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Editorial: Venezuela cria inimigos para desviar atenção
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Editorial: Venezuela cria inimigos para desviar atenção

Em busca de uma legitimidade que não tem, o presidente venezuelano tenta, grosseiramente, criar um inimigo externo para desviar a atenção dos inúmeros problemas econômicos e sociais causados pelo próprio governo notadamente antidemocrático

A diplomacia brasileira esteve na última semana diante de uma crise que já há algum tempo tem se desenhado no horizonte. A Polícia Nacional Bolivariana da Venezuela publicou nas redes sociais uma foto com a bandeira do Brasil ao fundo e a silhueta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva junto com a mensagem: "Quem mexe com a Venezuela se dá mal".

A postagem desnecessária e infantil - que posteriormente foi apagada - ocorreu um dia após a Venezuela convocar para consultas o embaixador do país em Brasília e o encarregado de negócios da embaixada brasileira em Caracas para prestar esclarecimentos.

O gesto foi uma reprimenda ao Brasil pelas declarações do assessor especial da Presidência Celso Amorim, que citara na véspera um "mal-estar" atual entre os governos de Lula e Maduro. De maneira assertiva, o Itamaraty reagiu às provocações da Venezuela tratando-as como desrespeitosos "ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos".

Os desacertos entre os dois governos se intensificaram ao longo do último ano. Em 2023, Lula chegou a articular uma reinserção da Venezuela a nível regional. O Brasil mediou os Acordos de Barbados, nos quais o governo de Caracas se comprometeu a promover um processo eleitoral limpo e transparente neste ano, o que não foi cumprido.

Por não reconhecer o contestável triunfo chavista nas urnas e por acertadamente trabalhar para que ele não fosse premiado com a entrada da Venezuela como membro associado do Brics, o Brasil passou a ser alvo de Nicolás Maduro. Em busca de uma legitimidade que não tem, o presidente venezuelano tenta, grosseiramente, criar um inimigo externo para desviar a atenção dos inúmeros problemas econômicos e sociais causados pelo próprio governo notadamente antidemocrático.

O Brasil possui uma tradição diplomática reconhecidamente de excelência mundo afora. Historicamente, o Itamaraty é referência por ter em seus quadros diplomatas exercendo uma política externa pautada pelo pragmatismo, guiada pelos interesses do Estado brasileiro e pelo respeito aos demais membros da comunidade internacional.

Brasil e Venezuela compartilham uma grande fronteira, na qual vivem próximos milhares de cidadãos dos dois países. É fundamental que cada Estado trabalhe em prol do diálogo constante e produtivo, cooperando em questões específicas como segurança, migração, vigilância sanitária, energia entre outras.

A despeito do autoritarismo do governo Maduro, o Brasil tem atuado de maneira cautelosa com o intuito de preservar algum nível de diálogo. Por outro lado, a Venezuela, dentro de uma lógica pobre de razão, reage de forma desmedida ao ser contrariada, inviabilizando uma articulação eficiente e criando inimigos externos. n

 

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