Fagner relembra participação em festival de 1968 com show no TJA
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Foto: FCO FONTENELE
Fagner relembra amigos, momentos e início da carreira em show no TJA
Uma hora de conversa com Raimundo Fagner e o interlocutor sai zonzo. São muitas histórias que envolvem pessoas fundamentais para a cultura nacional. São elogios (alguns), críticas (várias!), um bom humor ácido e uma questão que se repete: Por que “Mucuripe” não entrou para o Festival Nordestino? O compositor cearense insiste na questão e ele mesmo responde: “Ednardo. Ele ficou encarregado de mandar as músicas, aí não mandou. Agora, ele me salvou porque, senão, eu não teria ganho em Brasília. Lá tinha que ser música inédita”.
A eterna implicância entre dois dos mais importantes representantes da música cearense vai e volta durante a entrevista que tem outro mote. Nesta sexta-feira, 2, e sábado, 3, Fagner volta ao Theatro José de Alencar com show que relembra sua passagem no IV Festival da Música Popular Cearense, em que venceu, no mesmo palco, com a canção “Nada Sou”, em 1968. Anunciado inicialmente para uma data, os ingressos voaram rápido. Nova data foi anunciada e os ingressos esgotaram rapidamente mais uma vez.
Perguntado sobre o que lembra da época em que “Nada Sou” nasceu, Fagner começa a desfiar memórias de quando morava no bairro da Piedade e ouviu Beatles pela primeira vez. A música era “I wanna hold your hand”. “Ouvi ao meio-dia, no sol que não tinha uma pessoa na rua. Eu paralisei”, detalha. Nomes de rua, o primeiro porre, a primeira sensação de sucesso (num show em Baturité), bandas como Os Quem, Magnatas e Faraós, além de Luizinho Magalhães, Fernandão e o seu Francisco, luthier que construía as guitarras da turma.
Fagner afirma que não tem saudades da época, mas de algumas pessoas que passaram por sua vida. Uma delas é Marcos Francisco de Alcântara, seu parceiro em “Nada Sou”. Marcos é o responsável por provocar a parceria, inscrever a música e, consequentemente, vencer o IV Festival da Música Popular Cearense. “Ele era um gênio”, resume Fagner, acrescentando que foram morar no Rio de Janeiro na mesma época, um em busca da música e outro das artes visuais. “Ele estava preparando uma exposição para fazer na Galeria Bonino, chegou um alemão e comprou todos os quadros dele. Quatorze quadros”, diz sobre o parceiro que meio que ignorava a música, mas era exímio em obras com bico de pena.
Quando morou com Elis Regina, Fagner presenteou a cantora com dois quadros: um Chico da Silva e de um Marcos Francisco. “O quadro bem sutilzinho, de bico de pena. Ela botou na sala daquela casa onde ela jogou os discos do Ronaldo (Bôscoli, então marido de Elis)”, conta ele que tinha certeza do futuro sucesso do parceiro. Depois do Rio, Marcos foi para Nova York, até que Fagner o reencontrou caminhando por Fortaleza. “Eu estudava com ele lá em casa. Era eu, ele e o Tinoco. A gente era encangado”, relembra ele que viu o amigo pela última vez numa noitada no Estoril. No dia seguinte, Marcos cometeu suicídio.
Eles fizeram pouca coisa juntos, talvez só três músicas – “Nada sou”, “Luzia do Algodão” e “Comunhão”, que Fagner lembra. Com a mesma boa memória, ele conta como foi subir ao palco do TJA, aos 19 anos, para apresentar sua música. Como concorrentes, ele cita nomes como Beatriz Fiúza, Lucinha Menezes, Sergio Pinheiro, Jorge Mello... “Botei uma turma com guitarra elétrica lá, contra todos. Porque a cena da época era muito careta. Era todo mundo muito bonitinho, de violãozinho, bossa nova. Nós entramos de sola. Era a nossa juventude, o pessoal do bairro”, conta ele que, na época, ainda estava com a atenção muito dividida entre a música e o futebol. “As atividades da Piedade eram o futebol e a música. Eu não me achava em condição de jogar com aqueles caras, pela idade ou pelo fascínio da música. Mas terminei envolvido com o futebol também: jogo para caralho e sou humilde. São duas habilidades, e tem a de mentir também", brinca.
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