
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
A tentativa de golpe na Bolívia não foi um raio em céu azul. Ela é consequência do crescimento da extrema direita na América Latina — e em todo o mundo. Esse movimento aloja-se inclusive em nações de democracia consolidada, como os Estados Unidos e países da Europa. A invasão do prédio do congresso americano, em 6 de janeiro de 2021 — por partidários do então presidente Donald Trump — na tentativa de impedir a posse do vencedor das eleições, Joe Biden — deixou em alerta as nações democráticas. A ação violenta replicou-se no Brasil, no 8 de janeiro de 2023, mostrando sintonia entre esses movimentos.
O risco representado pelos extremistas é real, como revelou a recente eleição para o Parlamento Europeu, quando aumentou a representação desse segmento. Nas eleições parlamentares, que se realizam este fim de semana na França, a extrema direita aparece como favorita.
Na América Latina, que nunca foi um exemplo de estabilidade democrática, a extrema direita se organiza para combater a ascensão de governos de "esquerda", como consideram qualquer regime que não siga uma cartilha ultraconservadora. No entanto, a tentativa de golpe na Bolívia, com tanques e soldados armados, destoa do método utilizado atualmente pela ultradireita. Esses movimentos procuram depauperar as instituições, por meio de ataques agressivos e mentiras, e utilizam as brechas propiciadas pela democracia na tentativa de capturar o Estado e implementar um regime autoritário.
Desde 2019, quando pressionado por militares, Evo Morales foi obrigado a renunciar à vitória que havia obtido nas eleições, a instabilidade na Bolívia se agravou. Na época, a senadora de oposição, Jeanine Añez tomou posse sob intensos protestos, gerando confrontos nas ruas, que deixaram mais de 30 mortos. Em novas eleições, Luis Arce, apoiado por Morales, venceu o pleito com 55% dos votos.
Mas a situação tornou-se ainda mais delicada depois que os antigos aliados romperam relações políticas. Arce quer tentar a reeleição. Morales, que presidiu o país por três mandatos consecutivos, avisou que pretende entrar na disputa em 2025.
Mesmo sendo adversário de Morales, o presidente percebeu o perigo que representa para a democracia a interferência de militares em assuntos políticos. Ele resolveu demitir o general Juan José Zúñiga do comando do Exército, depois de ele ter declarado que não permitiria que Morales presidisse novamente a Bolívia. Desmoralizado, Zúñiga partiu para a quartelada.
De um evento que poderia ter-se tornado uma tragédia de grandes proporções, pode-se anotar pelo menos dois pontos positivos. O primeiro foi a atitude corajosa do presidente Luis Arce, confrontando pessoalmente o general sedicioso, depois mandando prendê-lo. Em seguida, a mobilização popular e a pronta reação internacional, Brasil incluso, condenando incondicionalmente a intentona militar. Esses fatores deixaram os amotinados em isolamento completo, fazendo naufragar a aventura golpista. n
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