Forgotten Boys volta com nova formação, disco de inéditas e novos sons
Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Forgotten Boys volta com nova formação, disco de inéditas e novos sons
Após 13 anos de "Taste it", os Forgotten Boys retorna. De volta à banda, Chuck Hipolitho fala sobre como nasceu "Click Clack" e sobre se manter vivo por mais de 25 anos fazendo rock
Discografia - Queria começar sabendo a história do novo disco. Quando ele começou a ser composto? Chuck Hipolitho - A gente estava com a ideia de fazer uma turnê fora do Brasil e por isso a gente tinha que ter um disco. Eu falei: "cara, vamos pegar as músicas que a gente já sabe tocar com a química atual da banda ao vivo, vamos regravar as que estão no setlist atual e vamos falar que é um disco de inéditas lá para fora". Foi simplesmente isso. Mas daí quando a gente começou a ensaiar, começou a ver coisas novas e começaram a aparecer músicas novas. Quando a gente percebeu, tinha 10 músicas, né? Então, foi desse jeito, cara. E aí as músicas começaram a vir, as letras começaram a vir uma atrás da outra. A capa a gente queria que fosse uma imagem simples, icônica de algum jeito, que também não falasse muita coisa. De repente apareceu aquele desenho e a gente falou, essa é a capa. O nome veio antes, que é uma onomatopeia, uma brincadeira com o som de você abrir um canivete, que é um símbolo que a gente usa já. Então veio o "Click Clack", depois veio a capa.
Discografia - O último disco de inéditas do Forgotten já conta mais de 10 anos, tempo de muitas transformações pelo mundo, incluindo uma pandemia e um governo Bolsonaro. Como foi esse tempo para a banda? Chuck - Quando eu voltei para a banda em 2016, a gente já estava feliz de ter uma banda que toca e que se dá bem. Aí a gente pensou: "a gente podia gravar um disco". Só que esse propósito nunca apareceu com muita força e a gente foi levando a banda, né? E, pô, no meio dessa história a gente teve uma pandemia, que foi um período horrível para a humanidade. Por mais que eu tenha feito muitas coisas legais durante a pandemia, de criatividade, tipo um disco solo, mas também tivemos o governo Bolsonaro, que foi um desastre civilizatório. Eu acho que fez a gente dar mais valor para o que a gente tem e para o que a gente é, sabe? E deu mais certeza do que a gente considera certo e bom. Foi um tempo para amadurecer isso e, de repente, a gente materializou isso com um disco.
Discografia - O novo disco me pareceu mais focado na pluralidade de ritmos e timbres, do que na velocidade. Queria que você falasse do som que a banda queria mostrar nesse disco. Chuck - Tem a ver com a gente sair fazendo, sem muito saber onde vai dar. Então a gente deixou fluir as coisas que a gente tinha, que foram aparecendo. Eu acho que o Forgotten Boys é uma banda que toca muito bem. E eu tenho essa teoria de que, quando uma banda toca muito bem, a gente tem uma percepção de que os timbres que estão ali são muito bons. A performance sublinha o timbre. A gente queria que fosse um som vivo e por isso a gente gravou ao vivo, com todo mundo se ouvindo, com o som vazando na sala. Por mais que tenha esse sonzão, que tenha tudo isso, eu acho que é uma coisa mais focada em tirar o take gostoso, o take bom do que a banda tocou junto. E com isso, cara, com essa qualidade, vem o resto.
Discografia - O Forgotten já passou por diferentes formações. Nasceu de uma dupla e hoje é um quarteto. Quem é o Forgotten que chega ao "Click Clack"? O que a maturidade de 25 anos de carreira ensinou a vocês? Chuck - Acho que ensinou a gente a ter paciência. Acho que ensinou a gente a ficar atento, descobrir qual que é a nossa própria voz. Ensinou a gente a melhorar e potencializar a relação da gente como pessoa e como músicos. Ajudou a gente a pescar os bons momentos de criatividade nossos e dos nossos parceiros, dos outros integrantes da banda como um grupo (além de Chuck, na bateria, a banda hoje é formada por Gustavo Riviera, voz e guitarra; Zé Mazzei, baixo; Dionísio Dazul, guitarra). Então é um disco novo, só que é um disco novo comigo que já fui da banda. Saí, voltei, agora estou tocando bateria, produzi o disco e mixei. Se eu me aprimorei como artista, como profissional, como pessoa durante esses últimos 25 anos, os outros quatro integrantes também. Isso ajuda a gente a ter uma banda e a fazer um disco que olha para dentro e que não fica olhando muito para fora, né? E a produzir um negócio que tem a nossa própria voz ou estilo, chame como quiser. Porra! O milagre de ter uma banda de rock que se dá bem, compõe músicas e grava discos e toca para caralho ao vivo, né, cara? Você falou ali, que a banda começou com duas pessoas. Cara, é tão difícil uma pessoa... Eu filosofando aqui... É tão difícil uma pessoa tocar um instrumento musical. Imagina tocar um instrumento musical com outra pessoa. Então, assim, gravar um disco é um milagre e a gente está aqui realizando mais um.
Discografia - O Forgotten Boys se firmou na cena do rock brasileiro pelo trabalho autoral e pela personalidade sonora muito forte. Isso não impediu a banda de gravar um disco de covers. Como foi essa experiência de escolher, recriar e gravar sons de outros autores? Chuck - Sobre o disco de covers, eu não posso falar muito bem, porque foi um disco gravado enquanto eu estava fora da banda. Mas é um disco que saiu na Argentina, pela Rastrillo Records, que é a gravadora de um amigo nosso lá, o Pirulo. Foi a escolha de músicas, assim eu vejo e sinto, que foram escolhidas pela importância que tem como influência para a banda. Várias dessas músicas eu mesmo cheguei a tocar com a banda, quando eu tocava antes. Algumas a gente até toca hoje, ainda, ao vivo. Então são músicas que fizeram parte do nosso repertório e do nosso, digamos, leque de inspirações e influências. Ajudou a gente a encontrar a nossa própria voz, mesmo que em algum momento do passado a gente tivesse até imitando esses artistas. Mas eles ajudaram, guiaram a gente até aqui, né? E aí basta a banda tocar junto para fazer com que essas músicas saiam com a nossa cara, a nossa voz, com a nossa personalidade.
Discografia - Ouvindo o som do Forgotten, é fácil perceber as influências da banda: o punk e o rock dos anos 1970 e bandas que se influenciaram por essa época. Fora do rock, o que influencia o som da banda? Chuck - Como eu disse, é um disco que foi feito olhando para dentro, sem pensar muito em referências, então as referências que aparecem aí muitas vezes elas são mais claras para as pessoas que estão escutando do que para a gente mesmo. A gente já escutou diversas coisas sobre punk, classic rock, até rock alternativo, e a gente mesmo não tem tanta noção disso. Mas eu diria que no passado a gente se influencia mais, digamos, por aspectos micro de artistas, e hoje, mais amadurecidos, a gente se influencia por aspectos macro da coisa. Então eu diria que não é só bandas, filmes, séries, desenhos animados, livros. É a própria política, é a relação que a gente tem com as pessoas, tudo isso influencia a gente, inspira a gente. A gente, de repente, se influencia por bandas de rock novo? Não sei, cara, se tanto assim. Talvez a gente veja bandas novas realizando coisas de um jeito que a gente admira estarem sendo realizadas. Digamos assim, sabe? Quando a gente começou a fazer o disco, a gente falou do Idols, por exemplo, do Viagra Boys, como bandas que fazem um punk rock e que estão achando um jeito de fazer isso de uma forma contemporânea. Entre outros nomes que eu não consigo lembrar aqui. Mas acho que sim, a gente se influencia, mas talvez não tão fortemente. Isso acaba acontecendo, isso fortalece o bolo de coisas que influenciam a gente.
Discografia - O "Click Clack" está sendo lançado em LP, que é um formato que vem ganhando espaço no mercado, apesar do preço alto. Qual a importância que você vê nesses diferentes suportes - LP, CD e K7 - quando o mercado da música é principalmente dominado pelo streaming? Chuck - Hoje em dia a gente vive num mundo onde as pessoas que querem escutar música podem escutar em vários formatos diferentes, seja por fetiche, por comodidade ou conveniência. Eu mesmo não tenho toca-discos em casa. Já tive. Não tenho onde ouvir CD, escuto em plataformas de streaming. Mas é muito doido, depois de 25 anos a gente estar lançando. Lançamos três discos da nossa carreira em LP: o "Gimme more" (2002), "Stand by the D.A.N.C.E." (2005) e agora o "Click Clack" (2024). Então, é muito doido, a gente estar realizando esse sonho, porque era um sonho nosso do começo e que não era possível porque não existia demanda ou porque era muito caro fazer (um vinil). E hoje em dia, eu acho que talvez por uma janela de oportunidades dos tempos de hoje, com um legado que a banda deixou, isso faz mais sentido. O "Click Clack" é o primeiro disco que já sai em LP e é no lançamento. Sai em LP e em CD. Mais louco do que LP é o CD. Quem que ouve o CD? Tem muita gente que ouve e gosta. Então a importância é estar fazendo um negócio em formatos que são desejáveis para quem quer ter a banda. Não só ouve a música. Você tem o disco, você tem a banda, tem um pouco da banda. E, cara, dá muito mais em termos comerciais. A gente consegue ter um retorno comercial muito, muito, muito maior vendendo um produto físico do que com o dinheiro que vem de streaming. Era até uma coisa a pensar: não lança mais nada no streaming. Quem quiser tem que comprar o CD ou LP. Só que daí também eu acho que não ajuda. Mas, assim, se a gente pudesse só vender o LP e o CD, seria um mundo perfeito.
Discografia - Olhando a lista das mais ouvidas nas plataformas digitais, o mercado é basicamente dominado por sertanejos e alguns nomes identificados como pop. Como manter uma banda de rock (e rock de verdade) nesse cenário? Chuck - Primeiro a gente não se importa com esse negócio de ser uma banda de rock de verdade. A gente é o que a gente é, e quem quiser achar que a gente é de verdade ou não, fica para quem escuta. Acho que não tem a ver com a gente, a gente não vai levantar a bandeira da defesa do rock. Mas, sim, a gente se entende hoje como uma banda de rock alternativo, que já tentou fazer coisas que conversavam com uma coisa mais popular, como escrever músicas em português e fazer umas músicas com um formato um pouco mais pop - se isso é possível com o Forgotten Boys! Mas hoje a gente entende que a gente é uma banda de rock alternativo e tem orgulho de ocupar esse lugar, de estar nesse lugar. Eu observo todo tipo de coisa, sou muito interessado pela música pop. Mas como se manter: tendo outros empregos, é simples. Porque a banda não vai ser o nosso ofício, o nosso trabalho. O que tira o peso dela também, que facilita por um lado. Mas, cara, é amor pela coisa, por essa vocação e aptidão aí para fazer outras coisas também. E continuar tendo a banda como uma coisa que a gente ama, sem a obrigação de isso ter que se transformar numa coisa comercialmente profissional.
Discografia - Como estão os planos para levar esse novo disco para os palcos? Chuck - A gente pretende fazer dois shows de lançamento aqui no Sesc Avenida Paulista em novembro, e tem mais um show no final do ano. E aí esperar o Carnaval passar para ver o que a gente faz. Mas a gente já fala de fazer músicas novas e tal. Então vamos ver o que aparece no ano que vem. A gente quer dar conta de uma demanda, se ela existir, e continuar empurrando a banda para frente.
Uma pequena pausa
Este humilde colunista, como humano que é, também merece descanso. Assim sendo, estarei de férias no mês de novembro. Durante esse tempo, tenho a alegria de anunciar que este espaço será ocupado, mais uma vez, pela cantora, compositora, jornalista e dona de ideias incríveis Mona Gadelha. Um luxo ter uma suplente desse quilate! Logo mais em dezembro estarei de volta. Até lá.
Discografia Forgotten Boys
- Forgotten Boys (2000)
- Gimme More (2002)
- Stand by the D.A.N.C.E. (2005)
- Louva-a-Deus (2008)
- Taste it (2011)
- Outside of Society (2014)
- Click Clack (2024)
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.