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Férias na PI: Memórias roqueiras dos 1980
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Férias na PI: Memórias roqueiras dos 1980

Frejat e Paula Toller dividem noite de abertura do festival Férias na PI com hits clássicos dos anos 1980
Tipo Opinião

Em novembro de 1963, os Beatles foram convidados para tocar em um evento beneficente diante da rainha mãe e da princesa Margareth, em Londres. Vendo a audiência dividida entre nobres convidados sentados e uma plateia em pé e mais empolgados, John Lennon convidou: “Precisamos da ajuda de vocês no próximo número. Os dos assentos mais baratos batam palmas. O restante basta chacoalhar as joias”. Em seguida, cantou “Twist and shout”.

Décadas depois, o rock ficou mais comportado e não gasta mais saliva com esse tipo de malcriação. No entanto, foi impossível não lembrar desse episódio chegando na primeira noite do Férias na PI. Na sexta-feira, 5, havia uma grande área reservada para convidados que mantinha o público comum há uma distância considerável do palco montado na Praia de Iracema. Para chegar mais perto do palco, era preciso dar uma longa volta por trás da mesa de som e luz. Curiosamente, a área reservada era maior e mais deselegante do que o necessário e ficou bem vazia na maior parte do tempo.

Para esta noite de abertura do festival, as principais atrações vieram lá dos anos 1980 e traziam na bagagem uma série de hits que marcaram gerações. Diante de um público mais velho, muitos deles trazendo filhos e netos, essas atrações fizeram questão de abusar desses hits. Que bom! Antes das atrações vindas de fora, a abertura foi com o cearense Paulo Façanha, um dos nomes mais experientes da noite de Fortaleza. Em seguida, deveria acontecer um show dos Selvagens à Procura de Lei, mas houve uma confusão, eles foram substituídos por Gabriel Aragão (vocalista do SAPL), também cancelado em seguida. Sobrou para um DJ fazer as bases para a entrada de Roberto Frejat.

O ex-vocalista e guitarrista do Barão Vermelho chegou com uma banda enxuta, sem nenhuma estrela, mas todos muito entrosados para enfileirar hits a banda carioca, da carreira solo de Frejat e algumas versões que ele incorporou ao próprio repertório nas últimas décadas. Desse último tópico, ele apresentou “Amor meu grande amor”, de Ângela Rorô, e “Na rua, na chuva, na fazenda”, de Hyldon. Da carreira solo, teve “Segredos”, “Túnel do tempo” e “Amor pra recomeçar”. Do Barão, ele “Por que a gente é assim”, “Bete balanço” e uma homenagem ao amigo e ex-parceiro de banda Cazuza, numa releitura de “Exagerado”.

Com um casaco de mangas longas e cachecol, Frejat chegou com o jogo ganho e dedicou seu tempo a fazer a festa para o público que ele vem acumulando desde os anos 1980. Sua contemporânea de geração, Paula Toller foi a atração seguinte. Apresentando a turnê “Amorosa”, a cantora carioca foi até mais ousada quando optou por um acompanhamento semiacústico e intimista. Mas o repertório foi igualmente confortável e certeiro, com um apanhado de hits do Kid Abelha, banda da qual foi vocalista por mais de 30 anos.

Em Fortaleza, Paula teve o acompanhamento luxuoso de Liminha, um dos mais importantes produtores do Brasil, tocando violão. Outro destaque foi o baterista Adal Fonseca, responsável pelo peso do show. Além deles, tinha Gustavo Camadella no violão, Pedro Dias no baixo e Gê Fonseca nos teclados. E Paula que promoveu um luau na Praia de Iracema cantando “Fixação”, “Amanhã é 23”, “Lágrimas e chuva” e “Nada sei”, que naquela sexta-feira foi relançada nas plataformas digitais em dueto com Luiza Sonza.

Ora sentada, ora mexendo um pouco, Paula Toller usou sua simpatia bem medida para convidar o público a cantar junto canções que cruzaram décadas e fez muitos casais celebrarem juntos o momento. Tinha fã de carteirinha, que acompanha desde os anos 1980, cantando tudo do começo ao fim. Teve um público mais jovem, também empolgado, que já conheceu o Kid depois do sucesso do “Acústico MTV”. Tinha aquela turma que estava ali curtindo já que era de graça mesmo. E teve uma senhora, vendedora de bebidas, que me perguntou “quem é essa mulher que tava cantando”. Respondi e ela devolveu “nunca ouvi falar”. Mas gostou do show? “Foi legal. E ela é bonita, né?”.

Foto do Marcos Sampaio

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