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Mudanças climáticas no Ceará
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Editorial opinião

Mudanças climáticas no Ceará

A temperatura média do ar no Ceará, em 1961, era de 26,4°C. Em agosto deste ano, ela era de 27,3°C. A variação máxima nesses 63 anos mostra um "termômetro" até 1,8°C mais quente na atualidade, com incremento de cerca de 0,3°C a cada década. É uma constante de aumento.

Os dados, revelados com exclusividade pelo O POVO, são da pesquisa Análise de Tendência da Temperatura do Ar no estado do Ceará, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). São índices que ajudam a ilustrar um cenário de alarme para a sociedade, em que o mundo avança em um padrão constante de novos recordes de calor.

A perspectiva distanciada, com a análise de grandes períodos de tempo, ajuda a pôr em perspectiva o complexo cenário de mudanças climáticas. Uma das questões esmiuçadas são as chamadas ondas de calor, eventos climáticos caracterizados por temperaturas extremas, com temperaturas de três a quatro graus acima da média. Só em outubro do ano passado, foram 16 picos de 40ºC ou mais no Ceará, um platô de temperatura que raramente era atingido em décadas passadas.

Os efeitos de uma temperatura média mais elevada se exprimem no indivíduo e no coletivo. Se o desconforto térmico é o resultado mais natural, os problemas de saúde são uma realidade que caminha junto. Dentro do contexto de semiárido, há ainda as consequências na agricultura, com perdas de plantações ou períodos mais longos e frequentes de seca.

Os especialistas ouvidos pelo O POVO citam ainda a degradação do solo proveniente do aumento da temperatura do ar. A tendência é que os danos se tornem mais sérios, mais frequentes e menos reversíveis. Essa cadeia engloba o agricultor, que não consegue manter seus meios de subsistência, e o consumidor, que vê um aumento na escassez da oferta de produtos, algo cuja consequência é o incremento no preço dos alimentos. Há ainda maior risco de incêndios florestais.

No centro deste lento aquecimento do Ceará — microcosmo de um cenário de degradação ambiental global — está a emissão de gases associados ao efeito estufa. Em suma, está a ação antrópica: desmatamentos, queimadas e urbanização desenfreada. O cientista do clima e professor do MPClimatologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Alexandre Costa, destaca ainda os riscos da queima de combustíveis fósseis, em termelétricas ou no transporte.

O estudo pioneiro da Funceme traz dados para ilustrar a calamidade climática global. Dentro da já complexa realidade climática do semiárido, os riscos ganham maiores nuances e as respostas se tornam mais urgentes.

A discussão sobre o impacto ambiental da modernização da sociedade deixou há tempos de ser apenas urgente. Vai muito além do alarmismo. É uma necessidade para a sobrevivência de toda a flora e fauna. O aquecimento da temperatura do ar no Ceará é um exemplo, entre milhares, de que o planeta Terra está pedindo ajuda. n

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