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No novo 'Caju', tem Liniker para todos os gostos
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

No novo 'Caju', tem Liniker para todos os gostos

Em segundo disco solo, Liniker equilibra refino e populismo se mantendo como a grande voz do momento
Tipo Opinião
Liniker lança 'Caju', segundo disco da carreira solo (Foto: Rony HERNANDES/ Divulgação)
Foto: Rony HERNANDES/ Divulgação Liniker lança 'Caju', segundo disco da carreira solo

Segundo relatório do Pró-Música, entidade que representa gravadoras e produtoras do Brasil, o mercado fonográfico nacional cresceu 21% no primeiro semestre de 2024, se comparado ao mesmo período de 2023. O faturamento foi de R$1,442 bilhão tendo as plataformas de streaming faturado 99,2% deste montante. Nessas mesmas plataformas, a lista das 10 mais ouvidas - há anos - se resume a dois estilos: sertanejos e MCs.

Ou seja, para se dar bem nesse meio, tem que seguir as regras dos streamings: se dedicar a dois únicos estilos (ambos de forte apelo midiático), lançar singles voláteis na esperança de que algum viralize e ousar o mínimo possível. Quem defende uma música mais pessoal e criativa precisa equilibrar o que o mercado pede, o talento permite e os anseios gritam para sobreviver artisticamente. É o caso de Liniker, que costurou retalhos comerciais e sentimentais em seu disco "Caju".

O nome do segundo álbum solo da cantora araraquarense também batiza a persona que ela criou e a quem dirige a carta aberta que encerra as faixas produzidas por Liniker, Fejuca e Gustavo Ruiz. "De olhos abertos, eu observo o movimento na estrada e penso na minha trajetória até aqui, nas inúmeras coisas que meus olhos já viram, e eu me percebo sendo uma grande colecionadora de memórias bonitas", diz ela para ela mesma.

"Caju" parece reunir muitas dessas memórias, pelo menos no que se refere à música. Tem soul, discoteca, sambajazz, pagode, charm, reggae, orquestra e mais um monte de elementos capazes de agradar gregos que seguem as massas ou troianos mais exigentes. Não por acaso, o disco parece ser dividido em duas partes: uma é mais introspectiva e transcendente, enquanto a outra é pura balada.

Mas uma parte interfere na outra, evitando que tudo pareça um monte de peças soltas. Mas, se for para apontar os extremos de "Caju", temos "Veludo Marrom" e "Pote de Ouro". A primeira é uma peça de mais de sete minutos que começa com uma guitarra melancólica, segue com Liniker cantando ao pé do ouvido e explode em cordas e sopros (da Orquestra Brasil Jazz Sinfônica), sons de pássaros, vocais, bateria e outros elementos que vão cruzando o ar. Já a segunda é um brega pop, com direito a solo de sax alto, outros clichês do gênero e a participação da pernambucana Priscila Senna.

Com a mesma desenvoltura, Liniker suinga num sambajazz com cara de Leny Andrade ("Mayonga") e se derrama num pagodão com cara de Katinguelê ("Febre"). Em seguida, para "Ao teu lado", ela chama Amaro Freitas, talentoso pianista brasileiro de projeção internacional, e a dupla Anavitória, que adequa seu canto insosso ao clima intimista de mais uma peça sinfônica com mais de 7 minutos. Liniker recebe ainda Lulu Santos cantando e tocando guitarra em "Deixa Estar". Depois de 3 minutos, entra Pabllo Vittar inconfundível fazendo vocais.

Contando ainda com Tropkillaz, DJ Zegon, BaianaSystem e Melly, "Caju" une universos em busca de públicos plurais, mas não se esforça para isso. "Índigo Borboleta Anil" (2021), estreia solo após a fase com os Caramelows, já mostrava essa versatilidade. "Caju" mantém e ainda soa corajoso no meio de um mercado que ignora quem não segue fórmulas. Liniker é das que foge em nome de levar a sério seu ofício. Por isso, aos 29 anos e menos de 10 de carreira, segue sendo uma voz coerente e surpreendente.

Nando Reis reúne 26 canções em projeto ambicioso lançado em vinil
Nando Reis reúne 26 canções em projeto ambicioso lançado em vinil

Em busca do pote de ouro

Quem lança álbum triplo na era do streaming? Nando Reis lançou esse questionamento junto com seu novo projeto, que é um álbum triplo que privilegia a menor fatia do mercado musical atual: a de quem compra discos físicos. "Uma estrela misteriosa revelará um segredo" foi lançado primeiro em um box com quatro vinis ao preço nada popular de R$ 590 (sem o frete). As vendas são exclusivas no site oficial de Nando.

Semanas após a edição física, chegaram os EPs digitais "Uma", "Estrela" e "Misteriosa". Lançado com mais de uma semana entre um e outros, cada um trazia parte do repertório dos LPs - para a íntegra de cada disco é preciso esperar mais. E o conteúdo do quarto LP ("Revelará um segredo") é exclusivo para quem adquiriu o box.

Se essa estratégia de lançamento é curiosa e ousada, o disco é também um dos mais ricos da discografia de Nando Reis. Produzido entre Brasil e EUA, o álbum conta com participações de Peter Buck (REM), Barrett Martin (Screaming Trees), Mike McCready (Pearl Jam), Duff McKagan (Guns'n'Roses), Pretinho da Serrinha, maestro Ruriá Duprat, entre outros.

São 26 músicas no projeto completo com tudo aquilo que se espera de um disco de Nando Reis: baladas de amor, letras cheias de imagens psicodélicas, rocks melodiosos e algumas doses de brasilidade. Em meio a esses elementos reconhecíveis, se destacam o sambarock "Composição", o peso de "Rio Creme" e a stoniana "Ginger e Red". Se destaca também a vontade de um veterano para criar uma roda que faça girar sua música do jeito que ela merece.

Edson Cordeiro lança single dividido com Almério
Edson Cordeiro lança single dividido com Almério

Notas musicais

Encontros

Edson Cordeiro segue se dedicando ao álbum em que cantará músicas - novas ou não - de Zeca Baleiro. Com produção do próprio maranhense, o novo single do projeto é uma regravação bem pop de "Quase nada", em dueto com o pernambucano Almério. 

Retorno

Passada a fase Bala Desejo, Dora Morelembaum apresenta o primeiro single do seu disco solo. "Caco" tem um clima tropical, letra divertida, balanço carioca e voz certinha de Dora. A propósito, o Bala Desejo participa da faixa fazendo vocais.

Inéditas

Passados 12 anos, um dos grandes hitmakers dos anos 1980 retorna com novo disco. Disponível em streaming, Nico Rezende lança "Primeira vez", que traz parcerias com Nelson Motta e Jorge Vercillo, e participações de Isabella Taviani e Roberta Campos.

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