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O cafezinho e a popularidade de Lula
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Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa

O cafezinho e a popularidade de Lula

Enquanto a inflação oficial opera dentro da meta e o governo desenha uma nova reforma ministerial, a carestia do dia a dia segue pressionando os lares brasileiros
Tipo Opinião
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL 20-03-2024: Preço dos alimentos impacta na popularidade de Lula (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL 20-03-2024: Preço dos alimentos impacta na popularidade de Lula

O governo Lula enfrenta uma encruzilhada política. A economia brasileira avança em vários indicadores, mas a percepção popular não reflete os dados positivos. A razão principal? O peso do custo de vida no bolso do cidadão comum.

Nos últimos meses, o governo celebrou o crescimento acima das previsões, mas a realidade cotidiana não autoriza qualquer euforia. O brasileiro sente no supermercado o impacto da alta nos alimentos — grande vetor de consumo da renda doméstica. Segundo o IPCA de 2024, os preços ficaram 7,7% mais caros em relação a 2023. O vilão da vez é o café - alta de quase 50,35% nos últimos 12 meses. Esse aumento não é um detalhe qualquer. O Brasil, maior produtor mundial do grão, tem no café um símbolo da rotina nacional. E, politicamente, isso importa.

Enquanto a inflação oficial opera dentro da meta e o governo desenha uma nova reforma ministerial, a carestia do dia a dia segue pressionando os lares brasileiros. A valorização recente do real não foi suficiente para aliviar o custo de importação de insumos essenciais, e o clima adverso reduziu a oferta de produtos agrícolas. No fim das contas, o trabalhador ganha pouco e gasta muito. O custo de vida se impõe como um filtro implacável na avaliação política - impacto sentido principalmente entre as famílias mais pobres. Esse sentimento (junto a outros fatores) já reflete nas pesquisas.

Em janeiro de 2025, a taxa de desaprovação do presidente se aproximou dos 52% (AtlasIntel). Sinal claro de alerta. O desafio do governo é transformar crescimento econômico em melhora perceptível para a população. O desemprego caiu para 6,1%, o menor nível em uma década, mas de que adianta mais empregos se o salário mínimo tem poder de compra limitado?

Para Lula, o risco não está apenas na inflação oficial, mas na inflação psicológica — aquele sentimento coletivo de que o dinheiro já não rende como antes. E quando até o café da manhã pesa no orçamento, a insatisfação se espalha como um aroma amargo pela sociedade. Se quiser reverter a curva da popularidade, o governo precisará mais do que boas estatísticas. Será preciso enfrentar a carestia com medidas concretas, conter a pressão sobre os preços e devolver à população a sensação de que o Brasil não cresce apenas nos números, mas também no prato e na xícara do trabalhador.

 

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