
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
Preocupação recorrente, o enfrentamento ao racismo tem começado a ganhar corpo também na esfera do futebol e do esporte no Brasil, ainda que de forma incipiente. Apesar da luta ser necessariamente perene e por diversos momentos encontrar barreiras estruturais, o país tem começado a se fazer presente. Um exemplo recente foi a punição ao Boca Juniors - clube argentino, adversário do Fortaleza na próxima quinta-feira, partida válida pela terceira rodada da fase de grupos da Copa Sul-Americana.
A entidade que cuida do futebol na América do Sul (Conmebol) acatou denúncia do Palmeiras efetivada em outubro do ano passado e no começo deste mês confirmou que o Boca foi punido com a perda de três mil lugares em um setor do seu estádio, além da obrigação da exibição de uma faixa com os dizeres "basta de racismo". Uma multa de cerca de R$ 500 mil também foi confirmada.
Quando um clube é punido pelo comportamento de seus torcedores, o recado é claro no sentido da tentativa de inibir atos parecidos posteriormente. Há quem defenda exclusão da equipe na competição, mas ainda não chegamos a tal ponto na esfera continental. Também é possível verificar que os times brasileiros e seus torcedores começam a não mais enfrentar o problema de forma omissa ou como parte natural da rivalidade, mas agindo para buscar punições e soluções. Para além do caso citado, há outros relatos nos anos recentes, deixando um sinal para demais países da América do Sul.
Internamente, os atletas brasileiros também têm mostrado que o silenciamento está em declínio (assim como os que atuam no exterior, como Vinícius Júnior, um paradigma mundial e notável), algo que precisa ser reconhecido. Ferramenta essencial, o Relatório da Discriminação Racial no Futebol (2023), com dados correspondentes ao ano de 2022, mostrou, em sua nona edição, 233 casos de racismo no Brasil, um aumento de 50% na comparação ao ano de 2021. Para o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, não se trata apenas de um aumento de casos, mas também o reflexo do crescimento das denúncias, mostrando uma nova postura comportamental.
Com iniciativas educativas e campanhas lideradas pelo Observatório da Discriminação Racial, clubes e a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) finalmente mostram algum engajamento na conscientização e enfrentamento de uma questão extremamente séria.
Para tal conclusão, basta citar que ao menos 41% dos jogadores negros que atuam nos principais campeonatos por aqui já sofreram racismo, de acordo com pesquisa liderada pela CBF e financiada pela Fisia Comércio de Produtos Esportivos em 2023.
Munido de mais informação, o atleta hoje já compreende que pode ser vítima de um crime previsto em lei durante um jogo de futebol ou qualquer outra prática esportiva. Esses são passos importantes, e dignos de registro. Mas são apenas os primeiros em uma longa caminhada a ser realizada. n
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