Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Tenho um amigo que se considera "um machista normal". Aos quarenta e cinco anos, bem-casado e com um filho adolescente, ele se orgulha de ser o que considera um homem à moda antiga. “Não sou daqueles neandertais que bate em criança ou levanta a voz para a esposa”, garante. “Sou apenas um machista sem exageros”, afiança.
Ele diz ser do tipo que paga a conta no restaurante sem nem pensar duas vezes, abre a porta do carro para a esposa e a leva para viajar ou passear no shopping aos sábados. Também lembra dos aniversários e até compra flores. “Tá vendo? Normal!” — assegura. “Mas, claro, tudo sem frescura”, esclarece. Diz não ter paciência para “essa coisa de mimimi moderno. Cada um vive a sua vida e acabou”, repete com a segurança de quem acredita ter descoberto as leis imutáveis do universo.
Faz exercícios “com pesos de verdade” e está preparado para defender fisicamente sua família. “Se alguém quiser testar a sorte, é só vir pra cima” — desafia com um olhar um tanto quanto injetado para quem se diz “da paz”.
Ele afirma que diariamente passa esses valores para seu filho Marcos, um adolescente de quinze anos. “Se a gente não der o exemplo nem ensinar, o que é que esses meninos vão seguir? Os Teletubbies?” — justifica em sua pedagogia particular.
“Ensinei o Marcão a correr, andar de bicicleta, nadar, lutar” — orgulha-se. “Só não como se paquera porque ele começou a rir quando mostrei como eu fazia na feirinha da Praça Portugal de antigamente” — esclarece, conformado.
Obviamente, o filho, em sua adolescência típica, faz de tudo para provocar o pai. Usa tranças e brincos. “Os Vikings e os piratas não usavam?” — desafia. Um dia desses, o pai me contou que, durante um churrasco na casa de praia de um amigo, cercado por muitos adolescentes, teve ânsias de afogar o menino.
“Ele fez de sacanagem. Aprendeu a nadar quando era pequeno e até já ganhou campeonatos. O diabo nada melhor que uma piaba” — iniciou o lamento. “Daí tava todo mundo na boa por lá, e uma menina, bem bonitinha, que estava na piscina, não tirava os olhos dele. Então, chamei e disse para ele se aproximar, puxar conversa e coisa e tal".
“Eu devia ter desconfiado quando ele me obedeceu sem reclamar. O moleque foi até a piscina, tirou a camisa bem devagar já na borda. Exibiu o peitoral definido e o abdômen trincado. Espreguiçou os braços musculosos formados na academia que eu pago. A menina não tirava os olhos dele e escondia um sorrisinho e…” — disse, com a voz embargando.
“E ele testou a água com o dedão do pé, fingiu frio e deu um pulinho na vertical para dentro d'água, segurando o nariz com os dedos fazendo uma pincinha, com o mindinho levantado e tudo…” — esclareceu balançando a cabeça em negação, como se quisesse esquecer aquela cena.
— E a menina? — indaguei, curioso para saber o desfecho daquele quase romance aquático.
“Não sei o que ele disse para ela, mas estão namorando há uns quatro meses. É uma ótima menina” — suspirou em alívio.
“Mas teve o negócio do gato também. Ele fez de propósito. E ainda por cima na frente de todo mundo. A esposa do dono da casa resgata gatos, cuida e consegue adoção, num trabalho realmente muito bonito” — começou a contar o ocorrido, olhando para o céu, tomando ar e forças para continuar.
“Daí, ela explicou que os gatos novos levam um tempo para que os antigos os aceitem. Coisa de territorialismo, que todo macho entende” — assegurou. “Quando finalmente os gatos são aceitos pela colônia, eles se cumprimentam cheirando os focinhos uns dos outros” — explicou.
— Mas o que é que isso tem a ver com o Marcos?
— Assim que ele ouviu isso, disse, em alto e bom som, uma coisa que jamais vou esquecer.
— O quê?
— “Ai, que fofo”.
Já ouvi várias versões sobre o desenrolar do churrasco. Alguns disseram que esse meu amigo teve que ser socorrido com um princípio de infarto. Outros afirmam que ele só desmaiou mesmo. A versão mais crível é que ele teria saído correndo atrás do filho, dizendo “Fofo é só bolo! Só bolo!”, enquanto o menino gargalhava.
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