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Claudette Soares celebra 80 anos de Chico Buarque com tributo
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Claudette Soares celebra 80 anos de Chico Buarque com tributo

Abrindo as comemorações dos 80 anos de Chico Buarque, Claudette Soares lança olhar íntimo sobre a obra do velho amigo
Tipo Análise
Claudette Soares celebra os 80 anos de Chico Buarque em novo disco (Foto: Bernardo Mendonça/ Divulgação)
Foto: Bernardo Mendonça/ Divulgação Claudette Soares celebra os 80 anos de Chico Buarque em novo disco

No próximo 19 de junho, Chico Buarque completa 80 anos. Nome fundamental da geração que formatou a MPB, ele chega a essa idade reconhecido pela obra musical, intelectual e política. Enquanto parte do Brasil combate um fantasioso comunismo, tenta calar arte e artistas, pede a ajuda de uma enrugada intervenção militar, a obra desse carioca de olhos ardósia segue tão íntegra e atual quanto seu autor.

Quem saiu na frente para celebrar essa história - que é parte da história do Brasil - foi Claudette Soares, que reuniu 10 composições do amigo no tributo "Claudette canta Chico". A cantora conheceu o compositor na década de 1960, quando ela cantava no João Sebastião Bar, em São Paulo, e ele frequentava a casa nas noites de novos talentos. Vendo o potencial do jovem, Claudette quase foi a primeira a gravar uma música de Chico ("Marcha para um dia de sol"), mas a gravadora não acreditou na canção.

Já reconhecida como uma intérprete "dona da bossa", ela lançou em 1968 o triplo tributo "Gil, Chico e Veloso por Claudette", reunindo obras de três nomes revelados nos festivais. O tributo que chega agora às plataformas digitais pela gravadora Kuarup nasceu de um EP lançado em 2022 para comemorar os 55 anos daquele álbum que se tornou um clássico da cantora. Coube a Thiago Marques Luiz, que divide a produção com Renato Vieira, propor um disco somente com canções de Chico Buarque.

Mesmo se tratando de um dos compositores mais regravados na música brasileira, Claudette imprime sua personalidade em 10 canções, sendo cerca de 70% delas clássicos. Aos 86 anos, dona de um sussurrado quente e de uma interpretação madura, ela vai da sensualidade de "Tatuagem" ao sublime da delicadeza de "Futuros Amantes", esta muito bem acompanhada do piano preciso de Alexandre Vianna.

"Claudette canta Chico" abre com "Cadê Você (Leila XIV)", gravada em dueto com o autor. Embora amigos há muitas décadas, essa é a primeira vez que eles gravam juntos. A faixa é uma parceria de Chico com João Donato, que também participaria da faixa se não tivesse falecido em 17 de julho de 2023. E essa é uma das não tão conhecidas do repertório, junto a "Caravanas" e "Realejo". A primeira batizou o último disco de inéditas (2017) de Chico e aqui ganha arranjo com ruídos, estranhezas e canto falado. A segunda foi gravada em 1967, tanto por Chico quanto por Hebe Camargo, e em 2001 pela própria Claudette num disco dividido com o pianista Leandro Braga.

Quanto às "famosas mesmo", o álbum traz "Bom tempo", em que Claudette mostra sua histórica intimidade com o sambalanço; "Carolina", menos brejeira e mais sofisticada ao piano; "Todo o sentimento", que combina vibrato, rouquidão e frases curtas para merecer o nome que tem; "Com açúcar, com afeto" e "Até pensei" são sambas-canção vestido de bossa nova, e Claudette se sente em casa.

"Claudette canta Chico" é um ato de resistência, um disco que trata com respeito uma cantora que já foi do baião, da bossa, do samba e se mantém fiel à própria história. Claudette vem de uma sequência de discos feitos com um cuidado carinhoso, como o belo tributo a Silvio Cesar ("Se eu pudesse dizer tudo que sinto", 2019) e a parceria com Doris Monteiro e Eliana Pittman ("Divas do Sambalanço", 2020). Cantar Chico Buarque é um presente que ela dá ao compositor que quase lançou e a si mesma, por tanto tempo buscando fazer boa música. Nós, ouvintes, acabamos ganhando esse presente também.

Outras versões de Chico Buarque

Antonio Zambujo

Em "Até pensei que fosse minha", o cantor e compositor português lança sotaque lusitano sobre canções como "Injuriado" e "Cálice".

Cida Moreira

A cantora e atriz paulistana fez uma interpretação muito pessoal da obra de Chico em 1993. Destaques para "Suburbano coração" e "Avoz do dono e dono da voz".

Garganta Profunda

O grupo vocal carioca cruzou as obras de Chico e Noel Rosa num disco divertido e raro. Ouça o pot-pourri de "De babado" e "Partido alto".

Quarteto em Cy

Com inspirados arranjos vocais, "Chico em CY" traz momentos incríveis como a irônica "Tamandaré" e "Choro bandido", com participação de Edu Lobo.

João Nogueira

Um dos últimos discos do sambista foi dedicado a Chico, com arranjos de Marinho Boffa. João explora seus graves "Bastidores", "Sem fantasia" e outras.

Marianna Leporace e Sheila Zagury

A cantora Marianna Leporace e a pianista Sheila Zagury reúnem o melhor da dupla Chico e Edu Lobo no disco "São bonitas as canções".

Mônica Salmaso

Antes de correr o Brasil em turnê com Chico, a cantora paulista dedicou a ele o disco "Noites de gala, samba na rua" (2007)

Carlos Fernando

O saudoso cantor do grupo de jazz Nouvelle Cuisine deu (mais) ar de sofisticação à obra de Chico num disco dividido com o guitarrista Toninho Horta.

Oswaldo Montenegro

Somente com violões, Oswaldo Montenegro homenageou Chico Buarque no disco ao vivo "Seu Francisco" (1997). Produção de Hermínio Bello de Carvalho.

Nara Leão

Tendo a própria história sempre ligada a Chico Buarque, Nara dedicou seu disco de 1980 à obra do amigo. E ele agradece participando de três faixas.

Célia

Trabalho póstumo da cantora paulistana (1947-2017) foi registrado ao vivo, em 2000, junto com a Orquestra de São Bernardo. "Rosa dos Ventos" é um destaque.

Fafá de Belém

A única vez que Fafá dedicou um disco inteiro a um compositor foi em 2004, quando reuniu 15 faixas de Chico - ele mesmo participa recitando um texto em "Fado tropical".

Gal Costa

Gal dividiu o álbum “Mina d’água do meu canto” (1995) entre canções de Chico e Caetano Veloso. Os dois ainda fizeram a inédita “Como um samba de adeus”, homenagem a Tom Jobim.

Ricardo Guilherme e Daniel Medina dividem o palco no show
Ricardo Guilherme e Daniel Medina dividem o palco no show "Letra e Música"

Notas Musicais

Parcerias

O ator e escritor Ricardo Guilherme e o cantor e compositor Daniel Medina fazem juntos show no dia 25 de maio, no Museu da Imagem e do Som (MIS-Ceará). No repertório, canções inéditas de Fausto Nilo e Ricardo Bezerra. Gratuito.

Beleza Pura

O grupo A Cor do Som divulgou sua agenda de 2024 e já anunciou show no Ceará. Será dia 7 de dezembro, em Jericoacoara. A última vinda do quinteto carioca ao Estado foi em 2020, quando fizeram show inesquecível no Cineteatro São Luiz.

Sentimental

O cantor Altemar Dutra Jr. faz dois shows em Fortaleza com a turnê "O melhor de mim". No repertório, canções de Tim Maia, Marisa Monte, Arnaldo Antunes e, claro, do pai. Os shows acontecem na sexta, 12, às 20 horas, no Centro Cultural Belchior (gratuito), e sábado, 13, às 22 horas, no Ideal Clube.

Foto do Marcos Sampaio

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