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A arte de ser independente na música cearense
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Cantora, compositora, jornalista e produtora, Mona Gadelha é formada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre pelo PPGCom/UFC

Mona Gadelha arte e cultura

A arte de ser independente na música cearense

O que é ser independente hoje? Artistas cearenses analisam contexto do mercado
Tipo Opinião
Mona Gadelha (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Mona Gadelha

Fazer música independente é produzir e conduzir sua própria carreira. E artista independente sabe "a dor e a delícia" de ser assim. Às vezes por escolha, outras vezes porque não há outro caminho - nem outro palco - para mostrar suas criações. Desde que Antonio Adolfo lançou o seu disco "Feito em Casa" (1977) e o Boca Livre "estourou" com um álbum independente, em 1979, muita água rolou, com grandes transformações na indústria musical. Daquele tempo, só ficou a essência: a vontade de continuar fazendo música, entre o sonho e a capacidade de resistir. Perguntei para artistas cearenses o que é ser independente hoje e chegamos a respostas poéticas e também análises do mercado. Confiram!

 

Artista Arquelano
Artista Arquelano

O que eles dizem

Vitoriano (Músico, cantor, compositor)

"Ser artista independente é ser livre para sonhar!"

Luh Lívia (Cantora, compositora)

"Ser artista independente é um ser ou não ser permanente. Pode ser também um voo livre eloquente, de quem carrega a esperança e a educação nos pés, nas mãos e na voz. Contraria qualquer relampejo atroz. Artista independente, para mim, é o melhor caminho. Fiz fãs e amigos assim. To be continued rs"

Mimi Rocha (Músico, compositor, produtor)

"No fim dos anos 1970, alguns artistas famosos começaram a questionar os métodos de remuneração usados pelas gravadoras que eles consideravam abusivos em relação à divisão dos lucros obtidos. Frank Zappa nos EUA, Peter Gabriel na Inglaterra são alguns exemplos de insatisfeitos que montaram seus próprios selos, embora os discos continuavam a ser distribuídos pelas gravadoras tradicionais.

A vantagem, segundo eles, era ter um maior controle sobre o conteúdo artístico do trabalho (não tinham mais que se sujeitar às amarras de um produtor cobrando algo comercial). Aqui no Brasil esse movimento começou com o pianista e arranjador Antônio Adolfo que lançou de forma independente em 1977 o disco “Feito em Casa” que apesar de ser instrumental vendeu bastante e hoje já tem reedições estrangeiras em vinil e cd.

Em 1979 o Quarteto vocal Boca Livre lança o disco independente homônimo que vira um sucesso e vende mais de 100.000 cópias, levando o grupo a ser contratado por uma gravadora multinacional. O sucesso estimulou outros artistas que eram rejeitados pelas gravadoras a fazer o mesmo e o mercado foi inundado com vários lançamentos, gerando pequenos selos que depois se tornaram gravadoras.

Com o surgimento do CD nos anos 1980 e a evolução tecnológica, os artistas “ independentes" se multiplicaram com a chegada de leis de incentivo à cultura nacionais, estaduais e municipais. Quando as gravadoras foram esmagadas com os downloads ilegais de MP3 nos anos 2000, o funil para um artista ser contratado por um grande selo foi se estreitando bastante e com a chegada do Streaming e de redes sociais com ênfase em música o artista teve que se adaptar novamente e ficar cada vez mais independente.

Hoje são comuns lançamentos onde o artista virou um “Self-made”, gravando em seu“ Home studio”, tocando os instrumentos, mixando, fazendo a capa, divulgando o disco, além de virar também seu produtor e empresário. Infelizmente é o fim da cadeia produtiva onde cada profissional fazia o melhor na sua área para ter um produto final de qualidade"

Nathália Rebouças (banda Pulso de Marte. Multi-instrumentista, cantora, compositora)

"Ser uma artista independente, para mim, é ter liberdade criativa, produzir e gerenciar meu trabalho por minha conta, com tudo o que eu sou e tenho pra dar, sem depender de grandes instituições, assumindo todos os desafios".

Rosabeats (Músico, cantor, compositor, produtor)

"Ser artista independente é encontrar formas únicas e inusitadas de solucionar barreiras que aparecem pelo caminho trilhado. É transformar as incertezas em criações que preencham o próprio coração antes de tudo".

Alan Morais (Músico, compositor, DJ)

"Ser artista independente hoje em dia é ser artista. Não há outra forma de ser artista, principalmente fazendo um recorte para a música. Não tem mais as gravadoras para ser contratado com marketing, estúdio, arranjadores, orquestra. O artista tem que fazer tudo, ser multimídia. Tem que fazer a publicidade, fazer o seu próprio videoclipe. Antes era só criar. Então, resumindo, é ser artista. Não tem com quem contar, a não ser com os próprios amigos artistas, os coletivos".

Marta Aurélia (Cantora, compositora, atriz)

"Não sei se há independência em ser artista independente. Esse termo talvez mereça atualização. O que sei é que viver artisticamente dá muita satisfação e estímulo para enfrentar os enormes desafios de ser artista independente".

Lucas Bezerra (Cantor, compositor)

"No fim das contas, a condição do artista independente no Brasil diz muito sobre as grandes questões que nosso país tem de enfrentar, inclusive em relação à cultura. É tudo uma grande peleja e não há razão para romantizar isso".

Eric Barbosa (Músico, compositor, produtor, pesquisador)

"Ser artista independente é viver entre lucidez, delírios, sonhos, utopias, crenças, desilusão e uma vontade imensa de transformação. De reluzir aquilo que a gente tem de mais precioso".

Arquelano (Cantor, compositor e produtor)

Ser artista independente no Ceará é um ato de resistência e paixão, uma corrida constante em busca de transformar sonhos em realidade e conquistar reconhecimento. Aqui, onde o acesso a recursos e oportunidades é muitas vezes limitado, a jornada de um artista vai além da criação: envolve autogestão, resiliência e uma busca incessante por espaços de visibilidade. Ser artista não tem uma fórmula única; há diversas formas e caminhos possíveis. No meu caso, a construção de uma carreira dentro do mercado exige não apenas talento, mas também uma capacidade de me reinventar em múltiplas funções. Preciso ser, ao mesmo tempo, criador, produtor, gestor, comunicador e estrategista.

Essa multiplicidade de papéis é desafiadora, mas também me permite desenvolver uma visão holística do meu trabalho, fortalecendo minha autonomia e me preparando para os altos e baixos do cenário artístico. Cada conquista, por menor que pareça, é fruto de um esforço contínuo e de uma vontade imensa de crescer sem perder a essência. O objetivo não é apenas sobreviver na indústria, mas construir uma trajetória saudável e sustentável, que dialogue com o mercado sem comprometer a autenticidade da minha arte.

Foto do Mona Gadelha

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