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O desafio do analfabetismo
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Editorial opinião

O desafio do analfabetismo

O número de analfabetos brasileiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), equivale a 7% da população acima dos 15 anos - em 2010, ano do levantamento anterior, era de 9,6%
Tipo Opinião

Dados do Censo Demográfico de 2022 sobre taxas de alfabetização no Brasil mostram que, embora os índices tenham melhorado no geral, com todos os estados avançando, há ainda 11,4 milhões de pessoas sem competência para ler ou escrever um simples bilhete.

O número, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), equivale a 7% da população acima dos 15 anos - em 2010, ano do levantamento anterior, era de 9,6%. Desse total, 61% correspondem a brasileiras e brasileiros com 55 anos ou mais em 2022, quando a pesquisa foi conduzida.

Eis o primeiro recorte importante: o etário. O grosso dos analfabetos do país são os grupos mais velhos, exatamente aquela faixa cujo acesso à educação formal foi dificultado por uma série de fatores, tais como disponibilidade de uma rede escolar abrangente. Existe uma dívida a ser reparada com esse segmento, mas jamais sanada, ainda que o analfabetismo nessa parcela tenha se reduzido ao longo do tempo, sobretudo no intervalo dos 65 anos.

Outro recorte evidenciado no Censo é o regional: enquanto o Nordeste registra 14% de pessoas analfabetas, ou seja, duas vezes a média nacional, o Sul apresenta somente 3%, com 97% de sua população alfabetizada ante 86% entre nordestinos. Nesse cenário, o Ceará deu um pequeno salto de cinco pontos percentuais, passando de 81% de alfabetizados em 2010 para 86% em 2022, mas permanecendo abaixo da média nacional (93%).

O patamar local não é ainda sequer o maior da região, tampouco o seu crescimento superou o de estados vizinhos. Pernambuco e Bahia, por exemplo, foram de 82% para 87% e de 83% para 87%, respectivamente.

Um terceiro recorte no Censo, talvez o mais relevante, é o racial, visto que mostra que o analfabetismo no Brasil apresenta uma intersecção entre cor da pele e outras categorias que indicam vulnerabilidade social.

Pretos e pardos representam 55,2% da população, mas respondem por 71,5% dos analfabetos. Entre brancos, a taxa de analfabetismo era de 5,9% em 2010 e passou a 4,3% em 2022. Na população preta, foi de 14,4% em 2010 para 10,1% em 2022. Exclusivamente entre pardos, caiu de 13% em 2010 para 8,8% em 2022. Nos dois casos (pretos e pardos), a quantidade de pessoas que não sabem ler nem escrever é mais que o dobro do que entre brancos.

O resultado do Censo do IBGE sugere 1) que o analfabetismo se concentra num perfil populacional (pretos/pardos de regiões menos assistidas e idade mais avançada) e 2) que qualquer resposta do Estado em termos de políticas públicas terá necessariamente de levar em conta a interseccionalidade que o desafio impõe, cruzando raça, idade e região caso deseje realmente melhorar esse quadro.

 

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