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A infecção de transplantados
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Editorial opinião

A infecção de transplantados

A informação de que seis pacientes transplantados no Rio de Janeiro foram infectados pelo vírus HIV foi recebida com surpresa pela comunidade médica e científica. O Sistema Nacional de Transplantes (SNT), garantido a toda a população, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), é o maior programa público do mundo nessa especialidade — e considerado um dos mais seguros do planeta.

Até agora, foram identificados seis pacientes infectados pelo HIV, após receberem o transplante de rins, fígado, coração e córnea, provenientes de duas pessoas portadoras do vírus. Os exames, que atestaram, de forma errada, a higidez do material, foram realizados pelo Laboratório PCS Lab Saleme. A Polícia Federal (PF) confirmou, esta semana, ter aberto inquérito para investigar o caso. A Polícia Civil, Ministério da Saúde e Secretaria de Saúde do Rio também fazem apurações. Quatro prisões foram efetuadas.

Um dos presos é o ginecologista Walter Vieira, sócio do PCS Lab, que assinou um dos laudos com falso negativo para HIV. Ele é tio do deputado federal Doutor Luizinho (PP), ex-secretário de Saúde do Rio — entre janeiro de 2016 e abril de 2018 — que afirmou não ter sido o responsável pela contratação da empresa. Desde 2022, o laboratório recebeu R$ 19 milhões da Fundação Saúde do Rio de Janeiro, com os pagamentos sendo mantidos mesmo após ter tomado conhecimento dos exames errados.

É necessário que as investigações sejam feitas com o maior rigor possível, para que os responsáveis sejam punidos exemplarmente. É abjeto saber que, para obter vantagem pecuniária, a falta de escrúpulos chegue a tais extremos de desconsideração com a vida humana, além de atingir um sistema que salva milhares de brasileiros a cada ano, oferecendo-lhes nova chance de viver. Esse caso não pode ser mais um a cair no esquecimento. É preciso que as autoridades investiguem até o fim, expondo que tipo de arranjo permitiu esses graves desvios.

Além disso, é preciso fazer uma revisão cuidadosa na administração de muitos hospitais, hoje nas mãos de Organizações Sociais de Saúde (OSS), teoricamente sem fins lucrativos. Elas são contratadas para gerenciar unidades de saúde, em uma espécie de "terceirização" do serviço público. Não se trata de condenar de plano todas essas entidades, mas é de se registrar que reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostra que o PCS Lab Saleme, por meio de uma OSS, administrava unidades de saúde em Nova Iguaçu (RJ).

É preciso fazer o máximo para proteger o SUS de investidas que visem desqualificá-lo. O sistema é responsável por 88% dos transplantes realizados no País e, diferentemente de qualquer similar — mesmo os vigentes nos Estados Unidos e países da Europa —, é disponibilizado sem nenhum custo aos pacientes. A saúde pública é um bem inalienável dos brasileiros, que deve ser preservada. n

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