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Liberdade religiosa para todas as fés
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Editorial opinião

Liberdade religiosa para todas as fés

A sensação de que a intolerância religiosa aumenta no Brasil é comprovada pelos números, que aumentam a cada contagem. Levantamento da plataforma de notícias Uol, nos registros do Disque 100 — canal do Ministério dos Direitos Humanos que recebe as denúncias — foram anotadas 1.940 violações de liberdade religiosa no Brasil. O número representa 91% dos casos registrados durante todo o ano de 2023, quando foram anotadas 2.128 violações.

Segundo a pesquisa, as religiões afro-brasileiras são o principal alvo dessa discriminação. Das 525 violações denunciadas, em que a religião da vítima foi identificada, 276 envolviam seguidores de crenças de matriz africana.

Quanto às religiões, o candomblé tem o maior número de ataques, com 166 violações, seguido da umbanda, com 22 registros. Ambas crenças são de matriz africana. Entre os principais suspeitos de cometerem esses atos de violência estão correntes evangélicas, que teriam sido autores de 55 das
violações denunciadas.

Em janeiro passado, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos divulgou o balanço comparativo entre 2022 e 2023, com aumento de 80% de denúncias entre um ano e outro, com 1.184 em 2022. Mas o aumento expressivo de violações, nesse primeiro semestre, pode ser atribuído ao reforço do canal de registros no atual governo, o que incentiva as vítimas a fazerem a denúncia.

Ao Uol, o antropólogo Ordep Serra, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA), disse não ser "por coincidência ou acaso" o fato de os templos de matriz africana serem vandalizados e atacados. "É a demonização de tudo que tem a ver com o negro", diz ele. Portanto, os ataques revelam que o racismo é inerente a esse tipo de intolerância.

Quanto à questão de alguns segmentos evangélicos serem os principais responsáveis pelas violações, Serra afirma que o problema não é a religião em si, mas o fundamentalismo religioso que se considera dono da verdade.

Também ao Uol, o diretor-executivo da Aliança Cristã Evangélica, Cassiano Luz, disse que os números não o surpreenderam. Mas ressalva que "evangélicos" abrange uma vasta gama de diferentes perspectivas, e que a liberdade religiosa "só existe de fato", quando protege todas as crenças.

No entanto, é necessário estudar com mais profundidade, por que o fundamentalismo atinge mais alguns segmentos evangélicos, pelo menos no que diz respeito às violações contra as religiões afro-brasileiras.

É preciso salientar, por mais óbvio que pareça, que a liberdade religiosa pressupõe o respeito a todas as fés. Os líderes religiosos têm a obrigação de trabalhar com afinco para que a tolerância e harmonia prevaleça entre as crenças.

No mais, é preciso identificar e punir com rigor os que atacam templos e agridem pessoas, unicamente por professarem uma crença diferente desses violadores. n

 

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