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Maduro toma posse em ambiente tenso
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Editorial opinião

Maduro toma posse em ambiente tenso

Está certo o governo brasileiro ao buscar equilíbrio em relação à Venezuela. Não interessa ao Brasil trazer para a região o ambiente bélico que hoje domina o mundo

Nicolás Maduro toma posse hoje como presidente da Venezuela pelo terceiro mandato consecutivo, sob intenso questionamento internacional.

A tensão aumentou ainda mais ontem, depois que a líder oposicionista, María Corina Machado, foi “interceptada violentamente” segundo seus aliados, e presa por agentes do regime de Maduro, que teriam disparado contra as motocicletas nas quais ela era transportada, quando saia de uma manifestação contra o governo.

Estados Unidos, União Europeia e pelo menos dez países da América Latina contestam o resultado da eleição, rejeitando a decisão da Justiça venezuelana em declarar Maduro vencedor do pleito realizado em julho do ano passado.

A situação diz ter ganhado as eleições, apresentando cópias das atas que atestariam sua vitória nas urnas. Com esse argumento, Edmundo González, que disputou a presidência em nome da oposição, disse que estará hoje na Venezuela para tomar posse.

Da Argentina, onde se encontra, González disse que iria à Venezuela “simplesmente para tomar posse” do mandato que os venezuelanos lhe teriam dado, “com sete milhões de votos”. Porém, existe uma ordem de prisão contra González, emitida pela Justiça, a pedido do Ministério Público da Venezuela. Portanto, caso entre no país, corre o risco de ser preso, como aconteceu com Corina.

De fato, as eleições na Venezuela não atenderam padrões mínimos para ser considerada uma disputa equilibrada. O governo venezuelano promoveu a cassação de direitos políticos, perseguiu e prendeu opositores que pudessem desafiá-lo, como denunciaram organizações da sociedade civil e líderes internacionais, inclusive de esquerda. Houve claro descumprimento do Acordo de Barbados, provocando desconforto no palácio do planalto, pois o Brasil era fiador dessa negociação.

O Centro Carter, uma das organizações mais respeitadas de observação eleitoral, anotou em seu relatório que a eleição presidencial na Venezuela “não atendeu aos padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”. Na sequência, atestou a vitória de González, que teria obtido 60% dos votos.

O Brasil não reconheceu ainda a lisura das eleições, dizendo esperar as atas das sessões eleitorais, que nunca se tornaram públicas. Mas, da parte do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda não houve rompimento formal com o país vizinho, resultado da prudência com que a diplomacia brasileira trata o assunto.

O temor é que, caso se fechem todos os canais de diálogo com Maduro, o quadro se torne ainda mais dificultoso para a busca de uma saída negociada para a crise, que viesse a contemplar as partes em disputa.

É correta a postura do governo brasileiro ao assumir uma posição de equilíbrio, sem deixar de criticar o autoritarismo no país vizinho, e mantendo distância regulamentar de Nicolás Maduro. Mas não interessa ao Brasil transplantar para a região o ambiente bélico que hoje domina o mundo.

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