Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
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Clique abaixo para ouvir a crônica:
Um dia desses escrevi sobre a agonia que os pais sofrem quando os filhos adoecem. Na ocasião, disse que diante da dor do ser amado, oramos pedindo a graça da transferência imediata de tudo para nós, numa penitência antecipada e contratada sem troca.
Rogamos a cessação do infortúnio e rezamos para sermos os sucessores dos males, em uma aceitação espontânea dos martírios alheios. E acolhemos as agonias, abrigamos as aflições e nos doamos a qualquer sacrifício em nome e substituição àqueles a quem amamos.
É interessante que tenha recebido relatos de pais e mães que vão além dos pensamentos e desejos, chegando a ações que, se analisadas racionalmente, não têm sequer lógica. Mesmo assim, são realizadas com toda a força e absurdidade como só as coisas do coração podem ser feitas.
Um pai disse que quando recebia do pediatra a requisição de exame de sangue, também pedia um para si, mesmo sem precisar. É que ele não se conformava em ficar apenas ao lado da filha durante a coleta, nem se sentia verdadeiro ao afirmar que não doeria nada.
Preferia que a filha o visse enfrentar primeiro a invasão das veias e o sangue ser transferido para os tubos de ensaio. Ele assegura que ela, mesmo com medo, se submete com maior aceitação ante a cumplicidade voluntária.
Outra mãe se preocupa em arranjar alguma vacina para tomar na mesma hora que seus filhos. O raciocínio é o mesmo: se eles vão tomar, eu também tomo, em uma solidariedade sem muito efeito prático mas, segundo ela, essencial para formar conexões e memórias de afeto.
Um pai me confidenciou que, ao acompanhar um filho numa internação hospitalar, quedou-se ao seu lado noite e dia, fazendo questão de se submeter à mesma dieta e jejum para os exames e medicação. Disse ele que não poderia pedir paciência e resignação ao filho se não conhecesse, por ele mesmo, os incômodos que ele estava passando.
Chegou até pedir, mas não foi autorizado, que também fosse submetido a endoscopia e tomografia tão somente para poder relatar ao filho as sensações, no entendimento que, se antecipasse as agonias, poderia minorar sua ansiedade e temor.
Pode-se até pensar que esses pais estão superprotegendo os filhos e que nem sempre poderão estar presentes nos momentos de desafios, angústias ou mesmo dores. Outros dirão que atitudes como essas formam uma geração mimimi e adultos frágeis e sem autonomia.
Para alguns, os sofrimentos forjam o caráter, as dificuldades criam resistências, as aflições trazem autossuficiência e alguns ainda se orgulham de terem recebido surras de cinturão e estarem vivos e bem-criados.
Quem sabe essas racionalizações das dores e afrontas sejam apenas mecanismos de defesa que sirvam tanto como uma espécie de absolvição dos erros paternos, como justificativa dos próprios. Quem sabe seja uma simplificação da complexidade das relações familiares de poder, por vezes abusivas e humilhantes. Que sabe essas fundamentações sirvam como cobertura de mágoas nunca completamente sanadas.
Na verdade, nunca saberemos a maneira ideal de criar filhos, sendo certo que todos os exageros guardam seus equívocos, assim como as negligências geram inseguranças e sensações de desamparo.
Quem sabe possamos nos guiar sempre com a indagação se essa ou aquela atitude fortalece os laços, amplia a empatia e potencializa a confiança, educando os filhos com exemplos que vão muito além de meras palavras de fé ou sussurros de apoio.
Quem sabe assim, nos desafios e sacrifícios que envolvem a parentalidade, surjam os vínculos sagrados que apenas os corações compreendem.
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