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Essas filas pra Caetano e Bethânia dizem muito
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É editor de cultura e entretenimento do O POVO. Sua coluna, publicada todos os dias, trata de economia, política e costumes a partir de personagens em evidência no Ceará, no Brasil e no mundo.

Clóvis Holanda comportamento

Essas filas pra Caetano e Bethânia dizem muito

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Rodrigo Maia: Lago de Colmo antes da Semana do Design de Milão (Foto: arquivo pessoal)
Foto: arquivo pessoal Rodrigo Maia: Lago de Colmo antes da Semana do Design de Milão

Não posso garantir...

..., mas algo me diz que há, no cenário da música nacional, uma contra-reação aos últimos anos de "vazios" produtivos e significativos no cancioneiro popular brasileiro.

Foi muito "bumbum-tantam", pisadinhas e sofrências "tiktokizadas" - todas na profundidade de um pires - para períodos profundamente desafiadores, como os recentes enfrentamentos da pandemia e a instalação sócio-afetiva da polarização política nos gabinetes, parlamentos e, pior, nas famílias, todos com suas dramáticas repercussões.

A música, além de expressão artística universal, capaz de unir povos em torno de uma mesma mensagem (vide festivais), será sempre "o barulho que pensa" (Victor Hugo); "a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende" (Arthur Schopenhauer); "reflexo da sinceridade" (Heitor Villa-Lobos).

Acontece que, no afã de escapar de capítulos difíceis da realidade - não estou aqui em busca de culpados -, a indústria da audiência direcionou todos os esforços para a festança irreflexiva e suas lives, que atuavam como transes compartilhados à distância, escorrendo álcool, angústias e insônias ao som da saudosa Marília Mendonça.

Daí que, pouco tempo depois, estamos nós hoje a ver um verdadeiro levante dos grandes nomes que construíram a história das últimas décadas da MPB, a começar por Caetano Veloso e Maria Bethânia lotando estádios de futebol e se apresentando em programas de massa da Globo como o hype da vez.

Ao mesmo tempo, casas de show, a exemplo do recém-inaugurado Iguatemi Hall, trazendo artistas como Simone, Paula Toller, Alceu Valença, Lulu Santos... para cantar os versos - de sempre - que deixaram de ser entoados, pensados, propostos, internalizados nos momentos mais recentes de colapso e dor.

Bateu-me forte isso noite da última sexta-feira, no Teatro do RioMar, durante o show "Saudades do Brasil - Marcos Lessa canta Elis Regina". O foco era uma ode à estrela da MPB, entregue em excelência pelo artista, mas o uso da expressão "Saudades" no título do espetáculo, provavelmente inspirada no álbum "Saudade do Brasil" (1980), fez igualmente muito ou até mais sentido numa visão holística do atual momento.

A plateia, praticamente lotada, acompanhava o cantor em letras e melodias dos anos 60, 70, 80, com absoluto vigor de novidade. Em algumas delas, se fazia até necessário um certo esforço personalizado de transferência e conexão, mas para outras, como em "Alô, alô marciano", fica tão óbvio o encontro - mágico - dos anseios indizíveis com a canção.

As manchetes do O POVO, edições de ontem e anteontem, destacam março com o maior número de homicídios desde 2020 no CE e o mundo em alerta após o ataque de Irã a Israel no último sábado. Para os casos em que nós, cidadãos comuns, não temos como intervir, qual saída mais reconfortante do que pedir ajuda aos ETS, lembrando, em sonoro SOS, que, "Pra variar, estamos em guerra/ Você não imagina a loucura/ O ser humano tá na maior fissura...".

Desculpa turma da noite e seus encantos ultra-efêmeros, mas o atual viral "Casca de Bala" (Thullio Milionário), com suas mais de dez milhões de visualizações só no YouTube, pode até fazer muita gente "levantar do sofá", assim como hits correlatos, mas não se configura como a linguagem ancestral, comunicacional e sentimental fundada nos primeiros experimentos do homo sapiens, um verdadeiro elo entre humanos.

Esse "bafafá" do agro-showbusiness é outra "língua" que, pelo visto, não conseguirá ser hegemônica - graças! E é por isso que, caso eu não estivesse enfiado na virose das chuvas, iria hoje à noite ao badalado pub Hoots (Desembargador Moreira), ver o músico André Frateschi, vocalista da Legião Urbana, cantar:

"Todos os dias quando acordo/ Não tenho mais o tempo que passou/ Mas tenho muito tempo/ Temos todo o tempo do mundo", e lembrando ainda, no rock clássico "Tempo Perdido", que "Nosso suor sagrado é bem mais belo que esse sangue amargo".

Flores... sem nostalgia, mas com lances da realidade.

Entre amigos

Ney Barroso Filho, Socorro Acioli, Rodrigo Jereissati e Wanessa da Matta(Foto: arquivo pessoal)
Foto: arquivo pessoal Ney Barroso Filho, Socorro Acioli, Rodrigo Jereissati e Wanessa da Matta

De passagem por Fortaleza, onde cantou para multidão na Praia de Iracema, durante show comemorativo pelos 298 anos da Capital, Wanessa da Matta reservou um tempo, como sempre faz, para reencontrar seus amigos cearenses. Assim, teve almoço no restaurante Santa Grelha, articulado pelo requisitado advogado Rodrigo Jereissati. Também à mesa, o arquiteto, urbanista e agitador cultural Ney Barroso Filho e a premiada escritora cearense Socorro Acioli, da leva dos escribas que enchem de orgulho José de Alencar, Rachel de Queiroz e tantos outros nomes que repousam na Biblioteca da Eternidade.

Zoom

Na Itália, para a aguardada Semana de Design de Milão, o arquiteto Rodrigo Maia, reconhecido por seus projetos de interiores, numa pegada quase sempre modernex-deluxe, mesclando o que há de mais atual no mundo da ambientação a clássicos do design e da arte mundial.

Antes de seguir para uma das capitais mundiais da moda, onde acontece o esperado megaevento, relaxou com amigos às margens do Lago de Colmo, onde está instalado o Il Sereno, um desses paraísos internacionais incrustados em meio à exuberância natural, que disputa olhares com a ousadia arquitetônica, no caso, saída das pranchetas de Patrícia Urquiola. Na foto, traja dourado Moncler. Bag "LV" arremata.

Elis Regina vive!

Muito prestigiado, noite da última sexta-feira, o show do cantor Marcos Lessa em homenagem a Elis Regina, já detalhado no texto de abertura dessa coluna. Destaque para homenagens que o artista prestou a familiares e apoiadores, como o empresário Pio Rodrigues Neto, a quem dedicou uma das canções do repertório. Seguem cenas... mas fotos em @pauseopovo, perfil da coluna no Instagram e na página especial de domingo.

Últimas...

Feliz aniversário, desde já, ao nosso Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, que completa esse mês 25 anos de atuação. No que pesem as dificuldades estruturais que prédio e entorno vivem atualmente, segue sendo um símbolo máximo e ativo da cultura e da arte cearense. Estado, Prefeitura e iniciativa privada unam-se por uma de nossas joias identitárias e urbanas, em boas mãos ele está, Helena Barbosa, movida à coragem e coração.

Estilista Cândida Lopes lança na tarde dessa quinta-feira, dia 18, início às 16h, a coleção "Tá Bonito Pra Chover", à altura do número 660, na Rua dos Tabajaras. Pocket show de Mel Mattos, cantando Dominguinhos, sonoriza o momento.

Durante a outorga da Medalha Boticário Ferreira ao deputado federal André Figueiredo, na Câmara Municipal, mulheres de movimentos sociais iniciaram movimento nas redes sociais pela indicação da advogada Katarina Brazil como vice do prefeito José Sarto. Ela é filiada ao PSDB, que compõe a base do gestor.

Depois da lista de presentes em lojas, dos sites simulando presentes (nos quais os convidados fazem transferências em dinheiro "encenando" a aquisição), noivos foram além: há convites sendo enviados com QR para pix. O bom senso e a educação já eram.

Até amanhã

 

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