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A responsabilidade de Bolsonaro
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Editorial opinião

A responsabilidade de Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados usam o argumento de suposta falta de provas para desvincular o ex-mandatário dos atos antidemocráticos que se seguiram à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo esse posicionamento, menos provas ainda haveria para ligá-lo à tentativa de golpe de Estado, cujo ápice foi a invasão e a depredação das sedes do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF), praticadas por extremistas.

Essa desculpa voltou a ser acionada agora, quando a Polícia Federal (PF) expôs a trama para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Esse planejamento não foi obra de militantes bolsonaristas radicalizados, mas organizou-se dentro do Palácio do Planalto, quando o ex-presidente estava nos últimos dias de seu governo. Foram presos como integrantes dessa "organização criminosa", como classificou a Polícia Federal, um agente da PF e quatro militares, entre eles o general da reserva Mário Fernandes, que atuou como número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Bolsonaro.

Para manter essa tese de pé, seus defensores querem fazer crer que cada um dos episódios de violência não tinham ligação com os demais. Como se surgissem por geração espontânea, sem relação com o contexto no qual estavam inseridos.

Com a eleição de Lula, esses atos "isolados" tornam-se mais violentos. Em 12 de dezembro de 2022 um grupo extremista pôs fogo em carros e ônibus e tentou invadir a sede da Polícia Federal, em Brasília, depois da prisão de um bolsonarista. Logo após, em 24 de dezembro, a polícia desativou uma bomba — preparada por bolsonaristas radicalizados — pronta para explodir em um caminhão carregado de combustível, nas proximidades do aeroporto de Brasília.

Nesse cenário de violência estavam inseridos os acampamentos golpistas, montados ao lado de unidades militares em todo o Brasil. O maior e mais importante deles, fincado no entorno do Quartel General do Exército, em Brasília, habitado por bolsonaristas civis e fardados. Dali saiu a passeata com o intento, frustrado, de consumar um golpe no 8 de janeiro de 2023.

Este mês, em mais um "ato isolado", um homem explodiu duas bombas ao tentar invadir a sede do STF. O autor do atentado morreu na explosão.

Agora, junta-se ao argumento de desconexão entre esses eventos de violência, a justificativa de que "pensar" em matar alguém não é crime, como declarou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). O problema é que o grupo não apenas pensou, como também planejou os crimes, com o agravamento de que se tratava de consumar um golpe contra as instituições democráticas.

Assim, fica difícil acreditar que Bolsonaro nada sabia do que acontecia no palácio presidencial, portanto, da responsabilidade política ele não tem como fugir. Agora, cabe à PF chegar a provas materiais que possam comprovar se houve atuação direta do ex-presidente nessa urdidura criminosa. n

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