Conheça Claudine Albuquerque, a voz de todos os ritmos da noite do Ceará
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Foto: FCO FONTENELE
Claudine Albuquerque, cantora baiana radicada no Ceará
Uma hora e meia com Claudine Albuquerque é como montar um quebra-cabeças com milhares de peças. Os assuntos passam por vida boêmia, moda, 2ª Guerra Mundial, seca. Passa também por TDAH, setembro amarelo, bipolaridade, hiperfoco, déficit de atenção, hiperatividade. Na música, ela vai de The Who a Xuxa com uma fluidez impressionante. “E está tudo bem”, diz a baiana de Teixeira de Freitas, que se radicou no Ceará ainda adolescente e por aqui tornou-se uma referência entre vocalistas de rock.
Por sete anos, integrou a Nafandus, banda que fez história na cena metaleira. O quinteto participou do Festival de Música da Juventude, Mostra Petrúcio Maia e Porão do Rock, um dos mais respeitados do Brasil. “De repente a gente estava num festival tocando no mesmo palco que Emicida, Planet Hemp, Nação Zumbi”, conta ela que também já cantou com a Obskure, lendária banda cearense de death metal, e no tributo “Lady Zeppelin”, que reuniu cantoras em torno do repertório do Led Zeppelin.
Foi também na Nafandus, que Claudine tirou da gaveta composições que iniciou muitos anos antes. “Eu compunha as músicas da banda e tinha que criar minha própria interpretação daquilo. Eu gosto de berrar, meu negócio é cantar com raiva. Criei meu jeito de cantar com esses elementos”, conta a fã de Amy Lee que também integrou as bandas Red Ache, Immigrants e Diamante Cor-de-Rosa, esta com um repertório que ia de Queen a Roberto Carlos. “Foi uma escola porque eu tinha que sambar, cantar música da Xuxa, fazer trenzinho com a galera. Virou a chave de que eu poderia fazer diversas coisas e cada uma delas ia pedir uma postura completamente diferente”, avalia.
Ainda na Bahia, Claudine tinha como principais companheiros o violão e os livros. Com tios e primos que trabalham com música, ela frequentou estúdios desde cedo. Já a literatura, herdou da mãe, cearense que viveu a crueldade da seca “escovando os dentes com raspa de juá”, até vir para a Capital e se tornar enfermeira e professora formada em Letras Francês. O pai, 30 anos mais velho, ficou órfão cedo, morou na rua, trabalhou como engraxate e entrou para o exército para fugir da fome. Acabou lutando no finzinho da Segunda Guerra, até aproveitar o dom da oratória como político. Ele morreu quando Claudine tinha 5 anos e deixoo um caderno com os discursos que escrevia.
Outra herança dele foram livros e discos. Junto com a biblioteca da mãe, era um acervo precioso para a adolescente que, com a mudança, passou pelos os próprios problemas de deslocamento. Mas, se por um lado ela lembra que sofria muito bullying, por outro foi na época da escola que recebeu as primeiras noções de música, incentivos para seguir e tornou-se reconhecida como a “aquela menina que anda com violão”.
Em outra mudança de endereço, os astros quiseram que ela fosse vizinha de Pantico Rocha. Intermediado por um vizinho em comum, o baterista, que já tocou com nomes como Maria Bethânia, disse seu currículo para a mãe de Claudine e teve permissão para que ela participasse do projeto Pant e As Rochas. “Ele foi meu mentor, tutor, professor. Até hoje, quando vou dar aula, uso muito dos conhecimentos que ele me transmitiu”, reconhece ela que teve assim a primeira experiência profissional com a música.
Foi com Pantico também que Claudine entendeu a importância do estudo para trabalhar com música. No Instituto Federal do Ceará (IFCE), onde estudou com Marcelo Leite, Cecília do Valle, Nonato Cordeiro, Costa Holanda, por exemplo. “O IFCE tem isso de projetar o aluno para a vida, para a profissão de fato. Quando você termina o curso ali, não se sente perdido”, elogia ela que, através do professor, Eddy Linconl, chegou à Casa de Vovó Dedé, onde foi vista por Nonato Luiz cantando “Catavento e Girassol”, de Guinga e Aldir Blanc. “Ele até me sugeriu umas composições dele para gravar e me senti muito honrada”, lembra ela que não deixou de participar de projetos na instituição.
Fã de Janis Joplin (“minha diva suprema”), Slipknot e Olodum, Claudine Albuquerque ampliou seu olhar e passou a ser muitas em uma. É do jazz e do metal, da música e da moda, do cover e do autoral, do Deep Purple e do Djavan. “Para mim sempre foi muito natural ouvir axé e depois heavy metal, porque está tudo ligado no fim das contas”, avalia ela que este ano lançou a primeira composição da carreira solo (“Quimera”) e participou do excelente tributo à Massafeira (cantando uma balada pop e um blues).
Mas, no meio dessa história, quando ela percebeu que cantava bem? “Acho que isso nunca aconteceu. Estou fazendo terapia para dar uma consertada nisso, né?”, ri antes de pensar mais um pouco. “Pronto! foi cantando Evanescence. Eu estava lá no Dragão do Mar, virando a noite com meus amiguinhos, esperando amanhecer para ir para casa. E aí, lá no Planetário, que na época deixavam a gente dormir, tinha algum ser humano com violão. ‘Ei ela que canta. Dá o violão e para ela’. Tá bom, aí eu toquei ‘My mortal’. Valha meu Deus, o que foi que eu fiz? Tal hora me desliguei de tudo ali em volta, estava concentrada em tocar a música. Eu não sabia como era de fato a colocação da minha voz, para onde eu ia. Foi uma construção porque eu sempre ouvi tanta coisa, né? Mas hoje eu entendi que eu posso vestir a minha voz com várias roupas”, encerra.
Mais sobre Claudine
Religião
Tive uma breve passagem pelos ministérios de louvor da Igreja Evangélica. Hoje eu sou uma pessoa que tem uma espiritualidade, uma ligação com divino, mas eu gosto de frequentar igrejas progressistas, afirmativas, entendeu? E não ligadas à política, não tem condições. É mais saudável, mais ético. Inclusive, uma das músicas que eu fiz lá ("Na contramão"), inscrevi no Festival da Assembleia Legislativa, achando que nem ia entrar. Entrou e ainda tirei o terceiro lugar de melhor composição, um rockzinho baladinha feito para o grupo jovem da igreja evangélica.
Literatura
Eu gosto muito de literatura infantil universal. A minha relação com a literatura veio antes de qualquer outra forma de arte, de fazer criativo. Porque era o que eu tinha acesso, um acervo imenso que o meu pai deixou, o acervo da minha mãe que também é imenso. E eu gosto muito da literatura fantástica.
Cinema
Minha relação com o cinema vem muito das vivências do meu companheiro, o Miguel Cavalcanti, que é do audiovisual. A gente foi assistir a "O Poderoso Chefão" e ele achou que eu ia odiar, porque eu não consigo ficar quieta. Eu sou hiperativa, poxa. Mas eu não conseguia despregar o olho. Mas aí vamos assistir a um filme do Almodovar, "A pele que habito". Não consegui me conectar. Fiquei nervosa.
Teatro
Sempre que eu vou ao teatro, eu fico encantada porque é uma coisa que, assim como a literatura, me tira da realidade. Mais até do que assistir a um filme, por exemplo. O teatro mexe mais comigo.
Redes Sociais
Twitter eu não uso porque eu acho adoecedor demais. TikTok eu não consigo realmente, não é da minha geração. Eu não encaro aquele ritmo do jovem que não pesquisa mais no Google, mas pesquisa no TikTok. Mas uso bastante o Instagram, inclusive para conseguir contrato. A minha vitrine é ali.
Disco especial
O primeiro a que eu tive acesso físico, que eu juntei dinheiro para comprar, foi o do Scorpions, "Live in Lisboa" (2001). Eu amava ouvir aquilo ali e me inspirou muito. E o ao vivo do Djavan (1999). Acho que foi o que eu mais é escutei na minha vida. Teve o terceiro que foi o "Burn" (1974), do Deep Purple.
Um show
Eu gosto muito de sair da minha casa para ver shows, para ver os meus amigos tocarem. Mas de show grande, o show que mais marcou a minha vida foi o do Ozzy Osbourne. Não só pela figura do Ozzy, foi incrível assistir ao show dele em Minas Gerais. No Ceará, o show que me marcou muito foi o do Jumenta Parida. Meu irmão, aquilo ali foi inesquecível. Eu lá na Bahia já ouvia falar do Jumenta Parida. Aí de repente eu estava vendo e passou tanta coisa na minha cabeça, todo mundo cantando junto.
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