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Zé Manoel reafirma discurso político em disco de clima solar
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Zé Manoel reafirma discurso político em disco de clima solar

Zé Manoel volta feliz em novo disco, sem esquecer o discurso que o destacou na música nacional
Tipo Análise
Zé Manoel volta mais feliz em novo disco disco de inéditas (Foto: Wendel Assis/ Divulgação)
Foto: Wendel Assis/ Divulgação Zé Manoel volta mais feliz em novo disco disco de inéditas

Em fevereiro deste ano, quando voltou a Fortaleza com o show que celebra o Clube da Esquina, Zé Manoel tomou um susto. Ao final do espetáculo, dividido com o pianista Amaro Freitas, ele abriu espaço no repertório mineiro para cantar uma composição própria. Eis que o público cantou junto! Como ele nunca trouxe o repertório autoral para cá, não esperava esse acompanhamento da plateia.

A esperança de voltar com as próprias canções vem junto com o novo disco. Com 11 composições inéditas, "Coral" chega quatro anos depois de "Do Meu Coração Nu", uma obra densa e introspectiva sobre a ancestralidade e a história do povo negro. A relevância e a contundência do discurso permanecem, mas ele optou por voltar diferente. "Como o último foi durante a pandemia, ficou muito ligado àquele sentimento de angústia. Foi um momento muito mais introspectivo para todo mundo. Então eu tinha essa vontade de fazer um disco mais solar, mas feliz. Sei lá... Com esse intuito de uma perspectiva, pelo menos, de que as coisas melhorem", explica Zé Manoel.

Por telefone, de São Paulo, onde mora desde 2016, o cantor, compositor e pianista pernambucano discorre calmamente sobre todas as referências presentes em "Coral", que vai da black music norte-americana à tradição popular brasileira. Esse primeiro elemento surge na abertura, com o coro gospel de "Golden" feito por Gabriela Riley, norte-americana filha de brasileira e ex-residente do Rio de Janeiro, onde conheceu Zé. "É uma canção que ela fez dedicada a mim. E é uma das primeiras, tanto que quase deu nome ao álbum", detalha. Já o Brasil vem bem representado no balanço de "Menina Preta de Cocar", escolhida como primeiro single do disco. "Uma canção mais brasileira que fala da junção da cultura preta e indígena, que é uma coisa muito do Nordeste".

As referências de "Coral" também passam por Miriam Makeba (1932-2008), cantora e ativista sul-africana. É dela e de Harry Belafonte a gravação de "Malaika", que Zé Manoel refez com letra de Arthur Nogueira e dueto com Luedji Luna. A cantora baiana também aparece recitando um texto de Lubi Prates, numa vinheta batizada com o nome da poeta paulista. Outra convidada é Alessandra Leão, que divide "Iyá Mesan". "É uma canção para Iansã. Sonhei com essa melodia e durante muito tempo fiquei esperando a pessoa certa para escrever essa parceria comigo", comemora Zé Manoel.

Foi também num sonho que a voz de Dorival Caymmi chegou para o pernambucano cantando uma melodia cheia de melancolia. Ele acordou, gravou e concluiu a faixa que dá nome ao disco e fala sobre a saudade e o desejo de voltar ao sertão, mesmo sabendo que esse desejo que vai precisar esperar um bocado ainda. "É uma carta de despedida a essa pessoa, Coral, mas é muito mais sobre ir embora", acrescenta ele sobre uma faixa que arde entre a tristeza e a resiliência.

A saudade de casa também aparece em "Siriri", adaptação de uma composição do pernambucano Onildo Almeida que a mãe de Zé Manoel botava para tocar em casa na voz de Marinês (1934-2007). "É também uma forma de resgatar essa figura que foi muito importante, muito grande para a música brasileira e nordestina. Como uma mulher fazendo baião, fazendo forró naquela época, eu acho que ela sofre esse apagamento", lamenta Zé Manoel que também resgata uma das grandes figuras da bossa nova na faixa "Canção de amor para Johnny Alf".

Tom Jobim, Nina Simone, Dick Farney, Tânia Maria, Cascatinha e Inhana, Astrud Gilberto, Alaíde Costa, Ubiratan Marques e outros nomes passaram por "Coral" como presença física ou inspiração. Produzido por Bruno Morais, o álbum tinha a difícil missão de apontar contra preconceitos e apagamentos soando esperançoso. Apesar de mais feliz, Zé Manoel não nega o desafio. "Ironicamente, apesar dele ser um disco muito solar, foi um processo bem difícil. Muita correria, é um disco independente, muitas questões com que eu tive que lidar junto com o 'presente' que a gente ganhou nesse período que é a ansiedade. Mas depois eu fiquei feliz com o resultado porque acho que ele cumpre o papel de ser um disco mais solar mesmo, independente do processo".

Nego Célio, DJ, MC e produtor
Nego Célio, DJ, MC e produtor

A lista de Nego Célio

Tongue in Chic (1982) - Grupo liderado por Nile Rodgers, guitarrista de uma pegada única. Já conhecia o Chic, mas esse álbum foi uma indicação do meu parceiro DJ Gato Preto no ano novo de 2014, talvez.

Curtis (1970) - Do grande mestre do soul Curtis Mayfield. Esse álbum tem uma ligação muito forte comigo: foi o primeiro CD que comprei com meu primeiro salário trabalhando na CLT.

Gerson King Combo (1977) - No disco tem soul e muito funk, e as letras ressaltando a negritude inspirado no movimento Black Power. Nesse disco destaco "Mandamentos Black", "Andando nos trilhos" e, para fechar, "Swing do rei", que já começa com uma batera pesadíssima.

Nesse Inverno (1977) - Esse disco eu amo demais. Quando escutei, achei a voz do Tony Bizarro parecida com a do Tim Maia, mas foi só a primeira impressão. O que me pega nesse disco é a mistura do funk tradicional com a riqueza da nossa percussão brasileira.

Thriller (1982) - O que falar desse disco? Simplesmente o mais vendido do mundo. Michael Jackson é o meu artista favorito desde o seu primeiro álbum "Got to be there". O disco "Thriller" é realmente uma paixão.

Cazuza e Frejat, do Barão Vermelho, dividem o palco do Rock in Rio 1985
Cazuza e Frejat, do Barão Vermelho, dividem o palco do Rock in Rio 1985

Notas Musicais

Parceria

Quase 40 anos após Cazuza deixar o Barão Vermelho, a banda voltou a gravar uma composição inédita do poeta exagerado. A letra de "Do tamanho da vida" foi cedida por Lucinha Araújo. A banda musicou e lançou durante o Rock In Rio.

Parceria 2

Incansável, Zeca Baleiro está com mais um disco na pista. "Coração Sangrento" é fruto de sua parceria com o catarinense Wado, todo com canções inéditas compostas durante a pandemia. Duas faixas já estão nas plataformas, mas o álbum completo só em outubro.

Parceria 3

Representantes de diferentes gerações da música pernambucana, Jáder convidou Otto para dividir uma regravação de "Me dá meu coração", de Accioly Neto (1950-2000). A produção é de Barro e Guilherme Assis, com sanfona de Karol Maciel.

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