
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
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Pode ser difícil de acreditar, mas devo ser um dos poucos com mais de cinquenta anos que nunca frequentou certos ambientes profissionais. Não que tenha preconceito com quem gosta ou com quem lá trabalha, mas jamais achei que precisasse desses serviços que dizem ser tão antigos quanto a humanidade. Acho intimidade demais, sei lá.
O fato é que tive minha primeira experiência. Nunca pensei que um dia cruzaria as portas de um salão de beleza feminino, mas não teve jeito.
A questão foi que, sabe-se lá como, a unha do meu indicador direito começou a latejar devido a uma lasca de cutícula encravada. Tentei resistir por uns quatro dias, esperando que a lasca saísse por pura pena de mim, mas só piorou. Nunca imaginei que uma coisinha à toa dessas pudesse virar protagonista do meu dia.
Tudo doía. Quem diria que segurar uma escova de dentes pudesse ser uma agonia? Tentei escovar os dentes com o polegar e o dedo médio, mas a cada movimento cutucava a bochecha com a ponta do dedo inflamado (aiaiaiai). Pensei em engolir a pasta de dentes, mas é claro que apenas o meu estômago ficaria com bom hálito. A solução foi bochechar um antisséptico bucal e azar de quem chegasse perto.
Na cozinha, preparar o café virou um desafio olímpico. Abrir o pote de café, segurar a colher, apertar o botão da cafeteira... tudo parecia impossível. Pensei em encher a boca de leite e colocar o pó direto na boca, chacoalhando tudo, mas logo descartei a ideia.
Alguém já tentou abotoar a camisa sem os dedos indicadores? Puxar um zíper? E calçar meias? Fazer nó de gravata, nem pensar. Encontrei uma borboleta do tempo do bumba e fiquei a cara do Seu Barriga no baile de gala em Acapulco. Até apertar o botão do elevador e o de partida do carro foi um tormento.
No trabalho, teclado e mouse viraram ferramentas de tortura. Cada clique, cada tecla pressionada, uma nova onda de sofrimento. "Deve existir uma maneira de digitar com o cotovelo". Tentei, mas não deu certo.
Cada movimento para ajustar o celular na orelha parecia uma punição divina. “Alô? Sim, sou eu, o sofredor”. E, claro, surgiu todo tipo de coceira que só o indicador resolve.
O almoço foi uma comédia à parte. Tentei comer com a mão esquerda e me vi rememorando os tempos em que usava babador. O arroz caía, o feijão espirrava, e a carne parecia uma rocha intransponível. "Sopa teria sido uma escolha mais inteligente", refleti.
Ao final da tarde, sucumbi. Tive que procurar um profissional digital. Deve ser assim que se chamam os profissionais que cuidam dos dedos. “Dedólogo” é que não é.
“Aqui só tratamos de pés”, me disse secamente um podólogo por telefone. Seu breve suspiro de susto e a entonação me fizeram crer que solicitar socorro para meu dedo tinha destratado gerações de profissionais dos pés.
Então, fui a um salão perto de casa à procura de uma manicure habilidosa. Por destino, escolhi ir bem no dia de um casamento importante. Estava lotado. O ambiente era alegre, mas tenso, com música animada, aromatizante em dia e uma circulação intensa de homens, mulheres e mocinhas em suas cadeiras, secadores e escovas ao meio de muito falatório.
Explicaram que o dia era especial e todas estavam muito ocupadas, sendo impensável parar tudo por conta de um dedo. Acabei pagando o pacote completo “Pai do noivo”.
Saí com cabelo cortado, hidratado e nutrido, com “camuflagem de fios brancos”, barbeado a navalha, pelos do nariz aparados e depilado no peito. Fiz limpeza de pele com máscara facial, tratamentos antienvelhecimento e ainda recebi dicas de cuidados pessoais e grooming, seja lá o que isso for.
E o principal, podendo cutucar o nariz com o indicador.
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