Simone, a passarada anuncia o final da tarde. Por que falar em situações assim? Não se deve estragar a beleza da presença da natureza.
Além disso, me ponho em quase profundo silêncio ao me permitir a leitura de um livro. Há muito tempo entendi ser o silêncio o maior amigo da compreensão leitora. Na verdade, o silêncio não se faz absoluto nos instantes de em que leio, posto que questiono mentalmente o significado de palavras, frases, parágrafos, além de fazer anotações quanto a questões surgidas, sejam elas respondidas ou não. Assim, meu silêncio leitor não é passivo; pelo contrário, ele “fala” muito à minha consciência, ao meu espírito, à minha compreensão.
Considero, sim, ser o silêncio, “pedra preciosa” desejada e da qual não se deseja o afastamento. A atitude de manter-se firme na companhia dele pode nos conceder vivências valiosas, como o aprendizado de reconhecer, entre as pessoas com quem nos intercomunicamos, aquelas de espírito elevado, repleto de solidez, portanto, pessoas das quais desejamos estar perto.
Falar demais não significa exatamente saber com propriedade. Infelizmente, nos dias atuais, em que há tantos defendendo o conhecimento sem lastro, estudos limitantes e sem preparo para boa educação, há muitos que falam e nada dizem encantando pessoas que os idolatram – e permanecem subservientes.
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