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Turismo sem controle
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Editorial opinião

Turismo sem controle

Após a polêmica criada pelo fato de uma empresária reivindicar como propriedade particular cerca de 80% das terras que formam Jericoacoara, a vila volta a ser assunto da imprensa de fora do Ceará. A plataforma de notícias BBC Brasil levantou, a partir de dados oficiais, que o Parque Nacional de Jericoacoara bate recordes de multas ambientais. Em 2022, foram aplicadas 83 multas a turistas e empresas da região; no ano passado, somaram 243. Neste ano, 190 autuações foram registradas até outubro, superando todas as outras unidades de conservação federais brasileiras em número de multas.

A preocupação dos biólogos e geógrafos ouvidos pela BBC é a mesma do professor Paulo Sousa, como se poderá ver abaixo: o possível desaparecimento "das características únicas que definem o parque e o seu entorno, especialmente as dunas, que atraem milhões de visitantes", como descreve a BBC.

Em março do ano passado, O POVO publicou reportagem, a partir de um estudo do professor Paulo Sousa, do Instituto de Ciências do mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar/UCF), mostrando que a Duna do Pôr do Sol vinha reduzindo o seu tamanho devido ao grande fluxo de turístico que ocorre ao entardecer. A formação, um dos principais pontos de visitação em Jeri (como a vila é conhecida), chegou a ter 60 metros de comprimento em meados da década de 1980, restando hoje uma faixa de areia à beira-mar.

As dunas sofrem um processo natural de dispersão, pela ação do vento, podendo mesmo desaparecer. Mas não de forma tão rápida como acontece com a Duna do Pôr do Sol, devido à ação humana. O professor diz que o tráfego intenso de pessoas "acaba gerando uma espécie de avalanche, que é jogada na praia e levada pelo oceano".

Esse é um dos muitos textos publicados por este jornal ao longo do tempo, mostrando como o aumento do turismo, sem os devidos controles, pode ser danoso ao meio ambiente e, a longo prazo, destrutivo, inclusive para os negócios.

Em agosto de 2023 o jornal noticiou protesto dos moradores de Jeri pedindo um "turismo sustentável", como anunciava uma faixa, reivindicando o direito de "voltar a caminhar tranquilamente nas suas ruas e becos livre do trânsito intenso, da poluição visual e sonora que hoje", para recuperar a qualidade de vida, "afetada pelo desordenamento vigente", segundo declaração de Marcelo Laurino, do movimento Unidos por Jeri.

O turismo em Jericoacoara caracteriza-se — ou pelo menos era assim no início — por permitir contato direto com o meio ambiente e com a população nativa. Esses elementos vêm se perdendo à medida que o movimento turístico aumenta de forma descontrolada, trazendo com ele todos os problemas urbanos, dos quais as pessoas pretendem fugir quando escolhem um lugar para descansar e apreciar a natureza. n

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