É mestra em Sociologia Jurídica pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora em Sociologia pela Sorbonne, Université René Descartes (Paris V). Criou e coordenou a Especialização em Gestão Cultural e o Mestrado Profissional em Gestão de Negócios Turísticos da UECE, onde é professora. Foi secretária municipal de Cultura e Turismo do município de Aracati (CE), superintendente do SENAC no Ceará (2001-2002) e secretária da Cultura do Estado (2003-2006). Foi responsável pela criação da Secretária da Economia Criativa do Ministério da Cultura. Atualmente, dirige o Observatório de Fortaleza do Instituto de Planejamento de Fortaleza (IPLANFOR)
Diante dos resultados das eleições, impossível não retomar a ironia de Machado e as provocações de Schwartz, o que nos leva a relativizar vitórias e, sobretudo, a refletir sobre o significado das "batatas"
Foto: IANA SOARES
Cláudia Leitão, professora da Uece e sócia da Tempo de Hermes Projetos Criativos
Escrevo esse artigo em seguida ao anúncio do resultado do segundo turno das eleições municipais no Brasil. O espaço que disponho no jornal é inversamente proporcional à alegria que sinto com a vitória de Evandro Leitão (PT) à prefeitura de Fortaleza.
Ao longo da apuração, a figura de Rubião me veio várias vezes à cabeça, o herói machadiano que vai à cidade grande, em busca da realização de seus sonhos, mas que acabará sendo devorado por ela, por não ser capaz de desvendar seus códigos, representados pelo enigma filosófico que o amigo Quincas Borba lhe havia deixado como herança: "Ao vencedor, as batatas!": "Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição.
A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas.
Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".
Em 1977, Roberto Schwartz publicou "Ao vencedor, as batatas: Forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro", enfatizando a disparidade existente entre a sociedade brasileira escravista e as ideias do liberalismo europeu.
Sua crítica extrapola o domínio literário e nos instiga a pensar o Brasil a partir da ambiguidade ideológico-moral entre o ideário burguês e a cultura autoritária e paternalista da sociedade, assim como de seus impactos na estrutura e funcionamento das instituições.
Diante dos resultados das eleições, impossível não retomar a ironia de Machado e as provocações de Schwartz, o que nos leva a relativizar vitórias e, sobretudo, a refletir sobre o significado das "batatas".
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.