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Avanços e desafios no acesso dos povos indígenas ao ensino superior
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Reitora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), é graduada em Ciência da Computação, mestrado em Engenharia Elétrica, pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), doutora em Engenharia Elétrica e da Computação, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Pós-Doutorado, no Massachusetts Institute of Technology (MIT/EUA)

Avanços e desafios no acesso dos povos indígenas ao ensino superior

.A adaptação ao ambiente acadêmico, muitas vezes distante das suas realidades culturais e geográficas, é uma dificuldade comum. O preconceito e a falta de políticas mais abrangentes de apoio à diversidade também representam obstáculos

O crescimento da presença de estudantes indígenas nas universidades brasileiras é um marco importante na luta por justiça social e inclusão educacional. Dados do último Censo do IBGE e do Censo da Educação Superior do INEP, divulgados no ano passado, revelam um aumento de 374% no número de indígenas matriculados no ensino superior entre 2011 e 2021. Nesse período, o número de matrículas passou de 9.764 para 46.252, um progresso que deve ser evidenciado como resultado de políticas públicas bem-sucedidas, desenvolvidas ao longo das últimas décadas.

Esses avanços só foram possíveis graças à luta histórica de movimentos sociais, especialmente os movimentos negro e indígena, que pressionaram por mudanças significativas nas políticas de acesso ao ensino superior.

A Lei de Cotas é um desses marcos fundamentais, ao garantir a reserva de vagas para estudantes indígenas e outros grupos ao ensino superior. As políticas de ações afirmativas são essenciais para a promoção da equidade no acesso à educação superior. Elas contribuem para a entrada dos povos indígenas nas universidades. No entanto, é preciso possibilitar que esses estudantes permaneçam e concluam seus cursos, superando desafios que vão além das barreiras econômicas e incluem questões culturais e sociais.

A adaptação ao ambiente acadêmico, muitas vezes distante das suas realidades culturais e geográficas, é uma dificuldade comum. O preconceito e a falta de políticas mais abrangentes de apoio à diversidade também representam obstáculos.

Torna-se imprescindível que as universidades brasileiras não se limitem apenas a oferecer vagas, mas que integrem as culturas e os saberes indígenas em seus currículos e práticas pedagógicas. A universidade deve ser um espaço de troca e valorização das múltiplas formas de conhecimento, respeitando e incorporando a diversidade que os povos indígenas trazem consigo.

No final de setembro, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte concedeu, pela primeira vez em sua história, o título de Professor Honoris Causa a uma liderança indígena, o Cacique Luiz Katu, ressaltando a importância de reconhecer e apoiar as lideranças indígenas que têm se destacado na luta pelos direitos de seus povos. A resistência de figuras como o Cacique Katu, que enfrentam ameaças constantes por defenderem seus territórios e culturas, demonstra a urgência de uma maior articulação entre as universidades e os povos indígenas.

O aumento do número de estudantes indígenas nas universidades é somente o início de um processo mais amplo de inclusão e reparação histórica. É necessário que essas conquistas sejam constantemente reforçadas e ampliadas, garantindo que o direito à educação seja plenamente exercido por todos, incluindo os povos indígenas.

A luta pelos direitos indígenas no Brasil, como demonstrado pelo exemplo de Luiz Katu, é um dever de toda a sociedade. Precisamos seguir firmes na defesa dessas conquistas, garantindo que o acesso à universidade seja um direito de todos e que a presença dos povos originários nas instituições de ensino seja cada vez mais fortalecida.

 

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