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O trabalho das mães cuidadoras
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Editorial opinião

O trabalho das mães cuidadoras

Reportagem da jornalista Karyne Lane, publicada na edição de quinta-feira (1º/8/2024) mostra a dura realidade das mulheres sobre as quais recai o papel de "cuidadoras" das famílias, afastando-as do mercado de trabalho.

Estudo inédito do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades, da Universidade de São Paulo (Made-USP) sobre o custo da maternidade no Brasil, mostra que mais de 11 milhões de mulheres tiveram que abdicar do trabalho para cuidar dos filhos e da casa, sendo a maternidade o principal obstáculo. Os dados utilizados na pesquisa são de 2022, e mostram que a dificuldade atinge com mais força as mulheres negras, que somam 6,8 milhões nessa condição, ante 4,3 milhões de brancas.

Em entrevista ao O POVO, a economista Amanda Resende, uma das responsáveis pelo estudo, lembra que o trabalho de cuidado não remunerado, realizado pelas mulheres, "é indispensável para a própria dinâmica do mercado continuar operando". De fato, não é difícil verificar que, sem essa retaguarda, propiciada pelas cuidadoras, a economia deixaria de funcionar. Caso essas mulheres não ficassem em casa cuidando dos filhos, ou de pais idosos, ou de alguém doente na família, como os homens sairiam para trabalhar? Portanto, além dos custos sociais dessa injusta divisão de tarefas, a situação causa impactos negativos na economia. Se as mulheres que querem trabalhar, mas não podem, estivessem empregadas ou empreendendo, haveria aumento de 10% na força de trabalho, segundo especialistas citados no levantamento Made-USP.

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que dois bilhões de pessoas no planeta, a maioria mulheres, são cuidadores em tempo integral, sem remuneração, representando 9% do PIB global.

Resende diz que abordar o assunto é "dar importância à indispensabilidade do trabalho não remunerado de diversos tipos". Os efeitos, ressalta ela, atingem a coletividade, pois "toda a sociedade se beneficia com os cuidados e o bom desenvolvimento das crianças". Ela aponta algumas medidas para atenuar essas desigualdade, como uma rede pública ampliada de serviços de cuidados, que favoreceria as mães, principalmente as de famílias mais pobres, que não têm como "terceirizar" essas tarefas.

No Ceará, a Secretaria do Trabalho realiza pesquisa para identificar quem são os cuidadores na comunidade do Lagamar, em Fortaleza. Um dos propósitos seria evitar que o trabalho recaia somente sobre as mulheres, ou buscar outras soluções, como estabelecer uma remuneração pelo trabalho realizado. O objetivo seria estender o programa para outros bairros e cidades.

Buscar soluções para esse problema é cada vez mais urgente, pois o envelhecimento da população vai demandar mais cuidados com os idosos, trabalho que recairá sobre as mulheres, se nada for feito para acabar com essa desigualdade. n

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