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Príncipe rústico: procura-se
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Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis

Príncipe rústico: procura-se

Final de semana passado fui a mais um churrasco na casa daquele amigo que se autodenomina um "machista normal".
Tipo Opinião
Companhia de balé clássico de São Petersburgo apresentou "O Lago dos Cisnes" em Fortaleza (Foto: Site Uhuu!/Reprodução)
Foto: Site Uhuu!/Reprodução Companhia de balé clássico de São Petersburgo apresentou "O Lago dos Cisnes" em Fortaleza


Final de semana passado fui a mais um churrasco na casa daquele amigo que se autodenomina um “machista normal”. Personagem de outra crônica, ele se intitula um “homem à moda antiga” e defende que “a vida tem que ser simples e sem frescura”.

Marcão, o filho adolescente, está fazendo engenharia mecânica e adora implicar com o pai. Mergulha na piscina tapando o nariz com os dedos em forma de pinça e agora usa "aí que fofo" pra qualquer coisa, de gatos a motores.

Clara, a filha de 22 anos, também estava lá. “Puxou só a mim”, dizia o pai, orgulhoso. Bailarina, ela acabou de voltar de um intercâmbio de seis meses na Royal Ballet School, em Londres. E está… à procura de um namorado.

- Cansei de homem delicado. Quero um homem de verdade! - disse, ajudando a mãe a servir a salada de batata. – Homem com barba, cicatriz de infância, que se orgulha de abrir um pote de azeitona sozinho! Já cansei desses que só querem falar dos próprios sentimentos, fazem skincare e... meu Deus, depilação?!

- E qual o problema com isso? – a mãe ria. – Um cara que cuida de si mesmo é um bom partido. Ou você quer namorar um neandertal?

- Quero sim! – Clara respondeu, impaciente. – Quero um que nem saiba a diferença entre sabonete facial e desodorante. Homem raiz, sabe? Que corta as unhas com aquele cortadorzinho giratório, que se irrita se eu falar de aparar suas sobrancelhas e que corta o cabelo com o barbeiro do posto de gasolina, por vinte reais.

- Mas, minha filha, que exagero!

- Mãe, já deu! Homem que faz ioga, que tem crise existencial, que se diz vulnerável? Vegano, então? Deus me livre! Quero um que coma carne, beba cerveja, use camisa de time, se esfole no futebol e ache que chá é coisa de doente. E nunca - nunca! - sequer saiba o que é máscara facial.

O pai ouvia tudo em silêncio, com aquele sorriso de canto de boca. "Criei bem, criei bem".

- E ele não pode demonstrar nenhuma fraqueza? – a mãe insistia.

- Pode, claro! Mas não o tempo todo, né? Homem reclama, mas não fica “sentido”. Ele se irrita, enfrenta o problema e pronto. Não é de choramingar por aí.

- E esse príncipe rústico tem que ser alto, bonito, inteligente, sarado e rico? – a mãe provocou.

- Prefiro os inteligentes e engraçados aos bonitinhos com cara de bebê. Pode até ser barrigudinho, sem problema. Homem muito sarado passa mais tempo na academia e no espelho do que comigo. Não precisa ser rico, mas tem que ser ambicioso. Quero alguém que saiba o que quer, que se esforce, pague as contas quando sairmos, ande de mãos dadas comigo… essas coisas.

- Ah, foi o intercâmbio – o pai interveio. – Seis meses com bailarinos deu nisso.

- Pois eu acho os bailarinos uns fofos – provocou Marcão.

Foto do Danilo Fontenelle

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