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O fenômeno Marçal e a antipolítica
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Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa

O fenômeno Marçal e a antipolítica

O bolsonarismo e sua gramática de produção permanente de conflitos parece amarelar diante dos movimentos de personagens como Pablo Marçal. Os debates eleitorais são sumariamente desprezados em nome de uma dinâmica voltada para a visibilidade de cortes para as redes sociais
Tipo Opinião

A campanha pela Prefeitura de São Paulo do coach Pablo Marçal sintetiza um quadro que vem ganhando corpo na política contemporânea. Um panorama que extrapola o embate entre direita ou esquerda e não está restrito a maior cidade do país. A linguagem, estratégia e sinalizações dessas candidaturas revelam um modus operandi bem característico. Não se trata apenas de se colocar como avatar folclórico ou mesmo antissistema. Tais figuras, advindas da ciberesfera estão empenhadas em mobilizar adeptos visando degradar o sistema político, colocando-se como redentores da opinião pública nacional.

O bolsonarismo e sua gramática de produção permanente de conflitos parece amarelar diante dos movimentos desses novos personagens. Os debates eleitorais são sumariamente desprezados em nome de uma dinâmica voltada para a visibilidade de cortes para as redes sociais. A construção e propagação de fake news ganharam uma escala nunca vista. Os acordos com a política tradicional são feitos e desfeitos na velocidade de um clique. A cobertura da grande imprensa é tripudiada.

Não há qualquer preocupação com apresentação de proposta para a cidade ou mesmo uma agenda ideológica. Os planos de governo são arremedos que parecem ter saído de comentários de blogs toscos. A política é vista como uma extensão caricata do universo da internet. É o apogeu da deep web. O que importa é a relação direta com os memes, trends e curtidas. A lógica de relação com os partidos, a dinâmica parlamentar ou mesmo os ritos da Justiça Eleitoral são sumariamente esquecidos ou achincalhados.

Alguns analistas se apressam em denominar tais candidaturas de novíssima extrema direita, uma vez que radicalizam o papel do mercado empreendedor. Na verdade, os protagonistas desse teatro fogem das polêmicas de pauta. O objetivo é lacrar e monetizar diariamente.

O aparato da Justiça Eleitoral parece não conseguir acompanhar essa articulação frenética. Para piorar, os demais candidatos, com receio de perder espaço e aliados, acabam aderindo ao modelo. O resultado das urnas nos dirá o tamanho real do fenômeno Marçal. De qualquer forma, sem a regulamentação e fiscalização dessa interface entre campanhas e redes sociais, a comunicação política ganha outros contornos, muito mais próxima da antipolítica e abertamente antidemocrática. n

 

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