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Ministério Público investiga "cachês milionários"
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Ministério Público investiga "cachês milionários"

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Reportagem na edição de ontem abordou as festas promovidas em cidades interioranas, que pagam cachês milionários, favorecendo principalmente cantores sertanejos de expressão nacional. Pelo menos seis cidades do interior cearense estão sob investigação devido a "gastos desproporcionais", segundo entendimento do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE).

O tema ganhou popularidade a partir de 2022, quando o sertanejo Zé Neto, durante um show, ofendeu a cantora Anitta, fazendo referência depreciativa a uma tatuagem íntima da cantora. Ele criticava a artista por, supostamente, receber incentivos governamentais. "Nós somos artistas que não dependemos da Lei Rouanet, nosso cachê quem paga é o povo", disse Zé Neto, cuja apresentação era patrocinada pela prefeitura de Sorriso (MT).

Anitta informou que nunca havia usado a lei Rouanet, e seus fãs iniciaram buscas na internet, revelando que cantores e duplas sertanejas eram remunerados com verbas públicas. Investigações foram abertas pelo MP em vários estados, mostrando ser prática comum o pagamento de quantias elevadas. Mas as festas continuam, mesmo em ano eleitoral, custeadas com recursos públicos. Levantamento do Uol mostra que nos últimos dez anos os cinco sertanejos com os maiores cachês receberam, juntos, R$ 76,8 milhões, pagos com recursos de municípios, pela realização de 106 shows.

Em suas ações o MPCE confronta-se com situações como a de Crateús, por exemplo. Na festa para comemorar os 192 anos da cidade cearense, em junho, foi gasto R$ 1,4 milhão, à exclusão do pagamento de uma famosa banda. Segundo o MP, o valor é superior ao orçamento de várias secretarias, e dez vezes maior do que o Fundo Municipal da Criança e do adolescente para este ano. A ação do MP resultou em cancelamento parcial do evento.

Em Baturité (CE), além do São João, realizado em julho, está programada outra festa, este mês, para comemorar a emancipação do município. Somente com a remuneração para cinco artistas, o dispêndio será de R$ 1,6 milhão. O MPCE recomendou o cancelamento das atrações, mas, segundo declaração ao O POVO, o setor jurídico da Prefeitura afirmou que o evento será realizado, pois a "aplicação de recursos é de competência do Executivo". É verdade, mas segundo o MP, a cidade enfrenta problemas nas áreas da saúde e educação.

A par das investigações que desenvolve, o MPCE recomenda a prefeitos do interior que passem a contratar artistas da região para os diversos festejos, como forma de baratear os custos e movimentar a economia local. Os procuradores também chamam a atenção para necessidades mais prementes, que poderiam ser atendidas, economizando recursos dos espetáculos.

Não se trata de condenar, de plano, as atividades de lazer, também importantes. Porém, o exagerado gasto em festejos chama a atenção, devido ao combalido orçamento das cidades interioranas. A situação deveria, no mínimo, levar os administradores municipais a refletirem sobre o assunto. n

 

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