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As cozinhas comunitárias e o programa Ceará sem Fome
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As cozinhas comunitárias e o programa Ceará sem Fome

Reportagem publicada na edição de ontem, assinada pela jornalista Alexia Vieira, mostra a importância das cozinhas populares na luta contra a fome. Essas cozinhas são iniciativas das próprias comunidades, que se organizam para ajudar os vizinhos. "A pessoa que mora em comunidade não consegue ver as outras pessoas passando por necessidade e ficar de braços cruzados", disse Antônia Ticiane, que se levanta de madrugada para chegar à cozinha comunitária da Granja Portugal, em Fortaleza, e, junto a outras colegas, iniciar o preparo de alimentos. O prato de comida ali oferecido, muitas vezes é a única refeição que aquela pessoa terá no dia, relatam elas.

Esse exemplo da mobilização da sociedade civil e de solidariedade espalhou-se na região do Bom Jardim (onde fica a Granja Portugal), quando 19 organizações comunitárias se uniram para garantir o direito básico à alimentação aos moradores mais vulneráveis. Juntas, elas conseguem alimentar 13 mil pessoas. Várias outras cozinhas funcionam em Fortaleza, no Centro e bairros periféricos, dependendo de doações para manter a atividade humanitária.

No Estado, o governo encampou o custo dessas cozinhas, com o programa Ceará sem Fome, o que tornou o trabalho mais estável, pois garante recursos e insumos para a produção de alimentos, antes dependentes exclusivamente de doações. No entanto, impõe algumas restrições às entidades que aderem ao programa. Uma delas é selecionar 100 beneficiários e inscrevê-los pelo número de identificação social (NIS), que nem todos dispõem. Por vezes, são pessoas indocumentadas. "Antes a gente podia dar alimentação a quem quiséssemos. A pessoa passava pedindo comida, um catador (pedia), e podia dar. Hoje só pode fornecer para as pessoas cadastradas", informa Regina Maia, vice-presidente do Centro União Beneficente dos Moradores da Granja Portugal. Segundo ela, é comum que, todos os dias, alguém não cadastrado fique na porta da associação pedindo para receber o alimento. Ela não reclama do programa governamental, mas diz que "pode melhorar". Como dizia o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, criador do programa Natal sem Fome, que deu visibilidade a essa chaga difícil de curar, ainda nos anos 1990: "Quem tem fome tem pressa".

O estudo mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com estimativas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), mostra que no Ceará existem 3,4 milhões de pessoas com algum grau de insegurança alimentar. Desde leve (preocupação com a falta de alimentos no futuro), moderada (restrição quantitativa de alimentos) e grave (falta de alimentos para todos da casa, inclusive para as crianças). Com o caso mais terrível, quando a falta de comida é diária, somam-se 546 mil pessoas no Estado. É uma catástrofe à qual se precisa pôr um fim. n

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