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Motos somam 76% dos acidentes de trânsito no interior
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Motos somam 76% dos acidentes de trânsito no interior

O problema é antigo, mas é necessário trazê-lo à tona novamente, pois as autoridades têm dificuldade em solucioná-lo. Na verdade não é uma única disfunção, mas um conjunto de adversidades, nas quais se pode somar um trânsito caótico, insuficiência de hospitais no interior, e recursos reduzidos para a saúde. Além do Instituto Dr. José Frota (IJF), localizado em Fortaleza, quatro hospitais terciários estão em funcionamento em cidades do interior.

Em reportagem na edição de ontem, este jornal divulgou que quase metade dos atendimentos no IJF, refere-se a acidentes de trânsito ocorridos em outros municípios do Ceará, sobrecarregando a instituição. Referência em traumas de alta complexidade, o IJF realizou cerca de três mil atendimentos de vítimas acidentes de trânsito, de janeiro a março deste ano. Do total, 1.365 eram oriundos de outras cidades, sendo 1.047 vítimas de colisão de motocicletas, representando 76% dos atendimentos. O instituto é mantido pela prefeitura de Fortaleza, integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Mas o infortúnio, que deságua no IJF ou em algum hospital do interior, começa antes. E tem a ver com um trânsito caótico que vigora, principalmente, em cidades do interior, mas também atinge a capital. As propostas, até agora implementadas em Fortaleza, como as faixas de retenção, não conseguem organizar o trânsito. Motociclistas circulam em velocidade cada vez mais alta, fazendo manobras perigosas, pressionados pela pressa de fazer entregas.

No interior, existe uma espécie de leniência de alguns prefeitos, pois medidas rigorosas de fiscalização, e mesmo exigência de habilitação para conduzir veículos, são medidas impopulares. Quando algum administrador resolve implementar uma proposta mais restritiva, sempre aparece um deputado para acusar uma suposta "indústria de multa", de olho no eleitorado.

Jorge Trindade, diretor de Educação do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE), confirma que uma das principais razões para a imprudência é a ausência de fiscalização. Ele diz que dos 184 municípios cearenses, apenas 89 têm trânsito municipalizado, integrado ao sistema nacional. Isto é, são cidades que não dispõem de um órgão de fiscalização. Esse procedimento é obrigatório, por lei, desde 1998. No entanto, segundo Trindade, não há como exigir das Prefeituras o cumprimento da legislação, devido à autonomia dos entes federativos. Pelo visto, é mais cômodo para muitos administradores não se envolver com o assunto.

Um trânsito organizado reduziria o número de acidentes, aliviando os hospitais terciários, e salvando vidas. Enquanto a situação não muda, acidentes e mortes continuarão a ser contabilizados em números alarmantes. Os motociclistas somam 79% de todos os atendimentos do Samu, e 518 deles perderam a vida em 2023, em dados consolidados até o mês de setembro. n

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