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Não temos o que não contratamos
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Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho é graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutor em Cardiologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor-associado da UFC, tem experiência na área da medicina, com ênfase em cardiologia, atuando principalmente nas áreas de sistema nervoso autônomo, sistema cardiopulmonar e doença de Chagas. Foi secretário de Saúde do Ceará entre 2019 e 2021

Dr. Cabeto opinião

Não temos o que não contratamos

Infelizmente, continuamos contratando títulos e não pessoas. No que se refere ao desejo da sociedade, penso que quem procura um médico espera encontrar um Hipócrates. No entanto, mesmo ela, a sociedade, não contrata essas habilidades
Tipo Opinião
Dr. Cabeto, médico (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Dr. Cabeto, médico

Parece um mantra da administração em qualquer atividade pública ou privada.

Recentemente, estive numa reunião da faculdade de Medicina da UFC, onde se tratou de como melhorar a formação dos nossos alunos. Abordamos conteúdos teóricos, ambientes de prática, número de alunos por professor em aulas práticas, dentre outros aspectos como novas metodologias, incluindo simulação e inteligência artificial.

A busca constante de aperfeiçoamento é um princípio de qualquer profissional, especialmente quando se trata da formação de pessoas.

Até aí, tudo bem. Mas, quando percebi que alguns questionavam o comportamento dos alunos quanto ao compromisso com o cuidar.

Pois bem, me veio uma indagação. Afinal, nós, Universidades, contratamos nossos professores baseados nessas habilidades? Em geral contratamos doutores no sentido stricto, portadores de título de doutorado. Serão somente eles os apropriados para a formação dos nossos futuros médicos?

Num passado não tão distante éramos treinados por médicos e cidadãos dotados de arte, humanismo e paixão. Em sua maioria não possuíam pós-graduação, mas sabiam entender situações complexas, com intuição e conhecimento.

A formação em pesquisa, em metodologia científica é essencial para uma sociedade que evolui para um futuro mais justo. No entanto, também precisamos de líderes humanistas que desafiam as verdades, que rompem com o esboço burocrático que tanto amordaça o centro de produção do conhecimento.

Precisamos sim, contratar cientistas no sentido mais formal, e ainda mais contratar homens dotados de espírito humanista.

Infelizmente, continuamos contratando títulos e não pessoas.

No que se refere ao desejo da sociedade, penso que quem procura um médico espera encontrar um Hipócrates. No entanto, mesmo ela, a sociedade, não contrata essas habilidades.

Fazendo uma analogia, contratamos um Salieri mas desejamos um Mozart para transmitir nossas emoções. Lembrando que a imagem de Salieri, compositor italiano retratado por Milos Forman, parece não ser fiel a realidade.

Há, portanto, de se transformar a governança em nossas Universidades para que possamos formar, atrair e fixar líderes, garantindo o ciclo virtuoso do conhecimento e, consequentemente, do bem-estar social.

 

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