Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Foto: Divulgação
Faixas do disco 'Cartão Postal', de Evinha, são sampleadas pelo rapper BK
Antigamente eu dizia que três elementos podem atrair o ouvinte para uma música: letra, melodia ou performance. O primeiro aspecto é para quem domina a mensagem, como Chico Buarque. O segundo é para sabe embalar a mensagem, como Tom Jobim. Já o terceiro se refere a como fazer chegar essa embalagem. Um pequeno detalhe colocado na interpretação pode torna-la imortal. Elis Regina sabe disso.
Sim, mas isso era antes. Para os novos tempos, há um elemento preponderante para uma música ser sucesso: o hype. Na era de sucessos e carreiras passageiras, é comum ouvir histórias de ídolos que surgem do nada e vão para canto nenhum. Bem como ídolos do passado que ressurgem, geram notícia e parecem atrair novos ouvintes. Por exemplo, Evinha.
No álbum “Diamantes, lágrimas e rostos para esquecer”, o rapper BK usa samples de “Só quero” e “Esperar pra ver” nas faixas “Só quero ver” e “Cacos de Vidro”, respectivamente. Os dois trechos foram lançados originalmente em 1971, no álbum “Cartão Postal”, um dos mais celebrados de Evinha. Para quem não conhece a moça, ela vem de uma linhagem que rendeu sete cantores: três irmãos dela formaram os Golden Boys, enquanto ela formou o Trio Esperança com outros dois. Com o trio, ela lançou sucessos como “Filme Triste” e “O Passo do elefantinho”. Misturando os dois grupos, ela ainda fez vocais para dezenas de discos, de Vinicius de Moraes e Belchior.
Depois de cinco discos, ela partiu para a carreira solo aos 16 anos e, em 1969, fez história tirando o primeiro lugar nas duas etapas do Festival Internacional da Canção Popular cantando “Cantiga para Luciana”. No mesmo ano, veio o primeiro disco solo, “Evinha 2001”, que já anunciava a mistura de black music, bossa, dance, jazz, tudo interpretado com sua voz curtinha, macia e certeira. Trabalhando ao lado de craques, ela lançou cinco discos antes de gravar com a orquestra de Paul Mauriat, conhecer o pianista do grupo, casar-se e ir morar em Paris. Chegando lá, reativou o Trio Esperança e segue trabalhando, aos 73 anos, numa ponte aérea Brasil-Europa.
A descoberta de BK sobre a obra de Evinha não surpreende. Os anos 1970 seguem como uma fonte inesgotável de timbres, grooves e ritmos que conquistam DJs pelo mundo. Em 2008, Marcelo D2 lançou a faixa “Desabafo” com um trecho de “Deixa eu Dizer”, gravada por Claudya em 1973. A força dada por D2 deu certo e a carioca teve seu momento de hype com relançamentos, novos projetos, participou do The Voice+ e segue trabalhando. Mas o hype já passou.
O mesmo com a imponente cantora paulista Célia, que gravou “David” (Nelson Ângelo) em 1970, em seu disco de estreia. Eis que, 50 anos depois, uma tiktoker americana publicou uma dancinha com a música “Opoul”, de Freddie Dredd, com um sample de “David”. Pronto, era o que faltava para uma legião de adolescentes repetirem a tal dancinha e gerar a ilusão de que Célia, enfim, gozaria do sucesso que não teve em vida.
E assim seguem muitos exemplos: o maestro Arthur Verocai teve seu até então único disco (1972) redescoberto por DJs londrinos nos anos 2000; Tom Zé quase virou frentista, até ser resgatado por David Byrne; e Erasmo Carlos que teve seu hype quando “É preciso dar um jeito meu amigo” entrou na trilha do filme “Ainda estou aqui”.
Fato é que o hype passa e a mesma geração que dançou ao som de Célia já a esqueceu. Erasmos, Evinhas, Claudias são museus de grandes novidades para essa turma. Passou a moda, é esperar a próxima. Sucesso é resultado de investimento – o custo da campanha para “Ainda estou aqui” chegar ao Oscar prova isso. Não é sobre qualidade musical, mas sobre hábitos de consumo. Se manter na moda, como tão bem fazem Caetano, Beatles e Anitta, exige muito dinheiro. Para quem não tem tanto recurso, sobra o hype.
Elisete Cardoso - A Divina Elisete me influencia bastante porque o repertório dela vai desde Jacob do Bandolim a Cartola, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Noel Rosa. É uma lição de que um repertório pode ser construído de uma forma ampla e com muitas verdades, desde que você saiba defender a música, colocar o seu sentimento.
Nina Simone - Me interessa muito essa liberdade com a qual Nina Simone trabalhou. Eu aprendo muito sobre a liberdade de criar o que já existe, que é a maravilha que o jazz proporciona.
Betti Gibbons - Eu gosto muito da forma como ela se utiliza da voz feminina e consegue fazer algo estranho e, ao mesmo tempo, muito legal. Inaugurando um outro estilo, o trip hop é um estilo diferente do jazz.
Dolores Duran - Fiquei encantada com a forma como ela conseguiu trabalhar tanto o jazz como o samba-canção e a bossa nova. E sendo também uma mulher compositora e que lançou clássicos como "Por Causa de Você", "A Noite do Meu Bem" e cantou também "My Funny Valentine".
Gal Costa - Eu conheci com o cantar mais comedido, um jeitinho de frasear a música de uma forma mais sutil, cantando Bossa Nova, Tom Jobim, João Gilberto. E me ensinou muito sobre essa economia que se pode ter ao cantar.
Felipe Cazaux está preparando um EP com quatro faixas e o primeiro single é "Nunca desista". Com participação de Nayra Costa, a canção é uma balada black com letra potente que entrega o que promete no título. O lançamento será dia 20 de fevereiro.
Gratuito
A Marimbanda faz show gratuito neste domingo, 16, às 15 horas, no Parque Adahil Barreto. A apresentação inclui peças de diversas fases do quarteto, incluindo o mais recente disco, "Lindo Sol" (2024). Música instrumental cearense da maior qualidade.
Homenagem
Carlos Malta e o grupo Pife Muderno lançaram esta semana o disco "Edu Pife". Com 12 faixas, trata-se de uma homenagem a Edu Lobo feita com flautas e percussão. O álbum conta ainda com participações de Matu Miranda, Hermeto Pascoal e outros.
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