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Cainã Cavalcante reúne memórias no disco 'Coração de Melodia'
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Cainã Cavalcante reúne memórias no disco 'Coração de Melodia'

Cainã Cavalcante une Ceará e Liverpool em disco inédito que revisita influências de uma vida inteira
Tipo Opinião
Capa do disco 'Coração de melodia', de Cainã Cavalcante
 (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Capa do disco 'Coração de melodia', de Cainã Cavalcante

O violonista cearense Cainã Cavalcante está prestes a completar 35 anos, quase o mesmo tempo que ele dedica à música. Para a história oficial, ele começou a tocar com sete anos e aos onze lançou o primeiro disco, "Morador do Mato" (2001). A produção coube a dois bambas do violão: Manassés de Souza e Tarcísio Sardinha. O fator tempo é ótimo para chamar o afilhado de Patativa do Assaré de "garoto prodígio", como tantos outros fenômenos que surgem nas redes e programas de TV. Geralmente, a comprovação desse prodígio está na velocidade ou em algo espetacular que esses músicos fazem.

Cainã é de outra lavra e, embora ele seja, sim, espetacular, a comprovação só é dada aos ouvidos atentos para o toque preciso, ágil e doce que ele dá às interpretações. Nada parece fora do canto, como mostra o disco "Coração de Melodia", que ele lançou uma semana antes do Carnaval pela gravadora Biscoito Fino. Lançado quatro anos depois de "Sinal dos Tempos" (2021), tributo que prestou ao lendário Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, este novo álbum segue mostrando seu lado intérprete.

Ao contrário de "Corrente" (2018), com nove composições assinadas, arranjadas e executadas somente por Cainã, "Coração de Melodia" é um relicário de lembranças que passam pelo choro, pela canção, pelo rock, além de evidenciar uma experiência que já rompeu as fronteiras do Ceará e do Brasil. Para se ter uma ideia, em seu currículo constam trabalhos com nomes como Ayrton Montarroyos, Ney Matogrosso, Plácido Domingos, Alaíde Costa e o cantor luso-brasileiro Tiago Nacarato, com quem o cearense vai fazer uma turnê europeia a partir de 26 de março.

Mas voltemos a "Coração de Melodia". Embora produzido, dirigido e arranjado pelo próprio Cainã, aqui ele não está só, como em "Corrente". A abertura é sim um solo de violão que pega o choro clássico "Pedacinhos do Céu" (Waldir Azevedo) e transforma numa balada lenta, capaz de espremer almas sofridas. Já em "Faltando um Pedaço" (Djavan), o violão se acomoda entre as cordas da Tallin Studio Orchestra, num trabalho que remete aos arranjos de Claus Ogerman para João Gilberto. Os músicos da Estônia também acompanham Cainã em "Beijar a Arte" (Tarcísio Sardinha) e "Mucuripe" (Fagner/ Belchior).

Esta última ganhou uma abertura que parece chamar o sol para iluminar o mar dos pescadores. Do mar cearense para Liverpool, "Blackbird" (de Paul McCartney, mas creditada a ele e John Lennon), tem seu tema principal entrecortado por improvisos que brincam com ritmos, silêncios, dedilhados e dramaticidade. Uma versão quase irreconhecível. Diferente de "Valsa Brasileira" (Edu Lobo/ Chico Buarque) e o acalanto "Rubi Grená" (Nonato Luiz), mais apegadas ao original.

"Coração de Melodia" encerra com um encontro de Cainã Cavalcante com Rosa Passos, cantando "Carinhoso". "Nutrimos um carinho e uma amizade bonita ao longo desses anos. Sou um admirador antigo da Rosinha, e quando a convidei para participar, ela aceitou imediatamente", comenta o violonista sobre a convidada em material enviado à imprensa. Juntos eles improvisam em mais de seis minutos de interpretação de uma das músicas mais regravadas do cancioneiro nacional. Curiosamente, tantas releituras não tiram a delicadeza desse "clichê" de Pixinguinha e João de Barro. É por esses e outros motivos que dedicar 35 minutos da vida a ouvir o novo disco de Cainã Cavalcante é uma garantia de ser "feliz, bem feliz".

Pingo de Fortaleza com o elenco de 'Solo Feminino 4'
Pingo de Fortaleza com o elenco de 'Solo Feminino 4'

Pingo de Fortaleza e a força da mulher

Ao contrário do que o nome pode sugerir, Pingo de Fortaleza não é acanhado na hora de criar projetos. Ele gosta de opulência, volume e números pretenciosos. A série "Solo Feminino" comprova: foram mais de 60 cantoras reunidas num disco triplo que veio acompanhado de livro (capa dura) e documentário, tudo lançado em 2017.

De lá cá, Pingo já fez outras dezenas de projetos, mas chegou a hora do quarto volume do "Solo Feminino". O disco será apresentado neste domingo, às 18 horas, no Cineteatro São Luiz. No elenco do show, algumas das vozes presentes no disco, como Fabíola Liper, Lia Veras, Carol Damasceno e Regina Kinjo.

A elas e outras coube a interpretação de 15 faixas de Pingo ao lado de parceiros como Alan Mendonça, Henrique Beltrão, Oswald Barroso e Descartes Gadelha. Desde que começou a regravar a própria obra nas vozes das cantoras brasileiras, Pingo conseguiu unir da inesquecível Ayla Maria até a jovem Luh Livia, e ainda contou com nomes de fora do Ceará, como Cida Moreira e Ná Ozzetti, representantes da chamada Vanguarda Paulista. Da tradição do maracatu até sons que se aproximam do pop, do rock, a série "Solo Feminino" é um retrato da mente inquieta de Pingo de Fortaleza, que deve ter criado mais três projetos enquanto você lia esse texto.

Solo Feminino 4

  • Quando: domingo, 16, às 18 horas
  • Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
  • Quanto: R$30 (inteira) e R$15 (meia), vendas no Sympla
  • Mais informações: @cineteatrosaoluiz

 

https://www.opovo.com.br/divirtase/signo/2025/03/19/horoscopo-do-dia-19-03-previsao-do-seu-signo-para-hoje-quarta.html

Gal Costa retorna ao Ceará com nova turnê
Gal Costa retorna ao Ceará com nova turnê

Notas musicais

Meu nome é...

Sem foto e com o nome nada criativo de "Compacto de 72", chegou nas plataformas digitais um EP com três faixas inéditas de Gal Costa. Gravado na época do estouro de "Fa-Tal", o álbum tem composições de Luiz Melodia, Dorival Caymmi e Gilberto Gil.

Do Interior

Pantico Rocha lança na sexta-feira, 21, o single "Jardim", que leva o nome da cidade onde ele passou a infância, na fazenda do avô. A letra é como o roteiro de um filme, citando ruas, cheiros e personagens. Paralelo ao trabalho solo, Pantico estará no próximo disco de Lenine, já em produção.

Mais vinil

Marco da cena indie, pop, rock brasileira, a banda Cansei de Ser Sexy terá seu disco de estreia lançado em vinil pelo clube Noize. O álbum, que completa 20 anos em 2025, traz uma mistura de sons, bom humor, empoderamento que fez fama dentro e fora do Brasil.

 

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