
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Hoje acordei com uma missão: renovar minha carteira de identidade, fruto da nova Lei Geral de Proteção de Dados. Todos teremos que integrar nossos dados de identificação nesse documento, que agora contém CPF, certificado de reservista, PIS, título de eleitor e até o tipo sanguíneo. Resolvi fazer logo, antes que as filas se transformem em caracóis gigantes e intermináveis.
O primeiro inconveniente foi passar algum tempo "pastorando" o aplicativo da Casa do Cidadão e tomando cuidado para não agendar o serviço errado, já que as vagas acabam cedo. Mas, no fim, deu certo.
Confesso que a perspectiva de passar a manhã em uma repartição pública era tão animadora quanto assistir a tinta secar em um muro, em um dia de chuva. Pensei em levar um bom livro, um lanchinho, e talvez até acampar por lá. Afinal, quem sabe quanto tempo levaria para conseguir ser atendido? Isso, claro, na hipótese de ser atendido.
Cheguei cedo, pronto para enfrentar o dragão burocrático. Já esperava o de sempre: um edifício antigo, com paredes amareladas pelo tempo, e uma fila que parecia ser a da sopa. Para minha surpresa, o cenário era exatamente o oposto. Encontrei um ambiente limpo, claro, moderno, com cadeiras confortáveis, painel de senhas e servidores olhando para os clientes. Confesso que pensei estar no local errado, mas era lá mesmo, bem no meio de um shopping moderno.
Mas não era possível que tudo funcionasse tão bem. Atendentes olhando para quem precisa de seus serviços? Não, aquilo era demais. As aparências enganam. Já já vai acontecer alguma coisa - pensei. Vão me pedir documentos não informados, como o batistério com firma reconhecida, ou algo assim. Respirei fundo e me posicionei na fila, já aceitando meu destino de passar o dia ali.
Mas a fila começou a andar. Sim, isso mesmo. A fila se movia, como uma daquelas coisas que a gente só vê em filmes de ficção científica, onde o futuro é maravilhoso e o sol brilha para os justos.
Em pouco tempo, estava diante do balcão. Fui recebido por uma atendente que, pasmem, além de me olhar, estava sorrindo. Imaginei que estivesse ali há pouco tempo, ainda com aquele entusiasmo de quem acabou de entrar no serviço público. Mas, para minha estupefação, ela era veterana. Perguntei há quanto tempo trabalhava ali, e ela respondeu, com orgulho, que já tinha mais de dez anos de casa.
Dez anos! E ainda sorrindo? Pensei comigo: "Isso é algum tipo de pegadinha? Alguém está filmando isso?". Mas não havia câmeras, apenas uma televisão para entreter quem esperava ser chamado para a coleta biométrica.
Ela foi rápida, eficiente, e até fez uma piada sobre como minha foto de identidade anterior me fazia parecer "um pouco cansado", enquanto conferia os demais documentos. Rimos juntos. Eu nem me lembrava da última vez que havia rido numa repartição pública – talvez nunca.
Fui encaminhado a uma outra atendente que, mais uma vez, me surpreendeu, me olhando e sorrindo enquanto tirava cópias dos documentos com gentileza e atenção. Depois, preencheu os formulários eletrônicos com a agilidade de um pianista experiente, sem errar nada, e colheu minhas digitais e foto.
O processo todo levou menos de 20 minutos e, quando me dei conta, já estava fora do setor, com o protocolo em mãos e um leve sorriso no rosto.
Fiquei parado ali por alguns minutos, olhando para a entrada, tentando processar o que havia acabado de acontecer. "Será que entrei no lugar errado? Isso era um sonho? Talvez um episódio de 'Além da Imaginação'?" Mas, não. Era realidade. Uma nova, agradável, totalmente inesperada e sorridente identidade do serviço público.
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