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E no rádio rolava Big Boy
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

E no rádio rolava Big Boy

"Teu canto é penoso e faz medo" - vozes na trilha de "Ainda Estou Aqui"
Big Boy, famoso Newton Alvarenga Duarte, viveu entre 1943 e 1977 e foi precursor multimídia (Foto: Divulgação )
Foto: Divulgação Big Boy, famoso Newton Alvarenga Duarte, viveu entre 1943 e 1977 e foi precursor multimídia

Nas cenas iniciais do filme "Ainda Estou Aqui", a senha (para mim) da viagem de volta aos anos 1970 é o rádio do carro anunciando um programa do Big Boy (foi assim que ficou famoso Newton Alvarenga Duarte, 1943-1977). Quem foi o Big Boy que abria seus programas e mil outras coisas que fazia (precursor multimídia, né?) com o jargão: "Hello, crazy people"? Acho que foi a primeira vez em que ouvi falar no que viria a ser um DJ (disc jóquei), e o fato é que os sons dos programas de Big Boy chegaram até a mim, adolescente em Fortaleza, pelas ondas do rádio.

O filme "Ainda Estou Aqui" (Walter Salles) é narrado com uma trilha setentista e dá um saudosismo danado! Gal cantando "Acauã" (Zé Dantas), do álbum "Legal"(1970), com arranjo e interpretação que já anunciavam a sonoridade exuberante daquele momento e o que viria depois. Confesso que na cena em que Eunice Paiva, vivida por Fernanda Torres, é levada e fica presa durante vários dias, não conseguia me aquietar na cadeira, tão angustiante e revoltante essa situação, amplificada no desempenho magistral. Veio de novo aquela sensação de medo que nos circundava jovens embebidos em tropicalismo e rock and roll. Gal, Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Mutantes, Tom Zé e Juca Chaves (a deliciosa cena em que a família feliz dança "Take me Back to Piauí"), entre outros, acrescentam sentido à volta no tempo que remete ao medo e o fascínio por uma época, desbunde e resistência). O rádio do carro, o rádio da cozinha. Pré-história das plataformas digitais e suas playlists, quando se gravava músicas em fitas cassetes de 60 minutos com lado A e B, montava-se uma capinha com colagens e fotos, para dar de presente a um amor ou um(a) amigo(a).

A ditadura no Brasil é abordada em outra obra recente, o livro "Abaixo a Vida Dura", de Cadão Volpato, escritor, músico e jornalista, que mergulha na história da tendência "Liberdade e Luta", apelidada de "LIbelu", a partir de uma república de estudantes, seu cotidiano, seus dramas, crises, sua vontade de "mudar o mundo" e que vive o trauma da invasão da Pontifícia Universidade Católica (PUC), em São Paulo, em 1977. Cadão, que também criou uma ótima oficina para escritores em modo virtual (Ler e Escrever), vai apresentando as personagens em cada capítulo, entre memória e ficção, na atmosfera da repressão, de um tempo que permanece vivo - das cartas, telegramas, jornais alternativos rodados em mimeógrafo -, mas que não deve voltar jamais! Estejamos sempre atentos e fortes!

Um manancial de sonoridades - é o Ceará!

O que é música cearense? É aquela que se faz aqui, no estado, ou fora dele, mas com um "sotaque" (aqui num sentido mais amplo, não só da fala), um acento característico de identidade. Isso é muito claro na geração Pessoal do Ceará e na posterior, a Massafeira. Repare nos lançamentos dos últimos anos e faça sua playlist. Esse é um convite para conhecer ou acompanhar.

Aguarrás - Briar
álbum

Numa noite de audição na Hifive (loja de discos que promove festas e pocket shows), Briar mostrou seu "Aguarrás", o primeiro álbum solo, produzido por ele e Glhrmee, que traz participações de Giovani Cidreira e Fernando Catatau. "O nome veio com um subtítulo que eu acabei desistindo de usar: 'aguarrás, preservar o brilho da memória'".Reorganizando a "gaveta de lembranças, boas e ruins", Briar, que participa de vários projetos musicais, incluindo a banda Procurando Kalu, considera seu trabalho experimental sensível, com referências de rock psicodélico cearense, reggaeton e música eletrônica nas faixas "Quase Rir", "Outro Espelho", "Sinais e Sintomas", "Difícil Não Chorar", "Toda Beleza", "Terceiro Lado do Rio" e "Doa Quem Doer", todas escritas por ele, exceto "Espelho", de Alice David.

Fogo Doce - Sol Maria
single

Primeiro single do álbum de Sol Maria, cantora e compositora do Cariri, nascida no Crato, "Fogo Doce" abre caminho para o que ela considera "sagacidade e doçura musical, que intercala cuidadosamente toda uma textura contemporânea sonora à musicalidade nordestina". Com direção musical e arranjos de Diego Souza, que também toca piano, baixo e violão na faixa, o single traz Ranier Oliveira na sanfona e Alisson Matos na bateria. Foi gravado e mixado por João Afonso.

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