O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
O que O POVO pensa sobre os principais assuntos da agenda pública
A forma como o nosso vizinho Uruguai consolidou seu processo eleitoral, no último domingo, nos serve de exemplo importante de uma democracia saudável. A vitória do oposicionista Yamaundú Orsi, de esquerda, está sendo absorvida sem qualquer trauma pelo atual presidente, o conservador de direita Luis Lacalle Pou, que apresentara como candidato para sucedê-lo o correligionário Álvaro Delgado. Encaminha-se para uma passagem tranquila de poder, considerados os primeiros movimentos.
O próprio discurso do vencedor Orsi merece elogios no sentido de uma normalidade institucional, porque sinaliza para a importância de considerar também a pauta dos derrotados, o candidato e quem votou nele. O compromisso que assumiu de olhar para esse lado é fundamento de uma democracia que funcione. O fato de uma ideia ter sido derrotada pelo voto da maioria, numa disputa eleitoral, não determina que ela deva ser esquecida, ainda mais, como é o caso, numa situação em que a população se divide quase ao meio entre as opções apresentadas. Os números finais apontam, nos votos totais, 49% para Yamandú Orsi contra 45% do adversário Álvaro Delgado.
O cenário uruguaio nos serve de reflexão importante diante do momento grave que enfrentamos no Brasil desde o final de 2022, quando concluímos nosso último processo de sucessão presidencial elegendo Luiz Inácio da Lula da Silva para suceder Jair Bolsonaro, a quem derrotou na urnas. A verdade é que desde então o nosso cenário político e institucional entrou em crise diante da opção de setores do governo anterior por questionar o processo eleitoral, liderando uma resistência popular falsamente alimentada por mentiras e manipulações, enfim, fez-se um caminho que difere frontalmente do que estão fazendo agora as lideranças uruguaias.
A mudança política no vizinho país fortalece a posição brasileira de defesa do Mercosul, bloco comercial que tinha em Lacalle Pou uma visão muito crítica e alguns gestos concretos de contestação. Mesmo que, deve-se reforçar, tudo sempre tenha acontecido num ambiente de respeito e sem arroubos da parte do governo uruguaio, que agia de acordo com o que entendia ser direito legítimo do pais que representava. O esperado é que Yamandú Orsi recoloque as coisas no plano anterior e realinhe a política em relação à forma como se pensava antes acerca do tema.
De qualquer forma, é sempre importante ver um país aqui próximo, com realidade muito semelhante à nossa, consolidar de maneira exitosa e sob um ambiente de tranquilidade um processo eleitoral que leva à escolha do presidente da República. Talvez devamos olhar o que acontece hoje em Montevidéu como forma de voltar a entender como possível uma passagem de poder, especialmente quando forças de oposição saem vencedoras. Assim é como deve ser. n
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