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Da Fluminense FM ao Rock in Rio, filme recria o nascimento do Rock80
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Da Fluminense FM ao Rock in Rio, filme recria o nascimento do Rock80

Estreia do Globoplay, filme narra nascimento da Fluminense FM, eleva o Rock in Rio e compromete a história do Brasil
Tipo Opinião
Johnny Massaro e Marina Provenzzano em 'Aumenta que é Rock'n Roll' (Foto: H2O Filmes/Divulgação )
Foto: H2O Filmes/Divulgação Johnny Massaro e Marina Provenzzano em 'Aumenta que é Rock'n Roll'

Poucos eventos são tão marqueteiros quanto o Rock in Rio. Não que ele não tenha importância na história do showbusiness nacional, mas querer fazer de si um "Woodstock Anos 80" é mais um esforço próprio do que um reconhecimento público - para quem não lembra, até vender caixas com "a lama original da edição de 1985" guardada por 30 anos eles tentaram, mas o produto encalhou na loja oficial. As razões que levaram Roberto Medina a criar o megaevento são conhecidas: ganhar mais dinheiro. De quebra, ele fez o mercado de shows brasileiro caminhar algumas casas para frente e fez estrelas internacionais aceitarem tocar por aqui. Até então, ainda havia o medo de morrer flechado por índios no meio da rua ou ter todo o equipamento roubado.

Mas a verdade é que, antes de se tornar uma marca ultralucrativa que não necessariamente toca rock nem necessariamente acontece no Rio de Janeiro, o Rock In Rio nasceu junto com um mercado que começava a descobrir o jovem enquanto público consumidor. Tanto que foi nessa época que surgiram Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Plebe Rude, Lobão, Sempre Livre e mais uma penca de artistas que defendiam a bandeira do rock nacional (ou BRock). Em comum, essas bandas e artistas tinham o respaldo de uma rádio que, antes de todos, abriu os olhos para aquela turma.

Meio pirata, mambembe e muito corajosa, a Fluminense FM é o pano de fundo do filme "Aumenta Que é Rock'n'Roll", recém-chegado ao Globoplay. Dirigido por Thomas Portella ("Qualquer gato vira-lata") e com roteiro de L.G. Bayão ("Maníaco do Parque" e "Shaolin do Sertão 2"), a comédia romântica é um grande delírio que mistura duas gotas de drama, uma pitada de drogas, outra de amor proibido, duas colheres cheias de música e atuações convincentes a gosto.

Fundador da Fluminense FM, Luiz Antonio Mello é vivido de forma cômica por Johnny Massaro. Com jeito ingênuo e muito ciente das próprias crenças, ele assume um estúdio caindo aos pedaços, com aparelhagens sucateadas, localizado em Niterói. Como certeza, ele só tem duas: é uma rádio voltada para jovens e só toca rock. Ao reunir um punhado de irresponsáveis apaixonados por música, ele conhece Alice (ou Aline, interpretada pela linda Marina Provenzzano), personagem fictícia que é seu par romântico. E aí a história se torna um romance qualquer de Sessão da Tarde com final feliz.

Apesar de só pretender fazer mais propaganda do Rock In Rio, "Aumenta que é Rock and Rol" chama atenção para um capítulo importante da comunicação brasileira. A Fluminense FM tinha somente mulheres na locução e muitas delas estavam nessa função pela primeira vez. Com ingenuidade e inexperiência, todos foram criando uma linguagem nova que atraiu o público-alvo e ainda se tornaram relevantes quando aceitaram tocar qualquer fita que chegasse às mãos deles. Mesmo mal gravada, desde que fosse rock. Assim, ali tocaram pela primeira vez Legião Urbana, Blitz, Paralamas do Sucesso e fomentaram uma cena em busca de um lugar ao sol do sucesso.

Johnny Massaro e Marina Provenzzano em 'Aumenta que é Rock'n Roll'(Foto: Divulgação H2O Filmes)
Foto: Divulgação H2O Filmes Johnny Massaro e Marina Provenzzano em 'Aumenta que é Rock'n Roll'

A juventude da época reconheceu o esforço e os improvisos da "Maldita", como foi apelidada a rádio. E isso garantiu a audiência entre essa faixa de público e alguns problemas com a censura federal. Mesmo com vida curta, de 1981 a 1985, essa rádio guerrilheira, libertária e aberta às novidades deixou uma marca forte na história nacional, ao ponto de ser convidada por Roberto Medina (interpretado por um elétrico e visionário Charles Fricks) para ser curadora das atrações do Rock In Rio.

E é nesse ponto que o filme descamba para uma pieguice em nome de elevar o nome do festival. Começa que é no meio da multidão que se aglomerou em Jacarepaguá entre os dias 11 e 20 de janeiro de 1985 que acontece o desfecho romântico de "Aumenta que é Rock'n'Roll". Cenas do festival original entram em sequência para dar um ar documental à película. E aí textos vão contando o quanto aquele momento foi apoteótico, a ponto de dizer que em "15 de janeiro de 1985, o Brasil elegeu o primeiro presidente civil, depois de 21 anos de ditadura militar" e que Luiz Antonio Mello continuou "surpreendendo com sua rádio LAM", agora através da internet. Tancredo Neves foi eleito por uma parcela muito pequena do Brasil, uma vez que o voto direto ainda não era permitido para presidente e protestar contra isso era perigoso. Do outro lado, é bem difícil a Rádio LAM causar o mesmo impacto da Fluminense FM, que tinha o fogo exato para incendiar um cenário em ebulição. Era uma época de gritos presos na garganta. A Maldita percebeu isso e deu voz a uma nova geração com novos sonhos e novos sons. "Aumenta que é Rock'n'Roll" não dá a dimensão correta à grande obra da vida de Luiz Antônio, mas consegue divertir o público por cerca de duas horas.

Poster do filme 'Bete Balanço'
Poster do filme 'Bete Balanço'

Anos 80 no cinema

Menino do Rio (1982)

Pioneiro entre os filmes que captaram a cena jovem da época, essa aventura conta com André de Biasi tentando conquistar o coração (e a família burguesa) da modelo Patrícia Monteiro (Claudia Magno). Dirigido por Antonio Calmon.

Garota Dourada (1984)

Sequencia de "Menino do Rio", o filme tem ondas e surf como pano de fundo para uma disputa amorosa envolvendo Andre de Biasi, Bianca Byington e Roberto Bataglin. Tem participações de Marina, Ritchie e Sergio Malandro.

Bete Balanço (1984)

Surfando na onda do rock, Lael Rodrigues dirige três filmes batizados com nomes de sucessos da época. Além deste que levou o nome do hit do Barão Vermelho (que até participa do filme), ele fez "Rock Estrela" (1986) e "Rádio Pirata" (1987).

Areias Escaldantes (1985)

Nesta distopia futurista dirigida por Francisco de Paula, um país fictício vive dominado por terroristas. Contra eles, uma polícia muito atrapalhada. Participações de Lobão, Ultraje a Rigor, Titãs, Regina Casé e Diogo Vilela.

Rockmania (1986)

Dirigido por Adnor Pitanga, é mais um dos típicos musicais da época, em que tudo era desculpa para colocar um cantor em cena ou tocar uma música. Tanto que a aventura, filmada em Cabo Frio, é estrelada pelo ex-ídolo jovem Marcelo.

Um trem Para as estrelas (1987)

Já encerrando a sequência de filmes "roqueiros", esse conta com um jovem saxofonista vivido por Guilherme Fontes que sai em busca da namorada pela madrugada do Rio de Janeiro.

Foto do Marcos Sampaio

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