Logo O POVO+
Letalidade policial atinge mais as pessoas negras
Foto de Editorial
clique para exibir bio do colunista

O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública

Editorial opinião

Letalidade policial atinge mais as pessoas negras

O caso do menino Ryan da Silva Andrade Santos, de quatro anos, baleado enquanto brincava na calçada próxima à sua casa na cidade de Santos, litoral de São Paulo, é apenas um dos casos mais dramáticos da letalidade policial no Brasil. Ele foi atingido quando brincava na calçada nas proximidades de sua casa, quando houve um confronto entre a Polícia Militar (PM) paulista e suspeitos de praticarem crimes, sendo que o tiro fatal "provavelmente" tenha partido da arma de um policial, segundo o porta-voz da PM.

Foi a segunda vez que a tragédia atingiu a família, em um curto espaço de tempo. O pai de Ryan, Leonel Andrade dos Santos, havia sido morto por policiais em fevereiro deste ano, durante a Operação Verão, na Baixada Santista. Durante os 58 dias de atividades, a operação deixou 56 mortos, incluindo Leonel, que tinha deficiência nas pernas e usava muletas.

No mesmo momento em que se desenrola esse drama, a Rede de Observatórios da Segurança divulgou estudo, nesta quinta-feira, mostrando que 4.025 pessoas foram mortas por policiais em 2023, considerando a soma de nove estados brasileiros. Em 3.169 desses casos foram registrados indicadores de raça e cor. Desse total, 2.782 eram pessoas negras, representando 87,8% das vítimas. Entre os mortos, 243 havia crianças e adolescentes.

O levantamento foi realizado nos seguintes estados brasileiros: Bahia 1.702 mortes (1.321 vítimas negras); Rio de Janeiro, 871 mortes (690 vítimas negras); Pará, 530 mortes (232 vítimas negras); São Paulo, 510 mortes (321 vítimas negras); Ceará, 147 mortes (47 vítimas negras); Pernambuco, 117 mortes (110 vítimas negras); Maranhão, 62 mortes (16 vítimas negras); Amazonas, 59 mortes (25 vítimas negras) e Piauí 27 mortes (20 vítimas negras). Os dados constam do boletim "Pele alvo: mortes que revelam um padrão", que está em sua quinta edição, com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI).

Segundo a cientista social e coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança, Silvia Ramos, em entrevista à Agência Brasil, os números são "escandalosos", e reforçam um problema estrutural do País: o racismo que atravessa diferentes áreas, como educação, saúde, mercado de trabalho, mas que tem sua face mais crítica na segurança pública.

O "padrão" e o racismo estrutural podem ser observados quando se compara o percentual de brasileiros que se declaram pretos e pardos, igual a 55,5% da população (IBGE, 2022), com o percentual de negros mortos pela polícia, em cada estado: Pernambuco (95,7%), Bahia (94,6%), Amazonas (92,6%), Pará (91,7%), Ceará (88,7%), Rio de Janeiro (86,9%), Maranhão (80%), Piauí (74,1%) e São Paulo (66,3%).

O fato é que a polícia brasileira é uma das que mais mata no mundo, mas também está entre as que mais têm policiais mortos em serviço. Por isso, reduzir a letalidade significa também preservar a vida dos policiais. É a partir dessa premissa que o assunto tem de ser abordado. n

Foto do Editorial

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?