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Despedida
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Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira

Despedida

Comunicado da agência oficial do Vaticano informou que os últimos momentos de Francisco foram "sem sofrimento e trabalhando". Havia, portanto, tranquilidade, resignação quanto a sua condição orgânica
Tipo Crônica

Nos dias contemporâneos, há relatos abundantes atestando terem várias pessoas previsto e predito sua morte. Há, portanto, de forma bem acessível, informações de amigos, de parentes, de colegas de trabalho destacando que essa ou aquela pessoa afirmou saber estar perto de morrer. Estou acreditando que Francisco, no dia 21 recente, pós-domingo de Páscoa, estava ciente de sua passagem horas depois das celebrações referentes à data.

Francisco, todos sabemos, estava adoecido e mesmo sofria de algumas enfermidades e não deve ter sido difícil a ele compreender a proximidade de sua partida do mundo terreno, diante de seu recente quadro clínico de severo adoecimento pulmonar que o levou a viver longo internamento hospitalar.

Após o retorno a sua casa, no Vaticano, desobedecendo orientações médicas, não fez o repouso recomendado, mas trabalhou enquanto pôde. No domingo, nas festividades da Páscoa, esteve, mesmo que sem descer do carro, entre os fiéis na Praça de São Pedro, beijou e abençoou crianças, abençoou todos que encontrou pelo caminho. Quando falou de seu púlpito tradicional, foi fácil de perceber sua voz quase sumida e sua respiração ofegosa, vacilante.

Comunicado da agência oficial do Vaticano informou que os últimos momentos de Francisco foram “sem sofrimento e trabalhando”. Havia, portanto, tranquilidade, resignação quanto a sua condição orgânica. Penso, sim, que Francisco intuiu, sensível que era, a importância de sua última palavra, de sua última bênção aos fiéis na Praça de São Pedro, de seu último passeio entre eles, abrigado no “papamóvel”, parando aqui e ali, olhando as pessoas, beijando as criancinhas oferecidas a seu gesto carinhoso, atencioso, abençoador.

Francisco se fez homem sapiente e culto e soube apreender dos fatos da vida que a simplicidade nos modos de existir na sociedade faz a vivência da pessoa simples ser mais forte na relação com o Deus reconhecido e consagrado nos ambientes verdadeiramente cristãos. Entendia, também, que a profundidade da Fé em Cristo conduz o ser humano a ser respeitoso, afetuoso, acolhedor, um vivente da palavra de Deus em sua essência, afastando-se dos pensamentos e atos preconceituosos geradores da exclusão de muitas pessoas as quais devem ser amadas “como a si mesmo”.

Arrogantes e preconceituosos o denominaram “comunista”, na ânsia, em vão, de tentar sabotar sua imagem e sua relevância aos católicos e aos cristãos. Seus atos de acolhimento, humildade, seriedade, firmeza e religiosidade o tornaram respeitadíssimo nas mais variadas sociedades existentes no mundo, religiosas ou leigas. Acolheu em suas palavras e ações os mais desvalidos, os mais discriminados, os mais sofridos e desprezados.

Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, se despediu desse mundo terreno investido da simplicidade que escolheu para ser o mister de seu pontificado, vivendo-o sob a inspiração do Francisco a quem homenageou com a escolha do nome e por meio da prática de consagrar amor às pessoas, aos bichos, às plantas, à natureza, enfim, e ao esclarecer, em testamento, que após sua morte os funerais fossem da forma mais simples possível.

Francisco, fisicamente, se despediu do povo para o qual foi eleito para o conduzir em caminhos mais humanos, mais pacíficos, mais cristãos. Francisco, o Papa, renovou e inovou sua Igreja e deixou um legado a nunca ser desconsiderado. Ele se despediu desse plano de existência, mas não deve ser exonerado do cotidiano das pessoas cristãs. Suas ideias de respeito e amor ao próximo não devem ser dispensadas, subvertidas, esquecidas, mas vividas em intensidade.

Que assim seja!

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