Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa
Foto: ADOBESTOCK
CAPA - Modernidade ou precarização? Trabalho "flexível" impacta a saúde mental dos brasileiros
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), criada em 1943 durante o governo de Getúlio Vargas, representou, por décadas, o eixo central de um pacto trabalhista que reconhecia o trabalho como base da construção social brasileira. Em um país forjado por profundas desigualdades, a CLT emergiu como símbolo de civilidade e amparo institucional, assegurando direitos que estruturaram a cidadania do trabalhador. Contudo, passados mais de 80 anos, essa mesma CLT passa a ser confrontada por uma juventude que a rejeita — não apenas como norma jurídica, mas como projeto de futuro.
Dados recentes revelam uma queda acentuada na ocupação formal entre jovens de 18 a 24 anos. Há cada vez mais um descompasso geracional que não pode ser ignorado. De um lado, jovens mais escolarizados, hiperconectados e culturalmente globalizados. De outro, um modelo de trabalho que se mostra arcaico, excludente e pouco atrativo.
Entre esses dois polos, instala-se um sentimento difuso de inadequação: o mundo do trabalho formal não entrega o que promete — e, por isso, é recusado. A CLT, antes vista como conquista, agora aparece como um símbolo de um mundo que não se atualizou. Não se trata aqui de romantizar o passado ou de defender a CLT como um fetiche legal. Trata-se de reconhecer que seu esvaziamento simbólico — diante da precarização real — tem produzido um hiato perigoso entre juventude e projeto nacional. Abandonar esse pacto — sem propor outro — é abrir espaço para a desproteção, informalidade agressiva e adoecimento silencioso de uma geração inteira.
O que está em jogo é a redefinição do valor do trabalho na vida social. A juventude não está dizendo que o trabalho não importa. Está dizendo que ele precisa fazer sentido. E, para isso, não basta uma carteira assinada. É preciso reconfigurar o trabalho como espaço de criação, autonomia e dignidade. Enquanto o país seguir oscilando entre reformas que desmontam o Estado e narrativas que individualizam o fracasso, veremos crescer uma juventude que rejeita o que não entende — ou o que não a protege. Reverter esse quadro exige escuta ativa, reconstrução institucional e coragem para propor um novo pacto geracional. Porque o futuro do trabalho terá de nascer do diálogo entre direitos históricos e novas formas de viver. E disso, a juventude não abre mão.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.