Jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Desde 1991, atua nas redações dos principais jornais cearenses. Trabalha no O POVO desde 1995. Passou pelas editorias Cidades (como repórter e editor), Ciência & Saúde (repórter), editor de Primeira Página, Núcleos de repórteres especiais e de Jornalismo Investigativo e Núcleo Datadoc, de jornalismo de dados. Hoje, é repórter especial de Cidades. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, incluindo nacionais e internacionais
Ao lado do leito hospitalar, as rezas e as incorporações de Nego Gérson, Sete Encruzilhadas, Preto Velho e outros exus e entidades divinas foram determinantes, além dos medicamentos, para trazer a mãe de santo Vanessa da Costa Lima de volta à vida. A saúde segue sob cuidados. O preconceito também lhe persegue neste plano terreno
Foto: Samuel Setubal
MÃE Vanessa, 45 anos, ialorixá desde os 19. Em 2014, esteve em coma por 45 dias
Mãe Vanessa, 45, é preta, pobre, gay, umbandista, rezadeira, mãe, avó. Concluiu o 2º grau, hoje ensino médio. Está no perfil de muitas. Neste combo, o preconceito dos que não respeitam está sempre a sombrear sua rotina. Mas releva a situação com altivez: "Eu sou assim e acabou-se. Independente do que você ache de mim ou não". É forte, protegida espiritualmente, mesmo que a saúde lhe fraqueje o corpo.
É mãe de santo desde os 19. Ialorixá é posto de fé de alto grau, sacerdotisa, guia de sua gente. Vanessa da Costa Lima foi criada em terreiro. É filha de "macumbeiros" - que usam pejorativamente. Em vez de se retrair, banhou-se nas sabedorias africana e indígena.
Foi incentivada a desenvolver seus dons. Aos 14, já lia destinos no baralho. Aflorou as habilidades, fez "os cruzos" das sete linhas (o Anjo da guarda, Ogum, Oxossi, Preto Velho, Xangô, os Erês, Exu) até o batismo. É médium vidente e inconsciente.
"É uma missão", define. Na umbanda, tem a ponte direta com pretos-velhos, caboclos, orixás, índios, exus, pombas-giras, os erês, mães, malandros, a força das folhas e cheiros. Orienta caminhos pelas cartas - de onde obtém sua renda. Às segundas-feiras, faz noites de gira ou de "desenvolvências" dos filhos de santo.
A entrega e mergulho na vida dos outros lhe cobra dores. O acumulado de energias alheias que destrava lhe custam a própria saúde. Onze anos atrás, mãe Vanessa esteve em coma. Por 45 dias. Mazelas diagnosticadas na mesma internação: aneurisma cerebral, meningite fúngica, neurotoxoplasmose e diabetes.
Final de 2014, Vanessa tinha ido visitar o filho Willamy, no interior do Amazonas (morava à época com uma tia), foi tomar banho numa nascente. Ingeriu água contaminada do local. De volta a Fortaleza, dores de cabeça agudas, incessantes. Deitou-se numa rede, de lá foi para o hospital. Entrou em coma. Pelos exames, tinha sido o mergulho no igarapé.
Um dos médicos recomendou aos familiares que desligassem a aparelhagem que a mantinha viva. Não via chances. Vanessa diz ter visto o umbral, o ambiente em que vagueiam os espíritos inferiores. Hoje, a crença é que ela não foi salva apenas com a ação medicamentosa. O sagrado foi determinante.
Em todo aquele tempo internada entre UPAs e o Hospital São José, mãe Vanessa teve seu nome posto em mesas de cura, muitas realizadas dentro do HSJ. O pedido era com a presença de Nego Gerson, Mestre Maximiano, Mestre Manoel de Almeida, pretos velhos de benquerença, ervas, folhas, essências e pensamentos.
Pai Alex de Tia Maria e três filhos de santo de Vanessa se reuniam, recebiam as entidades mediunicamente e pediam pela recuperação da paciente. Duas rezas ainda em casa. No HSJ, ao lado do leito 73, enfermaria 120, unidade C.
"Foram nos 45 dias que ela ficou internada, todo santo dia", confirma Juliana Silva, 32, sua filha de santo mais antiga, que participou daqueles ritos.
Os medicamentos ainda "são dez por dia", mas Vanessa conta a história como controlada. Tem sequelas, como falhas de memória ou a dicção um pouco arrastada, mas entende o momento como superado.
É cercada de seus filhos de santo e suas barreiras protetoras: fé e afeto. Está casada há seis anos com Régia. O Centro Espírita de Umbanda Rei Salomão (@ceu.reisalomao) fica na rua Rosinha Sampaio, 2.088, bairro Jardim Guanabara.
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