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Uma reparação devida
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Editorial opinião

Uma reparação devida

Na semana em que a Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura em Portugal, completou 50 anos, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu os crimes cometidos por seu país no período colonial. Ele citou o tráfico de pessoas na África, escravização, massacre de indígenas e bens saqueados.

Falando a jornalistas, na terça-feira, Rebelo disse que Portugal assume "total responsabilidade" pelos erros do passado e que o país terá de pagar os "custos" desses crimes. Acrescentou que existem ações que não foram punidas e bens saqueados que não foram devolvidos, sendo necessário "reparar" os males causados no passado.

Conforme registrou o jornal português Público, há um ano, quando o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, visitou Portugal, Rebelo já havia dito que seu país devia um pedido de desculpas. Mas que, acima de tudo, deveria arcar com a culpa pela exploração e pela escravatura no período colonial.

Como era de se esperar, a extrema-direita portuguesa criticou as declarações de Rebelo. O partido que representa esse segmento chamou de "vergonha" e "traição à pátria" suas declarações. Mas o presidente português segue uma correta tendência dos países europeus em reconhecer ou pedir perdão pelos crimes cometidos no passado colonial. Dentre essas nações, encontram-se Holanda, Dinamarca, Dinamarca, França, Reino Unido, Alemanha, Bélgica e o Parlamento Europeu. Em 1992, o papa João Paulo II seguiu esse caminho e pediu perdão pelo papel da Igreja no escravagismo.

No Brasil, o Ministério da Igualdade Racial e dos Povos Indígenas considerou "relevantes e contundentes" as declarações de Rebelo, assumindo, "como país", a responsabilidade pelos "violentos crimes praticados durante o período colonial, incluindo a escravidão de pessoas negras nos dois lados do Atlântico, o massacre de povos indígenas, e o saque de bens em terras estrangeiras". Mas a titular da pasta, Anielle Franco, lembrou que o presidente português não disse como seria efetivada a reparação. Para ela, é "imprescindível" a apresentação de medidas reparatórias concretas, de modo a impactar "positivamente e de maneira palpável", as populações negras e indígenas.

Não há como negar que os terríveis crimes cometidos no período colonial, pelas potências da época, ainda são feridas abertas para os povos que estiveram sob o jugo desse regime de horror. Por mais que se tente enterrar a história, reduzir a sua importância em currículos escolares ou tratar o assunto como tabu, já está provado que não funciona. O passado sempre volta a emergir para assombrar o presente.

Assumir a responsabilidade e buscar formas de reparação, simbólicas e concretas, é o melhor modo de as atuais gerações pavimentarem o caminho para que esse fardo terrível não seja transferido para os nossos filhos e netos. n

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