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Dialogar fora da bolha
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Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa

Dialogar fora da bolha

O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), propõe uma autocrítica necessária - e corajosa - a um campo político que, muitas vezes, se comunica apenas com os seus e resiste a escutar os diferentes
Tipo Opinião
Wellington Dias, Elmano de Freitas e Luiz Marinho (Foto: JoaoFilho Tavares)
Foto: JoaoFilho Tavares Wellington Dias, Elmano de Freitas e Luiz Marinho

A entrevista do governador Elmano de Freitas à revista Veja (21/03/2025) lança luz sobre um dos desafios mais urgentes da esquerda brasileira: a necessidade de dialogar para além da sua base tradicional.

Ao afirmar que "o PT precisa deixar de falar apenas para a bolha", Elmano propõe uma autocrítica necessária - e corajosa - a um campo político que, muitas vezes, se comunica apenas com os seus e resiste a escutar os diferentes. Romper com a bolha significa abrir canais de diálogo com diversos segmentos da sociedade: o empresariado, os evangélicos, as periferias não organizadas, os setores médios inseguros e os jovens urbanos.

Representa, sobretudo, tratar com seriedade os temas que mais angustiam a população - como é o caso da segurança pública, que afeta diretamente a rotina dos brasileiros e é facilmente manipulado por lideranças da extrema direita.

Não dá mais para abordar a pauta da segurança como um tema desconfortável ou que deve ser evitado. O medo das pessoas é real. A criminalidade impacta a vida cotidiana, especialmente das populações mais vulneráveis, que muitas vezes ficam reféns dos tentáculos das organizações criminosas.

A esquerda precisa encarar esse problema com responsabilidade, apresentando propostas concretas que articulem prevenção, inteligência policial, policiamento comunitário e políticas sociais eficazes. Sem soluções fáceis, mas também sem omissão.

Elmano, ao governar um estado que enfrenta desafios complexos na segurança, sabe que não se trata de ceder a narrativas simplificadoras, muito comuns no universo virtual, mas de assumir o compromisso de proteger vidas com justiça e firmeza. É uma agenda que exige escuta ativa, articulação interinstitucional e presença territorial do Estado.

Mais do que nunca, a esquerda deve se reconectar com a vida concreta das pessoas. Em outras palavras, compreender suas demandas, medos e esperanças. A tarefa não é fácil e envolve, principalmente, construir um discurso inclusivo, com linguagem acessível e compromisso com resultados.

A democracia se fortalece quando há diálogo verdadeiro — e esse diálogo exige sair da bolha ideológica. O convite feito por Elmano de Freitas é, além de um alerta, um chamado à responsabilidade política. O Brasil real está falando. Cabe às forças progressistas ouvir — e agir! n

 

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