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O que vai te fazer começar?
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Redatora de Capa e Farol do O POVO. Quadrinista e jornalista entusiasta de temas relacionados à saúde e bem-estar. Uma ex-sedentária em busca de se manter em movimento

O que vai te fazer começar?

Na coluna de estreia, características, prós e contras da prática do Crossfit
Exercícios no Crossfit são feitos sob orientação de um coach (Foto: Arquivo Pessoal )
Foto: Arquivo Pessoal Exercícios no Crossfit são feitos sob orientação de um coach

Quando há 11 meses decidi entrar em um box de Crossfit, prometi que, independentemente se eu continuaria indo ali ou não, não convidaria ninguém para ir comigo. É um gracejo muito comum dos não adeptos: o crossfiteiro, mais dia, menos dia, vai tentar lhe converter ao que chamam de seita. Então, que fique claro, isto não é um convite. Aliás, não faça Crossfit.

Eu pulava corda, fazia umas aulas de boxe vez ou outra, caminhava e levantava halteres de dois quilos na varanda de casa. Ou seja, eu não estava parada por completo, mas nada disso me preparou para o ritmo frenético do Crossfit. São muitos nomes em inglês, uma lista imensa de exercícios em sequência que quase sempre desafiam a lógica do tempo, explicações de movimentos que a atenção enevoada do esforço anterior quase nunca capta tudo.

São muitos estímulos, todos de uma vez. E dores. Todas de uma vez também. Então, não recomendo o Crossfit para ninguém. Na verdade, há dias em que eu não recomendo nem para mim mesma.

Mas foi o Crossfit que me fez decidir que a vida é mais possível se eu estiver em movimento. Durmo tarde, acordo cedo e vou para o box quando não consegui ainda equalizar o cérebro para formar frases completas. E aí, puff! A endorfina começa a se espalhar e o corpo responde. Então, mesmo pensando várias vezes "porque eu escolhi isso para minha vida", enquanto agacho e meu coração beira os 160 bpm, eu volto no outro dia.

Onze meses depois da primeira vez, ainda faço um monte dos movimentos adaptados e sei que alguns deles vão seguir assim por um longo tempo. Não tenho pressa, escuto meu corpo e meus limites. E foi assim que percebi, que para me manter saudável no Crossfit, precisava iniciar na musculação, para ter mais força, e no pilates, para alongar e ter mais mobilidade. É quase uma compra casada: compre um, leve três. Dado momento, saí de uma quase sedentária, para uma pessoa que passa três horas me exercitando e sorrindo quando termino minha meia hora de cardio.

Isso porque, como o doutor Fleury Junior, que é diretor e fisioterapeuta na Instituto Le Santé, me detalhou, os exercícios, de uma forma geral, liberam hormônios, como irisina, dopamina e a serotonina. "O Crossfit tem essa dinâmica muito forte, ligada ao esforço, a sensação de prazer, de bem-estar e é um esporte que acaba sendo desafiador, empolgante".

O fisioterapeuta também comentou sobre o potencial lesivo da prática. E sim, há: como "na maioria dos esportes vai ter impacto e uma possibilidade de lesão". Há que, junto ao educador físico, compreender limites de carga e movimentos de cada aluno.

Perdi 25 quilos nesse período. Falo isso não para convencer você, porque perder peso não era meu foco, mas aconteceu, enquanto minha ansiedade foi sendo entendida e amenizada - esse era o meu objetivo. Para uma amiga, que está no Crossfit há um ano, o ganho foi na qualidade do sono. A psicóloga Ana Paula Valente me conta que a atividade física foi inserida na sua rotina buscando emagrecimento, mas os ganhos foram além: ela deixou a medicação para dormir de lado, criou hábitos mais matutinos, ganhou condicionamento, e está "construindo músculos para velhice", como ela diz. Com histórico de desistir de outras atividades, Paula diz que parte da adesão se dá pelo caráter coletivo do esporte.

Tem isso também: o crossfit te traz amigos. O coach Ricardo Barbosa, da CrossFit Makou, explica justamente sobre, por se tratar de um esporte com aulas coletivas, há um senso de comunidade proporcionado pelo Cross, que faz com que "os alunos tenham um sentimento maior de família, fazendo com que eles tenham uma presença diária". Ou seja, se você não está procurando aumentar seu círculo de amizades, realmente, oriento que você atravesse a rua caso aviste um box.

Não é porque o Crossfit foi a modalidade que me fez aderir às atividades físicas, que ele é para você. Eu acho mesmo que talvez não seja. Mas, há por aí uma prática que vai ser o que vai fazer seu corpo vibrar e querer se movimentar. E você só vai saber se tentar. Até achar, que tal, então, experimentar?

Confira trechos das entrevistas com os especialistas

Fisioterapeuta Fleury Júnior(Foto: Aldair Pereira/ Divulgação)
Foto: Aldair Pereira/ Divulgação Fisioterapeuta Fleury Júnior

Fleury Júnior é diretor e fisioterapeuta na Instituto Le Santé

Domitila Andrade - A gente vê no box gente de toda idade e todo nível de condicionamento. O senhor acredita que é uma prática para todos ou há contraindicações? 

Fleury Júnior - Ter pessoas com várias idades, com vários níveis de condicionamento, isso não é a princípio um problema, uma vez que a gente pode trabalhar o exercício de forma diferente para toda essa população. E a gente consegue fazer isso com pilates, por exemplo, dentro da fisioterapia, educação física consegue fazer isso muito bem com o Crossfit, com a musculação. A grande questão é conseguir colocar para cada pessoa a dose ideal de exercício. E essa dose ideal de exercício vai falar não somente sobre intensidade, carga, mas também sobre o potencial de recuperação de cada pessoa, de cada organismo.

Domitila - Quais os benefícios a pratica de Crossfit pode trazer?

Fleury Júnior - Com relação aos benefícios são vários, desde o condicionamento físico, melhora cardiovascular, até controle de dor, em pessoas com dor crônica, que tem como recomendação a rotina de exercício. O Crossfit pode, sim, ser um desses exercícios capazes de, inclusive, modular dor e melhorar a qualidade de vida da população.

Domitila - Há algumas críticas sobre ser um esporte de alto impacto e com potencial lesivo. Como o senhor vê essa questão e que cuidados são necessários para a prática não levar a lesões?

Fleury Júnior - A maioria dos esportes vai ter impacto em uma possibilidade de lesão, então isso é bem real. E o Crossfit também tem essa característica, né? Tem estudos falando sobre aproximadamente 17 lesões a cada mil horas de treino. O que a gente precisa é conseguir compor a carga para a pessoa, isso é uma decisão que parte muito do colega da Educação Física, mas que, principalmente, vai estar relacionada à compreensão dos seus limites pelo próprio aluno. E, isso, é óbvio, faz parte da rotina de treinamento. Então, quando a gente pensa em cuidados sobre isso, é trabalhar com cargas que sejam compatíveis com aquilo que o aluno de fato tolera. E, além de todos esses cuidados, se perceber que o seu corpo está pedindo atenção, que está aparecendo ali uma dor, algum desconforto, que ele está achando que não pode ser aquela dor muscular tardia relacionada ao exercício, aí vale procurar o fisioterapeuta, o médico ortopedista, o médico do esporte. Isso pode ser importante para um bom acompanhamento e uma boa qualidade de vida para essa pessoa.

 

Ricardo Barbosa é educador físico(Foto: Arquivo Pessoal )
Foto: Arquivo Pessoal Ricardo Barbosa é educador físico

Ricardo Barbosa é educador físico e coach na CrossFit Makou 

Domitila Andrade - É o meu caso, mas já ouvi relatos de ser o caso de várias pessoas também: o Cross foi o que fez as pessoas iniciarem e permanecerem numa atividade física. Você acha que isso acontece por quê?

Ricardo Barbosa - Eu já trabalho no CrossFit, já faz uns sete, oito anos, tá? E o que eu posso te falar que é diferente dentro do Cross, principalmente dentro do box que eu dou aula, o primeiro ponto, é a forma de atender o cliente, é a forma que você consegue absorver todas as informações daquele cliente e fazer com que ele tenha as melhores adaptações possíveis dentro de um treino. Na realidade, quando eu comento sobre atendimento, a intenção maior é compreender a necessidade do aluno, compreender as limitações e patologias daquele aluno. Aí, mediante a tudo, você adaptar o treino da melhor forma possível, para que ele consiga, se sentir bem, para que o treino possa ser prazeroso e ele volte dia a dia, buscando sempre a sua evolução.

A proposta do Crossfit, que é uma atividade multimodal, onde você se utiliza dos movimentos de LPO, dos movimentos de ginástica e dos movimentos de endurance, onde você pratica as corridas, os burpees, se utiliza de alguns acessórios como bike, remo, ski e traz uma proposta, uma dinâmica diferente ou diferenciada de treino dia a dia, faz com que o aluno tenha um prazer maior na prática esportiva. Toda essa dinâmica faz com que o treino seja diariamente diferenciado, se utilizando dessas modalidades, despertando no aluno tais desafios que talvez em outras modalidades eles não se sentisse tão, tão, tão desafiados. Dentro do Cross, nós temos uma gama, uma variedade muito grande de movimentos, eles precisam seguir uma sequência pedagógica, uma progressão, para que o aluno, ele tenha toda a segurança, todo o padrão e todos os cuidados possíveis, visando sempre a sua evolução.

Além dos seus desafios, além da sua dinâmica diária, o Crossfit tem um senso, um sentimento, uma energia única, diferente de várias modalidades. O senso de comunidade proporcionado pelo Cross faz com que os alunos tenham um sentimento maior de família, independentemente de horário, independentemente de local, independentemente de turnos e, dessa forma, fazendo com que eles tenham uma presença diária para a prática do treinamento. É esse socializar, é esse integrar, é esse agregar que fazem com que o CrossFit seja diferente de várias outras modalidades.

Domitila - Há algumas críticas sobre ser um esporte de alto impacto e com potencial lesivo. O que você acha disso e que cuidados são necessários para a prática não levar a lesões?

Ricardo Barbosa - Como qualquer outra modalidade, é difícil mensurar dentro do Cross uma probabilidade de um alto grau lesivo. Nós, profissionais de educação física, coach Crossfit, temos que ter todos o controle, cuidado e segurança para evitar ou minimizar esses impactos, fazendo com que o aluno tenha o maior conforto e o maior prazer em treinar possível. E vale ressaltar que a modalidade ela mexe muito com o ego de todos os praticantes e vai da capacidade do coach em avaliar, controlar, minimizar esses impactos, certo? Fazendo com que o aluno ele busque sempre o melhor e maior padrão de movimento e assim fazendo com que essa evolução, essa progressão seja favorável e eficiente para o seu treinamento.

E outro ponto que eu queria comentar, que vai da gestão onde se pratica a modalidade, é uma maior e melhor qualificação de seus profissionais para que tenha um atendimento diferenciado, uma parte técnica diferenciada e assim amenizando os riscos lesivos, proporcionando uma experiência única para os seus alunos para os seus clientes.

E para finalizar: exercício é vida, exercício é saúde. Se priorize para que você tenha uma longevidade maior e que você consiga viver e desfrutar de todas as coisas boas da vida.

 


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