Resenhas tardias 1: Turnê Caetano&Bethânia rende show frio e grandioso
Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Muito se aguardou pela passagem de Caetano e Bethânia pelo Ceará. Fortaleza não estava no anúncio das primeiras datas da turnê milionária, mas foi incluída logo em seguida. Eis que, no dia 16 de novembro, os filhos mais famosos de Santo Amaro subiram ao palco montado no Castelão - que não ficou lotado, mas recebeu uma plateia volumosa e empolgada que vibrou ao longo das 40 músicas do repertório.
Com tantas músicas, houve espaço para sucessos, lados B, solos e duetos, homenagens e momentos questionáveis. Até pelo formato de megashow, quem vinha acompanhando notícias da turnê teve poucas surpresas. Fazendo caber tanta música dentro do tempo previsto - cerca de 2 horas, não havia brecha para conversa ou interação, fosse com o público, fosse entre os irmãos. E aí fica um ponto baixo do show: Caetano e Bethânia pereciam presos aos espaços demarcados, preocupados em ler as letras nos monitores, distantes das figuras expansivas que são em seus shows individuais.
Fora essa rigidez e cuidado com o todo, não faltaram belezas no encontro. Teve a emocionante homenagem a Gal Costa, teve samba da Mangueira, lembranças da tropicália e resgates interessantes, como "Motriz" e "Dedicatória", ambas de Caetano (a segunda só havia sido registrada em um programa de TV). Em seu momento solo, Caetano foi bem populista: tinha opções bem melhores em seu repertório, mas ele cantou, entre outras, "Sozinho", "Leãozinho", "Você não me ensinou a te esquecer" e um dispensável louvor do pastor e cantor Kleber Lucas. Bethânia se saiu melhor relembrando a lindíssima "Brincar de viver", assim como "Negue", "Explode coração" e "As canções que você fez pra mim".
Já de contrato assinado, a turnê Caetano&Bethânia vai ganhar registro em áudio e vídeo que em breve estará nas plataformas digitais - e provavelmente em vinil. O primeiro single é "Fé", de Iza, um dos pontos altos do show ("Fé pra quem é forte, fé pra quem é foda"). Fora isso, ficam as lembranças de um encontro histórico que rendeu um espetáculo com muitas belezas e pouca espontaneidade.
Maria Rita em vinil
Depois de dado como morto e enterrado, o LP voltou à vida e virou moda para jovens que querem se mostrar antenados. Assim, voltou a ser legal frequentar sebos, feiras e integrar clubes de colecionadores. Um desses clubes, o Noize, fez um favor ao público devolvendo duas raridades da música brasileira pós anos 2000.
O primeiro é "Certa Noite acordei de sonhos intranquilos", obra dramática e primorosa de Otto. O disco foi lançado pela própria Noize em 2015, exclusivo para assinantes. Como rapidamente ganhou valor alto no mercado paralelo, chegando a mais de cinco vezes o valor da assinatura, o clube relançou este ano em seu projeto de reprensagens também exclusivas para assinantes.
A outra raridade, esta rara mesmo, é o disco de estreia de Maria Rita. Lançado originalmente em 2003, o disco ganhou uma minúscula tiragem em LP, metade dela distribuída para a imprensa. Chegando a mais de R$1000 em sebos virtuais, o disco ganhou um honroso relançamento que inclui fotos da época, encarte rico em informações e mais qualidade sonora. Um trabalho digno do sucesso Maria Rita teve em sua estreia.
Paralamas em letras
Pioneiros na fusão de ritmos brasileiros e caribenhos, os Paralamas do Sucesso garantiram espaço na historiografia com muito esforço e talento. O encontro do trio foi meio por acaso, mas daí em diante eles saíram em busca de reinventar sons, quebrar barreiras e sobreviver a um mercado que só olha para o que está na moda.
Isso é o que mostra "1,2,3,4! Contando o tempo com Os Paralamas do Sucesso", autobiografia que João Barone lança pela Máquina de Livros. Ao longo de 416 páginas, o baterista conta sua versão dos fatos, desde os primeiros ensaios até o sucesso internacional.
Com texto fluido, Barone explora gravações e turnês, foge de polêmicas, trata todos com cortesia (até históricos confuseiros, como Lobão e Roger Moreira) e reafirma a amizade entre os Paralamas. Às vezes o livro se perde em detalhes de cada elemento da bateria, assim como ele parece ter apressado o encerramento do livro. O que começa bem detalhista, encerra logo depois do acidente sofrido por Herbert Vianna em 2001. Ainda assim, é um olhar para dentro de uma banda que fez e faz história na música brasileira.
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