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Em novo formato, Festival Choro Jazz chega ao Pará em noite de estrelas
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Em novo formato, Festival Choro Jazz chega ao Pará em noite de estrelas

Criado há 15 anos no Ceará, Festival Choro Jazz ganha formato itinerante e chega ao Pará reunindo estrelas brasileiras
Tipo Opinião
Hermeto Pascoal apresentou peças do seu mais recente disco, 'Pra você, Ilza' (Foto: Fotos: Liliane Moreira/ Divulgação)
Foto: Fotos: Liliane Moreira/ Divulgação Hermeto Pascoal apresentou peças do seu mais recente disco, 'Pra você, Ilza'

Jericoacoara é terra sofisticada, atrai milhares de turistas, faz circular alguns milhares de reais e há tempos deixou de ser aquela inocente vila de pescadores. Logo, parece óbvio que aporte por lá um festival que leva no nome dois gêneros musicais que, embora muito populares, têm pecha de sofisticados. Mas quando o Festival Choro Jazz nasceu lá não existia estrutura de muita coisa. Palco, som, luz, hospedagem e até público para ouvir música instrumental era algo que precisava ser levado, criado ou inventado.

Mas foi em 2009 que foi criado esse festival que já levou à mais famosa praia do oeste cearense nomes como Dori Caymmi, Toninho Horta, Egberto Gismonti, Marcel Powell, Época de Ouro, Arismar do Espírito Santo e mais uma turma de cabeças de chave como esses. Depois de tantas edições, o Festival Choro Jazz ganhou asas e adotou formato itinerante em 2024. O primeiro pouso foi no Pará, onde, nos dias 13 e 14 de julho, foi montado um palco em Soure, na Ilha de Marajó.

Uma semana depois, foi a vez da capital Belém receber seis shows na Casa das Artes, equipamento do governo do estado que, só pela arquitetura do século 19 (já foi um prédio do exército), poderia ser considerado um show a mais. Às 16 horas, com o sol ainda firme e a casa ainda vazia, o grupo Choro do Pará abriu os serviços com um repertório mesclando clássicos do gênero. Seguros, ensaiados, elegantes com o figurino oficial, a pequena orquestra de chorões merecia mais gente prestigiando uma apresentação marcada pela simpatia e beleza.

A orquestra Choro do Pará fez a abertura do Festival 2024(Foto: Liliane Moreira/ Divulgação)
Foto: Liliane Moreira/ Divulgação A orquestra Choro do Pará fez a abertura do Festival 2024

Em seguida, foi a vez do cearense Eudes Fraga dividir o palco com o paraense Nilson Chaves. Eudes, radicado há quase duas décadas em Belém, absorveu a cultura local e mostrou canções falando das matas amazônicas. Acompanhados ainda do Trio Manari, eles contaram histórias, lendas, se embrenharam na selva, se misturaram aos bichos e o público, já maior, acompanhou tudo se reconhecendo naquelas canções. Um ponto alto do show foi o solo de percussão do Trio Manari, quando eles se multiplicaram em muitos sons.

Para quem defende que “esse tipo de música não atrai público” ou que “o povo gosta do que é ruim” ou ainda que “tinha que ter algo mais popular”, a dica era olhar para fora da Casa das Artes quando a lua já estava em seu lugar. A casa ficou cheia e a fila de gente querendo entrar era volumosa – ambulantes garantiram o dia vendendo cerveja, água e refrigerante. E olha que a atração seguinte era um cara de sotaque gaúcho, vestido de bombacha, puxando um fole gigantesco e com um ritmo nada popular ao norte do País. “Eu vejo muito mais coisas próximas, principalmente no meu instrumento. A forma como o gaúcho chama a sanfona é gaita. Essa (minha) relação com os músicos nordestinos vem de muito tempo”, revelou Renato Borghetti antes de entrar no palco. Elétrico, com o corpo desenhando as canções no ar, o músico abria o acordeom como se fosse abraçar a plateia toda de uma vez. Relembrou as tragédias que assombraram o Rio Grande do Sul nos últimos meses, tocou para seus conterrâneos e encerrou com uma belíssima homenagem a Luiz Gonzaga. “O problema de gaúcho tocar forró é porque acaba virando vanerão”, brincou antes de “Vem morena” e “Asa Branca”.

Homenageada da edição 2024 do Festival Choro Jazz, Nazaré Pereira foi a próxima a subir no palco. Natural do Acre, criada em Belém e radicada em Paris, a cantora e compositora de 83 anos veio com um balaio de canções tradicionais, algumas baladas românticas e um lindo vestido branco que dava a ela um ar divinal. Cantou, dançou, brincou e partiu de volta para a Europa. “Com as Olimpíadas em Paris, eu tenho muito trabalho a fazer”, adiantou incansável.

Renato Borghetti tocou em homenagem a Luiz Gonzaga e às vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul(Foto: Liliane Moreira/ Divulgação)
Foto: Liliane Moreira/ Divulgação Renato Borghetti tocou em homenagem a Luiz Gonzaga e às vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul

Talvez a atração mais aguardada dessa edição, Hermeto Pascoal e seu grupo chegaram com a casa já bem lotada. Com a torre do sino da Basílica de Nazaré já acesa, o bruxo de barba branca se posicionou no piano e deu a deixa para a banda começar. Aos 88 anos, o alagoano é uma presença de respeito e um carimbo de qualidade para os músicos com quem divide o palco. Suas intervenções são pontuais e discretas, deixando os parceiros brilharem como virtuoses em seus instrumentos. Resumindo bem, o repertório teve sambas, choros e ritmos nordestinos que faziam a plateia dançar. Para encerrar, Hermeto e banda saíram em cortejo até o camarim, todos tocando, plateia batendo palmas e agradecendo por poderem ver um dos maiores instrumentistas do planeta em ação.

Para encerrar, a banda paraense Arraial do Pavulagem emendou seu repertório de canções que dizem tanto sobre o povo paraense. Próxima parada do Festival Choro Jazz é no Centro Cultural do Cariri, no Crato, de 16 a 22 de setembro, quando recebem, entre outros, Egberto Gismonti e orquestra. De 29 de novembro a 1º de dezembro, o Anfiteatro da Praia de Iracema, em Fortaleza, recebe nomes como João Bosco, Armandinho, Leila Pinheiro e Roberto Menescal. Depois, de 3 a 8 de dezembro, o festival volta para Jericoacoara, onde recebe A Cor do Som e outros. Com um detalhe: toda a programação do Festival Choro Jazz é gratuita.

O repórter viajou a convite do Festival Choro Jazz*

Festival Choro Jazz 2024

Crato

  • Onde: Centro Cultural do Cariri
  • Quando: 16 a 22 de setembro

Fortaleza

  • Onde: Anfiteatro da Praia de Iracema
  • Quando: 29 de novembro a 1º de dezembro

Jericoacoara

  • Onde: Praça Principal
  • Quando: 3 a 8 de dezembro
Foto do Marcos Sampaio

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