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As mentiras em meio à tragédia
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Editorial opinião

As mentiras em meio à tragédia

Na edição de ontem o editorial abordou a tragédia no Rio Grande do Sul, lembrando que os eventos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes, e que existe consenso entre os cientistas de que esses fenômenos são decorrentes do aquecimento global. Anotou ainda que, em vista disso, os governantes já deveriam ter tomado medidas preventivas para enfrentar o inevitável. No entanto, é forçoso retornar ao assunto devido às informações falsas que circulam nas redes sociais, que têm o potencial de prejudicar o difícil trabalho de resgate das vítimas.

Ontem, a Câmara dos Deputados aprovou, sem contestação de opositores, e por votação simbólica, o pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a decretação de estado de emergência no Rio Grande do Sul. Com isso, a União poderá socorrer os gaúchos, sem que os recursos destinados ao estado influam na meta fiscal.

Se nos espaços institucionais há uma aparente concordância de que as providências para o socorro às vítimas não podem ser contaminadas pelas divergências políticas, nas redes sociais impera o vale-tudo. Notícias falsas e mentiras, circulam abertamente, em vilipêndio aos mortos e em desrespeito agressivo aos desabrigados.

Fazem parte desse catálogo grotesco as mentiras mais aberrantes como a que afirma que barqueiros voluntários, que salvam pessoas, estão sendo perseguidos e multados; e que o show da Madonna teria sido patrocinado pelo governo federal.

O Uol Confere (plataforma de verificação jornalística) localizou áudios e vídeos falando em centenas de mortos, mas as imagens são de desastres em outros países, como Cazaquistão, Bolívia e México, atribuídas ao Rio Grande do Sul. Em áudio uma pessoa diz ter sido encontrados mais de 300 corpos na cidade de Canoas (RS). São todas informações falsas.

Para se avaliar o alcance dessas mentiras, uma publicação no X com o áudio sobre Canoas registrava mais de quatro mil "curtidas" e mil compartilhamentos, quando o Uol fez a verificação. As informações falsas têm alto grau de engajamento, por isso difundem-se rapidamente.

Algumas dessas postagens contendo falsidades podem ter origem em pessoas desavisadas, que escrevem uma bobagem qualquer, ou compartilham uma desinformação sem pensar. Porém, o grosso das publicações tem objetivos políticos ou monetários bem definidos. É uma produção industrial, com o objetivo de enganar, provocar o medo, e redundar em cliques. Não é de se descartar que criminosos ajam de forma organizada com esse objetivo. Essas mentiras têm o potencial de provocar mortes, atrapalhando o trabalho de socorristas ou de autoridades, que têm de perder tempo precioso, em meio às suas atividades emergenciais, para desmentir os boatos.

O episódio recoloca na ordem do dia a necessidade de regulamentar as redes sociais. Essas grandes empresas de tecnologia, que também lucram com as mentiras, precisam ser chamadas à responsabilidade. n

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